domingo, 21 de março de 2021

BICHANO





BICHANO

a Frederico Klumb


O jaguar não torna supérflua a suçuarana
que não torna supérflua a jaguatirica
que não torna supérfluo o jaguarundi
que não torna supérfluo o maracajá.

Outra opinião a respeito 
têm com certeza têm
as antas e capivaras,
os veados e cutias,
todas as queixadas
do mundo-mundo.

Nem qualquer um deles torna 
dispensável ou prescindível
esse bichano doméstico
aninhado no seu colo,

como se dentre suas pernas
fosse dar um bote algo vivo,
algo feroz, algo volitivo.

Nos desenhos animados
da infância aprendemos
que o cão é a razão de 
ser do gato que é 
a razão de ser 
do rato.

Alimentar é o nome dessa cadeia. 
Social é o nome dessa pirâmide.

Aquele amor de 2019 não tornou supérfluo 
aquele amor de 2012 não tornou supérfluo 
aquele amor de 2007 não tornou supérfluo 
aquele amor do ano 2000.

Não me diga não que a suçuarana 
é o puma, o cougar, a onça-parda.
Deixemos esquecidos os amores 
de outro milênio, as suçuaranas,
sua predação, suas queixadas.

Caminhe até mim e arreganhe
suas garras e mandíbulas,
sua boca e sua língua,
sua úvula e garganta,
esôfago e buchada.

Um peixe enorme
já serviu de hotel
a um profeta, que 
um gato grande
seja a quitinete
de um poeta.

*

Berlim, 15/16 de março de 2021.

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