sábado, 31 de janeiro de 2009

Poema de bpNichol

Gosto bastante do trabalho do canadense bpNichol (1944 - 1988). É interessante como ele parece assumir, entre os canadenses, a mesma posição mítica que Paulo Leminski (1944 - 1989) por vezes assume entre os brasileiros. Há paralelos, não apenas na morte.

Publiquei esta tradução em uma postagem que preparei sobre o poeta para a Modo de Usar & Co.

Poema do segundo livro de The Martyrology


santo do sem-nome
santo de ósculos

teus lábios estão sobre mim
dentágil & gargolhada

vozes terminais na sala-de-estar
enfermo de cama na tristeza
saí porta afora aquela última vez & disse

esvaí-me em sangue por palavras pela boca

adiante:

tenta escrever o poema em que respiro


(tradução de Ricardo Domeneck)


§§§


saint of no-names
saint of kisses

your lips are on me
sharp-tooth & giggle-eye

final voices in the living room
sick in bed with grief
walked out the door that last time & told you

bled my mouth dry for words

later:

try to write the poem i breathe in

(from Martyrology 2)

§§§

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Canção assustadora - e linda; por ser linda, mais e mais assustadora. Como conciliar isto e isso?


A canção (ou poema lírico) "John Wayne Gacy Jr" é uma das faixas mais belas do lindíssimo álbum Illinois (2005), de Sufjan Stevens, uma das minhas criaturas favoritas no planeta chamado Hoje. O concept album é o segundo do épico (arriscaria dizer quase impossível) de Stevens, que se propôs a escrever um álbum para cada um dos 50 estados americanos. Bem, ele está ainda no segundo. O primeiro chama-se Michigan (2003).


Quem leu minha Carta aos anfíbios sabe que eu não escapo de poetas que trabalham com textos cheios de implicações religiosas, uma característica que incomoda, aqui na Europa, mesmo os fãs mais ardorosos de Sufjan Stevens. O álbum dedicado ao estado de Illinois, onde fica a cidade de Chicago, faz referência a muitas das lendas que passaram pela cidade, cheio de imagens bíblicas. Invocando o poeta Carl Sandburg, "Chicago" é, aliás, um dos lindos poemas do álbum, que tem textos dedicados a várias criaturas e paisagens daquele canto do sonho&pesadelo estadunidense.


Uma das criaturas é o senhor John Wayne Gacy Jr., o serial killer que matava moços lindos e os enterrava dentro de sua casa, escondendo os corpos sob o assoalho. Nas horas vagas, ele se vestia de palhaço e animava festas de aniversário de crianças. 


O texto, na voz de Stevens, faz desta canção uma coisa arrepiante, assustadora. O vídeo, quando se conhece a história de Gacy, torna a experiência ainda mais perturbadora.

Ao mesmo tempo, a canção me parece linda, linda. Como conciliar o horror... o HORROR... o HOR---ROR (Kurtz de Conrad, Kurtz de Brando) e ... a... be... le... za?


Todos os passageiros, apertem os cintos. Próxima parada: coração das trevas. Apreciem a paisagem.


§

Moços e moças, tomem cuidado.
Não aceitem doces ou foices de estranhos.

§

Mostro abaixo o texto (a letra?) para acompanhar a canção. 
Pede-se aos literatos que ponham luvas nos olhos.



John Wayne Gacy Jr.
Sufjan Stevens

His father was a drinker
And his mother cried in bed
Folding John Wayne's T-shirts
When the swingset hit his head
The neighbors they adored him
For his humor and his conversation
Look underneath the house there
Find the few living things
Rotting fast in their sleep of the dead
Twenty-seven people, even more
They were boys with their cars, summer jobs
Oh my God

Are you one of them?

He dressed up like a clown for them
With his face paint white and red
And on his best behavior
In a dark room on the bed he kissed them all
He'd kill ten thousand people
With a sleight of his hand
Running far, running fast to the dead
He took off all their clothes for them
He put a cloth on their lips
Quiet hands, quiet kiss
On the mouth

And in my best behavior
I am really just like him
Look beneath the floorboards
For the secrets I have hid

§


John Wayne Gacy Jr. (1942-1994), assassino em série americano, conhecido como o "palhaço assassino". Em 1978, a polícia de Chicago fez uma busca na casa n° 8213 da West Summerdale Avenue, interrogando seu morador, John Wayne Gacy, palhaço amador muito querido pelas crianças da cidade e que dificilmente cometeria algum crime. Ledo engano. Antes de deixarem o local um dos policiais estranhou um cheiro desagradável na casa; "É só um entupimento nos canos de esgoto", explicou Gacy. Mas os policiais decidiram investigar mesmo assim. No porão, sob um alçapão oculto, foram encontrados os restos de vinte e nove garotos entre nove e vinte e sete anos, com sinais de tortura, violências sexuais e estrangulamento.


John Wayne Gacy Jr., nascido em Chicago em 1942, também teve uma infância meio traumática: era espancado e chamado de "bichinha" pelo pai alcoólatra, sofreu um traumatismo craniano aos 15 anos, e em 1968 foi preso por estar praticando atos sexuais com um jovem no banheiro de um bar. Gacy começou a matar em 1972, e suas vítimas eram todos homens. Os rapazes recebiam propostas de emprego, iam até a casa de Gacy, eram embebedados, amarrados numa cadeira e sexualmente violentados.


Em 1988, Gacy foi condenado a 21 prisões perpétuas e 12 penas de morte. Enquanto aguardava no Corredor da Morte do Menard Correctional Center de Illinois, Gacy - apelidado pela imprensa de "Palhaço Assassino" - passava o tempo fazendo desenhos infantis, especialmente de palhaços. Suas ilustrações são consideradas itens de coleção, e alcançam altos preços no mercado.

.
.
.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Poema inuíte/esquimó contra a morte

"Eu assisti aos alvos cães da aurora."

ou/or

"I watched the white dogs of the dawn."

in Technicians of the sacred, antologia de poesia xamânica, edição de Jerome Rothenberg, minha leitura antes de dormir todas as noites pelas últimas semanas. Poema colhido por Knud Rasmussen.

A mim soa mais como um desafio/desabafo: "acordei de novo!"

Aspergir Espargir

Em fastio.

Se é para a saciedade geral da ração quem de todos.

Pontilhado por pausas.

Diga ao povo que durmo.

Está em sítio a cidade em Jericó não se guarda o sétimo dia.

Intercalam feriados os quartos de hora.

Construída a cama com algodão dos aliados ferro dos inimigos.

Bebe a água o sal o corpo doa generoso se lhe obriga a estação.

Boca adentro no tecido do colchão a espuma.

Que apóie o estrado a ilusão da estase.

Provendo ao provisório.

Obrigação da pele impedir que me esparrame entre quatro paredes.

Que o corpo não produza açúcar para o soro fisiológico em suor do sono.

Aninhados nos próprios cabelos aquecidos pelos pelos.

Nunca dizem não.

Bale ao lado o bode expiatório de cada dívida as ovelhas silenciam.

Com um sim apenas cuprimenta-se a manhã não é educada.

Anui o ânus cabe à boca a parcela dos pedaços.

Unhas dedilham o teclado das costelas as amígdalas o canal do Panamá.

Reúnem-se as células sobreviventes na praça central do estômago a rir das mortas.

Antes de migrarem com mala e cura o mal na cuia para a garganta.

O café espera até que o ar da cozinha roube-lhe o calor não a xícara.

"Sempre confiei na bondade dos desconhecidos."

O Vietnã não é aqui.

Colaboração com Joseph Ashworth

Joe e eu decidimos colaborar em uma peça sonora entre 2007 e 2008, à qual eu doaria texto e voz, enquanto ele se encarregaria da paisagem sonora. Disse a ele que havia preparado um texto que gostaria muito de oralizar, chamado "Eustachian Tube in Staccato", que usava o vocabulário retirado do contexto de trocas entre internos e externos, querendo borrar/embaçar/complicar a dicotomia, usando fragmentos de texto em colagem, retirados de artigos sobre respiração, osmose, leis de imigração dos Estados Unidos ou o câmbio de moedas estrangeiras, assim como da bolsa de valores, tentanto criar um clima de erotismo às avessas, desejo que negocia e implora.

Fiquei muito feliz com o que criamos juntos, sua paisagem sonora feita a partir de samples de sua própria respiração, unida ao meu texto, oralizado-em-faltas-de-ar, que busca funcionar, eu espero, com a urgência que sentíamos naquele momento:


Eustachian Tube in Staccato - Ricardo Domeneck


Eustachian Tube in Staccato

.............for Eugen Braeunig

The right of admission
put into a trance
eulogy of me the eunuch
augmenting the auburn
breadth of hair
which severs our bridge
yes auburn means
reddish-brown
so burn me and redeploy
my reduced circumstances
to a brand new reductio
ad absurdum
or ablution at retention
like a deluge deluxe
one long
extended exhale
of force applied
at one point
transmitted to another
in the use
of incompressible
fluids as one master
cylinder can drive more
than one slave
cylinder when desired
if you have read
How a Block & Tackle
Works or How Gears
Work then you know
of trading forces
for distance
so much depends
on clicking the red
arrow to see
the animation
a spool from a spool
of thread:
you want to
use as much
air as you
are able
improper coupling
of asylees refugees aliens
granted conditional entry
victims of a severe
form of trafficking
you ineligible:
lie, sit or stand,
bend
your knees
very slightly or prone
follow your breathing
while trying your best
not to influence it: just
let it
be what
it is
a complete
breast
1 inhale & 1
exhale plus any pause
at the end of the exile
some may
not have paws
resist breathing
even when
discomfort arrives:
do not
do it
so long
that you pass
out time
it in seconds the ribs
flaring outwards
the issue and redemption
of securities barometer
of the economy
I the sole shareholder
of this profitable
enterprise crash
recession
crisis index
solvent solute
across the membrane you
of the House of Turgor
desalinate my hobbies affected
by breathing gasping
breach and heave
labored jerky erratic
and irregular and
tentative and hesitant
! mouthrill of snout
hyperventilating over breathing
easily audible
I sigh you yawn
often often
catch myself
not breathing I
snore suddenly
wake up
not breathing I
am frequently concerned
about my breathing I
am none of the above
exchange of gases
among us
four-legged
animals the system
supplies flood
to the chest cavity
so may the 3 mewing
muses
inspire & transpire
for me as my misuse
oh Pharynx oh Larynx oh Trachea
wont he the holder
of my voicebox
through glottis & alveoli
lead me rollercoasterly
to my very own
shaken baby syndrome?

Trabalho solo de Joseph Ashworth

Mostrei duas das delicadas peças sonoras de Joseph Ashworth, de seu projeto "solo", uma chamada "Don´t take this too seriously" e a outra "Kid F", em minha Hilda Magazine.



§

Outras peças sonoras de Joseph Ashworth AAQQUUII.

Joe And Will Ask?

Joe and Will ask? @ berlin hilton / NBI on October 3rd, 2007.



§§§

"Hell Hawk", video for JOE AND WILL ASK? song -



§§§

"Warm it up", video for JOE AND WILL ASK? song -



§§§

Interview with Joseph Ashworth and William Green
::::::::JOE AND WILL ASK?:::::::::::::::
conducted by Eugen Braeunig & Ricardo Domeneck
in Berlin:

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Orgulho dos amigos: Joseph Ashworth

Conheci primeiro a William Green, em 2006, quando discotequei em Londres pela primeira vez. Quem o apresentou a mim, em uma festa de Erol Alkan, foi nosso amigo em comum, Jonjo-Jury Andrews, também DJ, que me contou que William (ou Will, como todos dizem) tinha um projeto musical muito legal com seu amigo Joseph Ashworth (ou Joe), chamado JOE AND WILL ASK?.

Viria a conhecer Joseph apenas no ano seguinte, quando os convidei para se apresentarem como Joe and Will ask? em nosso evento-interventor semanal, a berlin hilton, our own private Cabaret Voltaire. Will é um daqueles típicos dandies londrinos, do tipo que ama aquela Londres que sempre me pareceu um circo. (Não sou um grande fã da capital inglesa.) Joe, no entanto, é uma das criaturas mais delicadas e tímidas que já conheci. Sempre me surpreendo ao imaginá-lo em um projeto como o que tem com Will.

Estou muito feliz por eles: foi lançado hoje o seu primeiro EP, chamado "Claymore", com um dos selos musicais mais hypados da Europa nos últimos anos, o francês Kitsuné Music.



§

domingo, 25 de janeiro de 2009

o Buuuda e a Booomba

Uma noite antes de rever Dr. Strangelove or How I Learned To Stop Worrying and Love the Bomb (1964), de Stanley Kubrick, eu vira pela primeira vez o filme de estréia de Hana Makhmalbaf, a filha mais de nova de Mohsen Makhmalbaf, chamado Buda as sharm foru rikht (2007), ou "Buddah Collapsed Out Of Shame", seu título em inglês, rodado quando Hana Makhmalbaf tinha 19 anos. Por trás do título grandiloquente, está um dos filmes mais inteligentes que vi nos últimos tempos.

Com roteiro de sua mãe, Marzieh Makhmalbaf, o filme é extremamente delicado e ao mesmo tempo assustador, mostrando a pequena história de uma menina de 6 anos que decide ir à escola, contra a vontade de sua mãe, porque seu vizinho da mesma idade ri dela por ela não saber ler. O filme segue a menina enquanto esta tenta, primeiro conseguir dinheiro para comprar um caderno, e depois encontrar uma escola onde meninas possam estudar, já que o ensino para homens e mulheres no país são separados. Este é apenas o pano-de-fundo para Makhmalbaf expor a situação da população local a partir da vida de suas crianças.

Foi rodado na província de Bamian, no Afeganistão, onde em 2001 o Talibã explodiu uma estátua milenar do Buda, esculpida na rocha, na encosta de uma montanha. Hana Makhmalbaf usa este acontecimento para criar um filme muito, muito inteligente, em minha opinião. Com a exceção de poucos momentos em que senti um uso melodramático da trilha sonora, o filme pareceu-me uma estréia realmente impressionante.

Há uma seqüência bastante perturbadora no filme, quando Bakhtay, a pequena heroína do filme (interpretada pela minúscula Nikbakht Noruz, que tinha menos de 6 anos à época), é "capturada" por um grupo de meninos, que passa o dia à beira de uma estrada, "brincando de Talibã", capturando meninas e as humilhando. Eles "acusam" Bakhtay de ser uma "mulher ímpia", por encontrarem um batom com ela (sem dinheiro para comprar lápis, ela rouba o batom da mãe para escrever na escola) e decidem "apedrejá-la", sem sabermos, como expectadores, quão longe eles estão dispostos a ir em sua brincadeira. Esta seqüência me pareceu verdadeiramente memorável, muito inteligente em sua exposição e crítica, mostrando a humilhação das meninas de forma nua, crua, sem precisar discursar em feminismos: a cena diz, faz tudo.



Assistir Buda as sharm foru rikht e, na noite seguinte, Dr. Strangelove or How I Learned To Stop Worrying and Love the Bomb, foi uma experiência muito interessante. Em Dr. Strangelove, temos Kubrick tratando da guerra em veia cômica, com adultos comportando-se como crianças, tratando da guerra nuclear como se esta fosse um jogo de tabuleiro; penso aqui na cena hilária em que o general americano e o embaixador russo começam uma briga, e o presidente americano ralha com eles naquela que é uma das gags mais engraçadas do cinema, com a deliciosa "Gentlemen, you can´t fight in here, this is the War Room!":



Em Buddah Collapsed... temos o contrário, em cenas perturbadoras em que crianças imitando adultos e brincando de guerra, mostram-se capazes de uma crueldade que na maior parte dos casos apenas imita a dos adultos em seu redor:



Se eu encontrasse Hana Makhmalbaf, eu gostaria de poder dizer a ela, em português mesmo: "Moça, você fez um filme muito inteligente e bonito."

§

Entrevista com a jovem diretora no Festival de Cinema de Berlim:

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Para começar a noite antes de começar a noite

Sendo que é, eu vos digo, sexta-feira, noite semanosa em que eu, criaturérrimo, sinto-me um bocado em bocarras propenso à dissipação e, ora, não vos assusteis se a elegi como dia-noite oficial para tais esportes, não, não é exatamente aquático esse polo, moço, e que melhor maneira de abandonar aqueles dilemas que tanto ocupam vossa cabeçoila por algumas parquíssimas horitas, vamos, diga sem refrigério em vossa tummy-box barrigulosa, se já fizestes o curso de Corso, hein, "bumpy club of One Million B.C.", pois sim, isto é aquilo e certo dramático Drummond já vos incitou a compreender a boooooomba, hã-hã, o carecoso anti-bélico que brincou de defini-la em termométricos termos, leia cá que ela "amanhã promete ser melhorzinha mas esquece", eu quero estragar-me o cesto de todas as sextas, mamãe sempre dizia que apocalipse pouco é bobagem, ay que guay Senhora Booooomba, és a inimiga de todos os hedonismos.

Com o moço, programa da noite antes de começar a noite:

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Bas Jan Ader, figuras e o oceano



Descobri o trabalho de Bas Jan Ader em 2004. Havia acabado de fechar a coletânea que viria a ser publicada como Carta aos anfíbios, no ano seguinte, e havia composto apenas dois fragmentos de um trabalho que ainda não sabia que viria a ser o poema-em-série "Dedicatória dos joelhos", que abre meu segundo livro, a cadela sem Logos.

Num mesmo dia, creio que em março de 2004, leria numa livraria da Avenida Paulista a carta de Emily Dickinson na qual, após relatar pormenores cotidianos a uma sobrinha, ela a fecha com o seguinte pedido de desculpas: "Forgive me the personality."; e leria em um livro de arte contemporânea sobre o artista holandês Ban Jan Ader (1942 - 1975), que desaparecera no Oceano Atlântico durante a tentativa de atravessá-lo como parte de sua performance intitulada "In Search of the Miraculous."

Esse uso (modo de usar) da palavra personality, nesse contexto ("O significado de uma palavra é seu uso na língua", escreveu Wittgenstein nas Philosophische Untersuchungen), e o desaparecimento de Ader em pleno oceano durante uma performance com aquele nome ("em busca do miraculoso"!!!), tornar-se-iam duas das muitas figuras estruturais a guiarem a composição de todo o poema-em-série (figura como conceito da teologia cristã, FIGURA, em que um acontecimento histórico liga-se a outro acontecimento histórico, prefigurando-o, dois fatos distintos e temporalmente segregados prevendo um último acontecimento que revelaria seus significados).

falar hoje exige
elidir a própria
voz as transações
inventivas entre
interno e externo
demandam
que a base venha
à tona e a
superfície seja
da profundidade da
história ímpeto
denotando o
centrífugo
o corpo público
que exibo como
palco fruto
da ansiedade
do remetente
o interno ao longo
da epiderme
como emily
dickinson terminando
uma carta de minúcias
com "forgive
me the personality"


(a cadela sem Logos, SP: Cosac Naify, 2007)


Para mim, obcecado com a questão da historicidade do processo poético, lendo naquele momento a Mircea Eliade, Ernst Cassirer e Sören Kierkegaard, o conceito de figura parecia-me uma maneira de salvaguardar o poético, em que o metafórico, em proeminência nos últimos séculos, já não funcionava efetivamente pelo questionamento das representações miméticas e das transcendências na linguagem, por que passava a cultura no mundo ocidental. Como disse em um conversa com Carlito Azevedo em 2004: "Essa crença na Simpatia do Todo, na ligação cósmica entre as coisas, é o arcabouço cultural que gerou e fundamentou a metáfora ao longo dos séculos. O corpo entra não como personagem, mas como veículo da minha insistência na tentativa de quebrar o logocentrismo da poesia brasileira principal, além da rejeição de qualquer forma de transcendência que implique sublimação. Waldrop recarregada: `I love getting the body into my writing, especially to subvert ideas like pure thought.' E uma espécie de cristianismo inescapável (como minha contingência cultural) elevado a método. A descoberta da noção de FIGURA, em que um acontecimento histórico liga-se a outro acontecimento histórico, prefigurando-o, dois fatos distintos e temporalmente segregados prevendo um último acontecimento (a parúsia?) que revelaria seus significados, além da noção de intervenção do sagrado no profano (o verbo feito carne, a história feita mito), foram uma influência fundamental no desenvolvimento do livro."

Bas Jan Ader inCORPOrava tais questionamentos em sua obra, baseada no corporal e ao mesmo tempo no mítico, com suas "quedas" e "travessias":





Há outro aspecto da obra de Bas Jan Ader que, naquele momento, parecia-me pessoalmente muito importante e chamava a minha atenção: como eu estava decidido a questionar a noção de "objetividade" na poesia-crítica brasileira que, em minha opinião, mascarava uma poética extremamente "monolítico-subjetiva", mas inconsciente de suas próprias constrições ideológicas e condicionamentos individuais, o uso de Bas Jan Ader de seu próprio corpo e biografia, num aparente "narcisismo" (já fui admoestado em textos críticos sobre meu trabalho ou em diálogos com amigos sobre um possível "subjetivismo narcisista" em minha poesia, por usar meu próprio corpo em meus vídeos ou "autobiografia" em meus textos) mostrava o que para mim era e é uma est-É-tica que exige o uso apenas daquilo que o próprio corpo do artista ou poeta pode produzir e prover, como vejo também nas obras de Eva Hesse e José Leonilson: uma espécie de biominimalismo.

Na mesma conversa com Carlito Azevedo, eu tentei elaborar a idéia desta maneira: "Objetividade, mas sem a hipocrisia de crer-se e fingir-se neutro, invisível, como se a voz não saísse da minha garganta, como se eu próprio pudesse ouvi-la pura, como se ela não ressoasse dentro da minha caixa craniana e condicionasse minha audição. O problema da maioria dos poetas obcecados com esta idéia equivocada de "objetivo" começa no fato de que esta objetivação requer, em sua base, a sobrevivência das dicotomias interno/externo, sujeito/objeto, e sua concentração no que crêem ser o "mundo externo" (daí a avalanche de poemas descritivos) depende de uma espécie de unidade de percepção que acaba sendo centrada num sujeito monolítico, que eles desonestamente camuflam."


(Bas Jan Ader, "I am too sad to tell you", 1971)

Em 1975, Bas Jan Ader decide encerrar seu trabalho conhecido como "In Search of the Miraculous" com a travessia ritual do Oceano Atlântico no menor barco que até então intentara tal viagem. O artista desapareceu em alto mar... seu barco foi encontrado na costa da Irlanda. Seu corpo jamais foi encontrado. Vale lembrar que nos escritos de Eliade e Cassirer, a "água" e o "oceano" sempre aparecem como símbolos do caos original, de onde tudo nasce... daí, por exemplo, a prática cristã do batismo como morte e renascimento.

Naquele momento de descoberta de sua história, eu já questionava a possibilidade de seguir trabalhando com imagens e metáforas na poesia, e decidira guiar minha escrita pela metonímia e sinédoque, por acreditar que estas eram mais flexíveis e adaptáveis à mentalidade de cada leitor, enquanto a metáfora, de certa forma, pressupõe o "transcendente", que está em descrédito no contemporâneo. Diante deste desaparecimento in search of the miraculous, que metáfora trans-histórica poderia competir com tal figura histórica? É inevitável ou mesmo real esta competição?


difícil convencer todas
as partes do meu corpo
do sentido
de uma ação e
assim pôr em
movimento as roldanas
da corpulência em
direção ao
abstrato cruzar
o oceano tantas
vezes umedece
os propósitos faz
querer uma cama
no fundo
não não
é irônico
que bas jan ader in search
of the miraculous afunde
desapareça em meio
oceano


(a cadela sem Logos, SP: Cosac Naify, 2007)


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Rae Armantrout na Modo de Usar & Co.

Acabo de publicar duas traduções minhas para poemas de Rae Armantrout (n. 1947) na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., com um vídeo de uma leitura de Armantrout e o arquivo de som de sua oralização para o poema "The fit", um dos textos que traduzi.

É a terceira postagem que preparo com poemas de um autor ligado à comunidade de poetas em torno da revista L=A=N=G=U=A=G=E, sendo que os outros dois autores eram também mulheres: Rosmarie Waldrop e Lyn Hejinian.

Muitos dos meus questionamentos em torno da noção de gênero: tanto GENDER como GENRE, poderiam ser explicitados a partir de poetas ligados a esta comunidade americana de autores, os language poets, que gosto de traduzir como poetas-linguistas.

Parece-me fascinante a maneira como os poetas masculinos, brancos e heterossexuais entre eles, apesar de toda a sua consciência contextual das constrições ideológicas de cada Weltanschauung pessoal, ainda caem em armadilhas discursivas sobre a possibilidade de obliteração do ego na escrita. Esta armadilha discursiva tem sido herdada por outros poetas heterossexuais brancos masculinos mais jovens, ligados aos conceitualistas (como Kenneth Goldsmith) e aos flarfistas (como K. Silem Mohammad).

Mulheres como Lyn Hejinian, Rosmarie Waldrop, Harryette Mullen, Carla Harrymann, Susan Howe e Rae Armantrout têm muito mais sucesso na empreitada de EXPOR o IMPOSTO, eu diria, questionando a relação entre GENDER e GENRE em seus textos carregados de autobiografia, a partir do próprio estereótipo da autobiografia como gênero feminino. Penso aqui em trabalhos como My Life e Happily, de Hejinian; My Emily Dickinson, de Howe; ou The Hanky of Pippin's Daughter e Lawn of the Excluded Middle, de Waldrop. Entre nós, Clarice Lispector e Hilda Hilst foram as escritoras mais politicamente conscientes para a vigência destes estereótipos. Hoje em dia, eu pensaria em Márcia Denser.

Enquanto homens brancos e heterossexuais seguem caindo na tentação alephiana de querer abarcar o mundo em seus épicos (Pound e seus Cantos; Williams e seu Paterson; Olson e seus Maximus Poems; Silliman com seu Alphabet e agora Universe), as mulheres entregam-se à abrangência contextual honesta de quem expõe a possível falácia de tal tentação. Há, obviamente, exceções, como a poesia masculina de Creeley, sempre mínima, e a feminina de Rachel Blau DuPlessis, com seu projeto épico Drafts (ainda que DuPlessis tenha composto sua tese de mestrado com o interessante título: The Endless Poem: "Paterson" of William Carlos Williams and "The Pisan Cantos" of Ezra Pound).

Antes que algum rapaz branco heterossexual (são os que geralmente se irritam com estas minhas preocupações) decida me acusar de querer destruir os parâmetros de qualidade estética com questões extra-literárias, ou de querer invadir o precioso cânone com escritores ruins apenas por serem mulheres ou homossexuais ou negros ou de qualquer outra "minoria", imploro que releia com cautela este texto e pense na qualidade dos autores envolvidos: Hilst Waldrop Creeley Hejinian Lispector etc. Ninguém aqui está falando em revisionismo do cânone. Aliás, ninguém aqui está preocupado com esta Arca de Noé subnutrida, o cânone.

Não quero fazer assertivas, mas perguntas.

Gender, Genre. Fazendo gênero.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Bush, Kate

Há alguns anos eu tinha o hábito de escrever em camisetas. Comprava-as baratas, brancas, apenas para servirem de plataforma para a escrita de alguma intervenção naquela semana, mês. Elas se desintegravam rápido. Em algum momento durante a campanha de George W. Bush para a sua reeleição (que acabou se efetivando), fiz aquela que se tornou uma das minhas favoritas, simplesmente em letras garrafais:

BUSH, KATE

Gostava da idéia de ler a frase como em um imperativo, fazendo de "kate" o verbo em ordem para o senhor Bush. Era a minha intervenção mínima para o momento, carregada à altura do peito, do miocárdio.

Aqui em Berlim, entre as pessoas que conhecem meu trabalho como DJ, meu fascínio pelo trabalho de Kate Bush é notório. Me alcunhei DJ Kate Boss por um motivo. Muitos ouviram algo da criatura pela primeira vez em algum de meus sets obsessivos, que têm como "assinatura", nas palavras de um jornalista alemão, a esquisitice de encontrar uma maneira de encaixar uma canção de Kate Bush nos sets e contextos mais inesperados. Aqueles que conhecem apenas a exquisitely mal-compreendida e brilhante canção "Wuthering Heights", com seu vídeo esquisitíssimo, mostrando uma jovem Kate Bush (ela tinha apenas 19 anos quando lançou o single, tornando-se a primeira mulher a atingir o primeiro lugar de vendas com uma canção que ela mesma havia composto) de olhos esbugalhados e sua voz altíssima, pensa que se trata de mania viada pelo kitsch. Nada mais longe do que penso sobre o trabalho desta mulher. Quase todo músico sério que conheço respeita a música desta criatura. Algumas dos seres que mais me encantam hoje, como Janine Rostron a.k.a. Planningtorock ou Joanna Newsom, seriam impensáveis sem ela.

Sim, seu trabalho é difícil, pois exige olhos e ouvidos abertos e sem pré---conceitos. Ela embaralha qualquer noção de "bom gosto", impede que se aborde seu trabalho com qualquer idéia engessada de qualidade. Suas letras e composições (seus poemas líricos) parecem-me impecáveis, surpreendentes, estranhíssimos.

Seu primeiro álbum de poemas líricos chamou-se The Kick Inside, trazendo a famosíssima "Wuthering Heights" e outras. Seguiram-se dois álbuns com algum sucesso, até que Kate Bush (nascida Catherine Bush, em 1958, em Bexleyheath, Kent, Inglaterra) toma as rédeas de seu destino musical e escreve e arranja sozinha aquele que é um dos grandes artefatos músico-poéticos do início da década de 80: o álbum de poemas líricos The Dreaming, com alguns dos poemas cantados mais estranhos e horripilantes da década. A poeta-performer segue com seus textos obscuros, enraivecidos e seus vídeos beirando a ofensa de todo bom gosto estabelecido, como na peça de abertura do álbum, chamada "Sat in the lap":



O álbum é brilhante, 10 poemas líricos que socam a cara tardo-vitoriana dos bongostistas. A quem se interessar, sugiro a audição dos poemas-líricos (também conhecidos entre a maioria como "canções") "There goes a tenner" e "Suspended in Gaffa", de preferência com seus exquisite vídeos esquisitos. Aqui, sem abusar de vossa goldenfishy attention span, imploro que você ouça o maravilhoso "Get out of my house" (tente ignorar as imagens do filme "The Shining", ainda que reze a lenda que o filme inspirou a música e esta seja tão assustadora quanto aquele):



Mais tarde, em uma entrevista, Kate Bush diria que The Dreaming era o seu "She's gone mad' album", mas os mais atentos perceberam que se tratava de uma obra-prima, com paisagens musicais horripilantes e o uso obsessivo do synthesizer Fairlight CMI. O álbum é um tour-de-force e foi recebido, obviamente, com estupor e as vendas foram parcas.

A resposta de Kate Bush foi aquela que se espera de um artista irritado. Sua resposta me faz imaginar Kate Bush pensando assim: "Vocês querem pop, queridinhos? Eu vos darei pop"... sua resposta foi produzir o brilhante álbum Hounds of love, com algumas das maiores pérolas pop da década de 80, incluindo esta coisa aqui:



A tensão espiritual necessária para fazer com que artistas produzam coisas desta natureza é gigantesca demais para durar sem que o coitado despenque. Dura o quê? 10 anos? O tempo necessário para alguém como Almodóvar nos legar sua trilogia ("Carne tremula", "Todo sobre mi madre" e "Hable con ella") e depois cair no profissionalismo? Ou Lars Von Trier nos doar a sua ("Breaking the waves", "Idioterne" e "Dancer in the dark") e depois fazer panfletos? O tempo em que um poeta produz seus trabalhos assustadores e depois se dedica ao profissional impecável? Reside na célula de onde Hilda Hilst arrancou Qadós e A obscena senhora D.? De onde Clarice Lispector desentranhou A maçã no escuro, A paixão segundo GH e A hora da estrela?

Apenas artistas extremamente corajosos permitem-se a liberdade de viver fora dos gostos estabelecidos, usando o que for necessário, seja melodrama misturado com Platão ou ficção científica com pitadas dantescas, para seus documentos do "sentimento trágico" de que falou Miguel de Unamuno.

Kate Bush entre eles e elas, herdeira das trobairitz Beatriz de Diá, Maria de Ventadorn, Azalais de Porcairagues ou a matriarca Tibors de Sarenom.

Espero um dia, velho em ossos e pelancas, dar alguma entrevista, para que o repórter me pergunte a clichética

"Qual é sua maior influência poética, Sr. Domeneck?"

e eu possa responder com uma gargalhada interna (que, naquela idade, talvez me mate):

"Kate Bush, meu querido, Kate Bush."


sábado, 17 de janeiro de 2009

All about Lily Chou-Chou


O título, a capa, a sinopse prometiam um filme cheio de delicadeza abordando a adolescência e seus processos no Japão moderno, com olhos e ouvidos generosos para o que se esconde de melhor naquelas três letras: P-O-P. Mas All about Lily Chou-Chou (2001), do jovem diretor japonês Shunji Iwai, traz no bojo 2 horas e meia de brutalidade em adolescência num Japão em fragmentos, com olhos arregalados de outras três letras: S-O-S.

Não é a brutalidade implacável de um filme como Eureka (2000), de Shinji Aoyama, com suas 3 horas e meia de desespero e exasperação; mas talvez por haver, sim, certa generosidade em delicadeza na figura da poeta lírica fictícia Lily Chou-Chou, sem a sugestão de uma redenção final pouco provável, como em Eureka, mas a certeza da possibilidade de refúgio no texto e música de alguns poetas.

Você foi bullied quando criança ou adolescente? Quem foi a sua Lily Chou-Chou?

Kate Bush?
Björk?
Chan Marshall?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Não é domingo, Diamanda, e no entanto.

The exceptional Diamanda Galás performing the exquisite lyrical poem "Gloomy Sunday".

Augusto de Campos com voz na Modo de Usar & Co.

A nova postagem da franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. é dedicada ao poeta paulistano Augusto de Campos, a partir de seu trabalho em voz e som. Marília Garcia e eu selecionamos o material e eu escrevi um artigo de apresentação.

AAQQUUII.

Leo Gonçalves lança livro novo e performance


Lançamento do livro WTC BABEL S. A.
dia 19/01 às 19:01h.
Local: Cia. da Farsa
Rua Caetés, 616 - Centro (entre Av. Afonso Pena e Rua São Paulo).
Belo Horizonte

O poeta apresenta ainda a performance
"no fundo todos querem alcançar o céu",
leitura do poema.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Gaza. Os crimes de guerra de autoridades e os crimes de linguagem de escritores.

Como tomar partido, forasteiro, sentado em seu pequeno coliseu imaginário, contemplando uma competição entre catástrofes? Em uma situação como a presente em Gaza, tomar partido é, em minha opinião, um ato de barbarismo, tanto quanto ficar de braços cruzados. Aí reside o verdadeiro dilema político desta situação. Há o momento em que a tomada de partido pulsa no cerne do coração da política. Há também o momento muito mais difícil em que tomar partido não basta, muito pelo contrário. Pois seria fácil dizer "Eu apóio a causa palestina", como quem diz "Eu apóio a causa tibetana" e acredita que catástrofes distintas aceitam e pedem a mesma semântica, a mesma sintaxe.

Poetas deveriam ter maior responsabilidade com sua linguagem, pois se devemos talvez perdoar a um manifestante adolescente, com sua mentalidade política obviamente adolescente, o erro infantil de crer que a queima de bandeiras israelenses pode ajudar o cessar-fogo de ambos os lados do conflito, de poetas oficialmente adultos deveríamos esperar maior sabedoria política. Infelizmente, não é o caso, como podemos ler em certos textos irresponsáveis recentes de poetas e jornalistas paulistanos e cariocas, textos ditados por uma mentalidade política que me parece digna de uma certa personagem conhecida como Chapolim Colorado.

Não se pode fazer política de validade retroativa. O Estado de Israel é uma realidade há mais de 60 anos. Qualquer tentativa de reverter esta decisão hoje (tenha ou não sido errada, preconceituosa e catastrófica) levaria a um derramamento de sangue que faria os conflitos do século XX parecerem brigas entre vizinhos. O Estado de Israel precisa compreender que sua criação, tal como foi feita, só será verdadeiramente legítima quando o Estado Palestino também existir.

Apoiar a matança de palestinos ou a matança de israelenses deve ser condenada. Quem tem direito a um pedaço de terra? Como julgar? Por questoes de sangue e genética, como faziam os fascistas alemães e italianos, em países onde ainda há certas leis de sangue?

Quando dois povos reunidos em torno de um cerne identitário lingüístico e religioso fincam estacas em um pedaço de terra, como decidir a quem esta terra pertence? Quem se sente no direito de realmente tomar esta decisão? Usaremos a lei de usucapião para decidir? Tanto judeus como muçulmanos estão culturalmente ligados àquela terra e tentativas de vernichtung/extermínio de um contra o outro precisam ser evitadas, combatidas, condenadas e este é o único lado que podemos tomar nesta situação. Não é uma atitude política adulta simplesmente reverter de forma dualista os papéis de cada lado do conflito. Há terrorismo sendo cometido dos dois lados. Equacionar o povo palestino com o Hamas ou o povo israelense com o Governo de Israel são atos simplistas e inconsequentes.

Quando dois povos sentem-se abandonados (lembrem-se que os judeus israelenses, assim como os muçulmanos palestinos, não têm muitas razoes para confiarem na comunidade internacional, que nunca os socorreu em seus momentos de maior desespero), vítimas do silêncio mundial em mais de uma ocasião, não podemos aceitar que cataclismos e desastres sejam comparados de forma irresponsável para cancelarem a dor do outro, do outro que é oficiado como inimigo. Usar expressoes como "genocídio" na presente situação, aludindo claramente aos crimes nazistas contra os judeus europeus (que foram dizimados), é um ato de leviandade política, moral. A cada crime, seu nome, senhores poetas.

Como alguém pode realmente ousar a criação implícita de uma equação de subtração entre an-Naqba e Shoah?

1928/29, 1948/49, 2008/9 e os números de mortos dos dois lados crescem, crescem. Vamos contar o mortos e decidir quem é o vilão e quem o mocinho a partir desta estatística? Chegamos realmente a este ponto? A comunidade internacional precisa reagir com vigor, deter o Governo de Israel (vale mencionar que uma parte imensa da população israelense tem protestado com veemência contra o bombardeio israelense sobre os palestinos de Gaza) e fazer com que o Acordo de Oslo seja efetivado de verdade. Israel precisa cessar o bombardeio, desocupar Gaza efetivamente, liberando fronteiras de terra e água. Os fanáticos religiosos de ambos os lados precisam ser detidos em seus discursos inflamatórios e assassinos. Pregar o extermínio do inimigo apenas nos legará outro século ou milênio de matanças. Fazer como um adolescente e achar-se no direito de escolher o vilão e o herói desta tragédia real e verdadeira é tomar parte no derramamento de sangue. A única atitude que eu me permito e exijo de mim mesmo é a de um manifestante israelense contra os bombardeios em Gaza, pedindo que cessem os CRIMES DE GUERRA. NO MORE WAR CRIMES.


domingo, 11 de janeiro de 2009

Gaze, Gaza.

Como poeta, diante de uma situação como a presente em Gaza, tantos lados e ângulos a considerar, Israel, Palestina, o melhor é deixar talvez que dois de seus poetas falem. Não como representantes, nem pela idéia de "unacknowledged legislators", mas literalmente como "vozes clamando no deserto", sem audiência, totalmente impotentes (?) para deter o derramamento de sangue, este símbolo poderosíssimo das duas línguas.


(O poeta palestino Mahmoud Darwish no filme "Notre Musique", de Jean-Luc Godard, de 2004)

.
.


("Of two or three in a room", poema do israelense Yehuda Amichai, traduzido para o inglês.)

.
.


(Mahmoud Darwish)

§


Daila, December 2007
Words: Yehuda Amichai
Vocals+Guitar: Ofer Golany
Bass: Netta Amir
video by - Ilan Vingort

§

Under Siege, by Mahmoud Darwish

Here on the slopes of hills, facing the dusk and the cannon of time
Close to the gardens of broken shadows,
We do what prisoners do,
And what the jobless do:
We cultivate hope.

***
A country preparing for dawn. We grow less intelligent
For we closely watch the hour of victory:
No night in our night lit up by the shelling
Our enemies are watchful and light the light for us
In the darkness of cellars.

***
Here there is no "I".
Here Adam remembers the dust of his clay.

***
On the verge of death, he says:
I have no trace left to lose:
Free I am so close to my liberty. My future lies in my own hand.
Soon I shall penetrate my life,
I shall be born free and parentless,
And as my name I shall choose azure letters...

***
You who stand in the doorway, come in,
Drink Arabic coffee with us
And you will sense that you are men like us
You who stand in the doorways of houses
Come out of our morningtimes,
We shall feel reassured to be
Men like you!

***
When the planes disappear, the white, white doves
Fly off and wash the cheeks of heaven
With unbound wings taking radiance back again, taking possession
Of the ether and of play. Higher, higher still, the white, white doves
Fly off. Ah, if only the sky
Were real [a man passing between two bombs said to me].

***
Cypresses behind the soldiers, minarets protecting
The sky from collapse. Behind the hedge of steel
Soldiers piss—under the watchful eye of a tank—
And the autumnal day ends its golden wandering in
A street as wide as a church after Sunday mass...

***
[To a killer] If you had contemplated the victim’s face
And thought it through, you would have remembered your mother in the
Gas chamber, you would have been freed from the reason for the rifle
And you would have changed your mind: this is not the way
to find one’s identity again.

***
The siege is a waiting period
Waiting on the tilted ladder in the middle of the storm.

***
Alone, we are alone as far down as the sediment
Were it not for the visits of the rainbows.

***
We have brothers behind this expanse.
Excellent brothers. They love us. They watch us and weep.
Then, in secret, they tell each other:
"Ah! if this siege had been declared..." They do not finish their sentence:
"Don’t abandon us, don’t leave us."

***
Our losses: between two and eight martyrs each day.
And ten wounded.
And twenty homes.
And fifty olive trees...
Added to this the structural flaw that
Will arrive at the poem, the play, and the unfinished canvas.

***
A woman told the cloud: cover my beloved
For my clothing is drenched with his blood.

***
If you are not rain, my love
Be tree
Sated with fertility, be tree
If you are not tree, my love
Be stone
Saturated with humidity, be stone
If you are not stone, my love
Be moon
In the dream of the beloved woman, be moon
[So spoke a woman
to her son at his funeral]

***
Oh watchmen! Are you not weary
Of lying in wait for the light in our salt
And of the incandescence of the rose in our wound
Are you not weary, oh watchmen?

***

A little of this absolute and blue infinity
Would be enough
To lighten the burden of these times
And to cleanse the mire of this place.

***
It is up to the soul to come down from its mount
And on its silken feet walk
By my side, hand in hand, like two longtime
Friends who share the ancient bread
And the antique glass of wine
May we walk this road together
And then our days will take different directions:
I, beyond nature, which in turn
Will choose to squat on a high-up rock.

***
On my rubble the shadow grows green,
And the wolf is dozing on the skin of my goat
He dreams as I do, as the angel does
That life is here...not over there.

***
In the state of siege, time becomes space
Transfixed in its eternity
In the state of siege, space becomes time
That has missed its yesterday and its tomorrow.

***
The martyr encircles me every time I live a new day
And questions me: Where were you? Take every word
You have given me back to the dictionaries
And relieve the sleepers from the echo’s buzz.

***
The martyr enlightens me: beyond the expanse
I did not look
For the virgins of immortality for I love life
On earth, amid fig trees and pines,
But I cannot reach it, and then, too, I took aim at it
With my last possession: the blood in the body of azure.

***
The martyr warned me: Do not believe their ululations
Believe my father when, weeping, he looks at my photograph
How did we trade roles, my son, how did you precede me.
I first, I the first one!

***
The martyr encircles me: my place and my crude furniture are all that I have changed.
I put a gazelle on my bed,
And a crescent of moon on my finger
To appease my sorrow.

***
The siege will last in order to convince us we must choose an enslavement that does no harm, in fullest liberty!

***
Resisting means assuring oneself of the heart’s health,
The health of the testicles and of your tenacious disease:
The disease of hope.

***
And in what remains of the dawn, I walk toward my exterior
And in what remains of the night, I hear the sound of footsteps inside me.

***
Greetings to the one who shares with me an attention to
The drunkenness of light, the light of the butterfly, in the
Blackness of this tunnel!

***
Greetings to the one who shares my glass with me
In the denseness of a night outflanking the two spaces:
Greetings to my apparition.

***
My friends are always preparing a farewell feast for me,
A soothing grave in the shade of oak trees
A marble epitaph of time
And always I anticipate them at the funeral:
Who then has died...who?

***
Writing is a puppy biting nothingness
Writing wounds without a trace of blood.

***
Our cups of coffee. Birds green trees
In the blue shade, the sun gambols from one wall
To another like a gazelle
The water in the clouds has the unlimited shape of what is left to us
Of the sky. And other things of suspended memories
Reveal that this morning is powerful and splendid,
And that we are the guests of eternity.



Translated by Marjolijn De Jager

§

Memorial Day for the War Dead, by Yehuda Amichai

Memorial day for the war dead. Add now
the grief of all your losses to their grief,
even of a woman that has left you. Mix
sorrow with sorrow, like time-saving history,
which stacks holiday and sacrifice and mourning
on one day for easy, convenient memory.

Oh, sweet world soaked, like bread,
in sweet milk for the terrible toothless God.
"Behind all this some great happiness is hiding."
No use to weep inside and to scream outside.
Behind all this perhaps some great happiness is hiding.

Memorial day. Bitter salt is dressed up
as a little girl with flowers.
The streets are cordoned off with ropes,
for the marching together of the living and the dead.
Children with a grief not their own march slowly,
like stepping over broken glass.

The flautist's mouth will stay like that for many days.
A dead soldier swims above little heads
with the swimming movements of the dead,
with the ancient error the dead have
about the place of the living water.

A flag loses contact with reality and flies off.
A shopwindow is decorated with
dresses of beautiful women, in blue and white.
And everything in three languages:
Hebrew, Arabic, and Death.

A great and royal animal is dying
all through the night under the jasmine
tree with a constant stare at the world.

A man whose son died in the war walks in the street
like a woman with a dead embryo in her womb.
"Behind all this some great happiness is hiding."

"It" - part 1


("It", by Inger Christensen. Sound project - audio only - using Christensen's long poem "It", as translated by Susanna Nied. Section 1 of Prologos : 66 Voices reading a 66 line stanza.)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

"This is the voice"

Aos amigos que não ou/viram, o vídeo do meu poema-performance "This is the voice", gravado no Festival Yuxtaposiciones, de Madri, em maio de 2008.



O moço me disse ontem à noite, enquanto jantávamos, que viu o vídeo pela primeira vez esta semana e que havia gostado muito. Fiquei feliz por ter feito algo em termos de poesia que interessou ao moço. Num momento de orgulho-descontrol, imaginei que o vídeo talvez pudesse interessar a outros moços, e quem sabe até moças!, e decidi postá-lo aqui mais uma vez.

Inger Christensen (1935 - 2009)

Este ano teve como um de seus marcos de início, a morte de um poeta. Assim como 2008 ficou marcado para mim com a perda de Henri Chopin logo a 3 de janeiro, este ano apressa-se em diminuir nosso número logo a de 2 de janeiro, com a morte da poeta dinamarquesa Inger Christensen.

Descobri o trabalho de Christensen apenas no ano passado, quando ela fez sua leitura na noite de abertura do Festival de Poesia de Berlim, a mesma noite em que Arnaldo Antunes fez a performance de encerramento. (Alguns dias depois, Angélica Freitas e eu leríamos com outros poetas lusófonos e germânicos). A leitura de Christensen foi tratada com reverência e só mais tarde percebi que se tratava de uma das mais respeitadas poetas européias do pós-guerra. Quando o diretor do festival apresentou-a, vi apenas uma naniquinha de velhice compacta erguer-se da cadeira e cambalear com seu vestido impecável e bolsa até o palco.

O trabalho mais conhecido de Inger Christensen é o poema-em-série/livro Alfabeto, de 1981, em que a poeta usa as letras do alfabeto, de A a N, e a chamada seqüência de Fibonacci para conduzir um dos mais belos poemas que li nos últimos tempos. Esta prática a encaixava na gaveta da "poesia experimental", ainda que as constrições formais de Christensen funcionem de forma bastante diferente do que vemos nos poetas dos grupos OuLiPo e L=A=N=G=U=A=G=E. Vale dizer que seu último trabalho importante foi um ciclo de sonetos.

Tenho pensado em como o Brasil está atrasado e faminto em termos de poetas traduzidos. Não me refiro sequer aos poetas mais obscuros, como Pierre Albert-Birot, Umberto Saba ou Jack Spicer. O país passa ao largo até mesmo do que no mundo poderia ser chamado de "estrelato da poesia", com aqueles nomes mais famosos. Mesmo poetas como Czeslaw Milosz, Derek Walcott e Joseph Brodsky, que foram "estrelas" da poesia do pós-guerra, não têm volumes de poemas traduzidos no Brasil. Hoje em dia, penso em poetas como o estadunidense John Ashbery, o russo Yevgeny Yevtushenko ou o esloveno Tomaž Šalamun, também pouquíssimo divulgados no Brasil.

Busquei algo de Inger Christensen em português, para poder postar aqui e na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. Nada encontrei. Não em português, pelo menos até agora.

O poema-em-série "Alfabeto", em dinamarquês, começa assim: "1. abrikostræerne findes, abrikostræerne findes / 2. bregnerne findes; og brombær, brombær / og brom findes; og brinten, brinten". Vai aqui o início do poema em inglês:

Alphabet

1

apricot trees exist, apricot trees exist



2

bracken exists; and blackberries, blackberries;
bromine exists; and hydrogen, hydrogen



3

cicadas exist; chicory, chromium,
citrus trees; cicadas exist;
cicadas, cedars, cypresses, the cerebellum



4

doves exist, dreamers, and dolls;
killers exist, and doves, and doves;
haze, dioxin, and days; days
exist, days and death; and poems
exist; poems, days, death



5

early fall exists; aftertaste, afterthought;
seclusion and angels exist;
widows and elk exist; every
detail exists; memory, memory's light;
afterglow exists; oaks, elms,
junipers, sameness, loneliness exist;
eider ducks, spiders, and vinegar
exist, and the future, the future



6

fisherbird herons exist, with their grey-blue arching
backs, with their black-feathered crests and their
bright-feathered tails they exist; in colonies
they exist, in the so-called Old World;
fish, too, exist, and ospreys, ptarmigans,
falcons, sweetgrass, and the fleeces of sheep;
fig trees and the products of fission exist;
errors exist, instrumental, systemic,
random; remote control exists, and birds;
and fruit trees exist, fruittherein the orchard where
apricot trees exist, apricot trees exist
in countries whose warmth will call forth the exact
colour of apricots in the flesh



7

given limits exist, streets, oblivion

and grass and gourds and goats and gorse,
eagerness exists, given limits

branches exist, wind lifting them exists,
and the lone drawing made by the branches

of the tree called an oak tree exists,
of the tree called an ash tree, a birch tree,
a cedar tree, the drawing repeated

in the gravel garden path; weeping
exists as well, fireweed and mugwort,
hostages, greylag geese, greylags and their young;

and guns exist, an enigmatic back yard;
overgrown, sere, gemmed just with red currants,
guns exist; in the midst of the lit-up
chemical ghetto guns exist
with their old-fashioned, peaceable precision

guns and wailing women, full as
greedy owls exist; the scene of the crime exists;
the scene of the crime, drowsy, normal, abstract,
bathed in a whitewashed, godforsaken light,
this poisonous, white, crumbling poem


Alphabet, de Inger Christensen, traduzido para o inglês por Susanna Nied.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Zabriskie Point (1970)

Zabriskie Point foi algo surpreendente. Antonioni sempre tão "metafísico", tão cheio de malheur civilizatório, com sua grã-narrativa de proporções cósmicas, fálico almejar do universal fictício de sua construção, Michelangelo "Waste Land" Antonioni mostrando-se por um momento quase ativista, pela primeira vez ousando nomear doenças ao invés de diagnosticar sintomas, muito bem, muito bom, com a cara na tela de Zabriskie Point cheguei a ter cócegas godárdicas.



quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

The Devil and Daniel Johnston



Pode ser tentador para um poeta, artista, músico entregar-se ao glamour da loucura, do sofrimento, cortejar o destino do outsider, do esquisito, flertar com o suicídio, querer a companhia trágica dos trágicos, fazer-se diva of a dive into darkness, dirigindo o monociclo à beira do abyssmus, sonhar com a lenda do momento após a queda. Mas a tristeza do país baixo do vale ao nível do Mar Morto não tem discotecas, nem sequer se assemelha a uma pista de dança vazia. Transtorno de sinais e sintomas. Martin Kippenberger, um dos meus artistas alemães favoritos, disse com clareza: "Não posso cortar-me uma das orelhas todos os dias", e eu escrevi em outro lugar: "ainda que vangoghs / até que engasgues."



Assisti ontem ao documentário "The Devil and Daniel Johnston", sobre o singer-songwriter/poeta lírico americano, nascido em 1961, que produziu uma obra genial enquanto era jogado de manicômio em manicômio, de cela em cela de prisão. Diante de sua história, não se pode glamourizar o destino da genialidade em loucura, apenas compadecer-se de sua queda no abismo. Ainda que a lenda tenha vindo quando seu corpo espatifou-se no chão.






§
§
§

Escute alguns poemas líricos de Daniel Johnston AAQQUUII

§
§
§



(Van Gogh)


(Daniel Johnston)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Programa da noite com O Moço

Primeiro:

"Quiet Days in Clichy" (1970), dirigido por Jens Jørgen Thorsen, baseado no trabalho de Henry Miller (1891 – 1980).



Ainda me lembro da sensação de "rebeldia" ao escolher o romance Sexus (1949), de Miller, para analisar em minha dissertação final na aula de Literatura Americana, quando estava terminando o colegial nos Estados Unidos, com 17 anos de idade. Não era permitido que dois alunos escrevessem sobre o mesmo livro ou sequer sobre o mesmo autor, mas enquanto a maioria escolhia romances como For Whom The Bell Tolls, The Catcher In The Rye ou To Kill A Mockingbird, eu fui direto à jugular indisputada de Miller com seu Sexus. A única outra revoltada foi Mary Beth Jones, a putinha da escola (minha melhor amiga, diga-se de passagem), que escolheu Naked Lunch, do William Burroughs. Eu acredito que o eclipse de Henry Miller terminará um dia, sua influência sobre os Beats (Kerouac principalmente, mas mesmo Burroughs) e outros escritores das décadas de 40 e 50 americanas foi gigantesca. Hoje à noite retorno ao senhor, caro Henry.

§

Depois:

"Zabriskie Point" (também de 1970, por coincidência), de Michelangelo Antonioni. Trata-se de um dos poucos filmes de Antonioni que me restam para ver pela primeira vez.



Gosto muito do italianão, ainda que seu trabalho por vezes me pareça demasiado tardo-modernista. Para quem filmou principalmente entre as décadas de 50 e 70, algo perdoável. Já em cineastas contemporâneos, como Tsai Ming-liang e Béla Tarr, acho bem menos tragável este tardo-modernismo. O filme tem uma das seqüências mais famosas do Antonioni, mas só saberei claramente após terminar de assistir o filme com o moço. Mark Frechette fica aqui eleito como o ator mais bonito de Antonioni, e com certeza o que morreu de forma mais bizarra.

Poesia contemporânea brasileira na Modo de Usar & Co.

Leitores da franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. nos perguntaram algumas vezes quando pretendíamos mostrar poesia contemporânea brasileira na revista. Realmente, durante o ano de 2008, em que as atividades da franquia eletrônica se intensificaram, publicamos postagens sobre muitos poetas do pós-guerra, mas não do século XXI. Houve postagens sobre jovens europeus e latino-americanos, como o catalão Eduard Escoffet, a espanhola Sandra Santana, a francesa Nelly Larguier e a argentina Lucía Bianco, mas nenhuma sobre jovens brasileiros.

O primeiro número impresso da Modo de Usar & Co. trouxe quase que exclusivamente jovens brasileiros, com a exceção de alguns poetas surgidos na década de 90, como Carlito Azevedo, Marcos Siscar e Aníbal Cristobo.

Foi uma decisão consciente a de evitar os poetas de meia-idade. Quase todos os outros colaboradores eram poetas surgidos no fim da década de 90 e início desta década, como Dirceu Villa, Juliana Krapp, Danilo Bueno, Franklin Alves Dassie, Walter Gam, Diego Vinhas, Veronica Stigger, Leonardo Martinelli (a primeira perda de nossa comunidade, falecido no fim do ano passado) e Andréa Catrópa, entre outros.

A mim parecia importante, no primeiro ano de atividades da franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., estabelecer nossos parâmetros críticos, deixar claras nossas preocupações, criar nosso "mãedeuma". Após traduzir e apresentar dezenas de poetas totalmente inéditos, desconhecidos ou obscuros no Brasil (como bpNichol, Friederike Mayröcker e Henri Chopin), assim como certas comunidades de poetas da década de 50 (como o Grupo de Viena e os Lettristes de Paris), parece-me o momento certo e responsável de apresentar os jovens poetas brasileiros que chamam nossa atenção, com trabalhos fortes, ignorando os cantos de sereias da catástrofe que vêm sendo entoados por certos poetas de meia-idade, em algumas outras revistas eletrônicas editadas por poetas de meia-idade.

As duas últimas postagens da Modo de Usar & Co. foram dedicadas a Juliana Krapp e Marcelo Sahea. O segundo número impresso, que deve sair em dois meses, trará vários poetas inéditos em livro. Neste ano de 2009, seguiremos com a pesquisa sobre o que vem sendo produzido de interessante e inquieto na poesia contemporânea brasileira e no resto do mundo. Se vocês confiarem nestas palavras, visitem a página da franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. AAQQUUII e procurem o número impresso de estréia da revista nas seguintes livrarias:

em SãO PAULO (SP)
Livraria da Vila
Rua Fradique Coutinho, 915
Vila Madalena São Paulo - SP
tel. 55-11-3814-5811

no RIO DE JANEIRO (RJ)
Livraria Berinjela
Av. Rio Branco, 185 / loja 10
Centro Rio de Janeiro - RJ
tel. 55-21-2215-3528

em BELO HORIZONTE (MG)
Livraria e Editora Scriptum
Rua Fernandes Tourinho, 99
Savassi Belo Horizonte - MG
tel. 55-31-3223-1789

em SANTO ANDRÉ (SP)
Livraria Alpharrabio
Rua Eduardo Monteiro, 151
Santo André - SP
tel. 55 -11-44 38 43 58

em FORTALEZA, CE
Livraria Cavalo Marinho
Rua Senador Pompeu, 2764/lj B
Fortaleza - CE
tel. 55-85-3214-5288)


ou faça seu pedido através do email
revistamododeusar@gmail.com

Arquivo do blog