Estou na capital da Estônia, a bela bela cidade de Talim. Apresento-me hoje à noite como DJ (o que não separo do meu trabalho como poeta) num clube da cidade na costa do Mar Báltico, que até o início do século XX era chamada de Reval.
O estoniano é uma língua linda de ver e ouvir, cheia de vogais. Poesia é "luule" e canção é "laul" ou "luuletus". Um poeta é um luuletaja e poetisa é naisluuletaja. Cantor é laululind.
Gozo em informar que as prateleiras de poesia/luule da cidade dos lagos Ülemiste e Harku parecem tão cheias quanto as de São Paulo e Berlim. Antes de vir à Estônia, conhecia apenas o poeta Ilmar Laaban (talvez por ter emigrado para a Suécia e ter poemas em francês), sobre quem escrevi na Modo de Usar & Co., mostrando o seu poema sonoro "Ciel inamputable". Outros poetas estonianos: Juhan Liiv (1864 – 1913), Marie Under (1883 - 1980), Artur Alliksaar (1923 - 1966) e, entre os vivos, Jaan Kaplinski (n. 1941) e Paul-Eerik Rummo (n. 1942).
Érico Nogueira nasceu em Bragança Paulista, em 1979. Conhecemo-nos em 1998, na Faculdade de Filosofia da USP, na qual ingressamos naquele mesmo ano, iniciando nossos estudos de lógica, estética e filosofia política com os professores daquela época: Ricardo Terra, Renato Janine Ribeiro, Marilena Chauí, Márcio Suzuki, entre outros; curso que eu viria a abandonar dois anos mais tarde, para unir-me ao grupo de teatrologia com que passei a estudar Brecht, Artaud e Grotowski, com alunos de Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes da USP (criando a peça "1999", que estreou em junho de 1999), e mais tarde ao grupo de pesquisa das técnicas do coreógrafo mineiro Klauss Vianna, com Luzia Carion e companheiros como Verônica Veloso, Lígia Borges e Paulina Caon, experiências que seriam determinantes para meu trabalho poético posterior. Érico Nogueira permaneceria no curso de filosofia, onde graduou-se e pós-graduou-se, sendo hoje mestre e doutorando em Letras Clássicas pela USP.
Dois hálitos (Érico Nogueira)
O sopro, esmurrando a escarpa, esmurrou também o estômago de quem lá estava.
Ali, da mão soube o peso, a douta agulha e a linha no corpo incoeso.
No lábio pousou-lhe a perdiz: não sabia que é alado o que um soco diz.
Aproximamo-nos pelo interesse comum em poesia. Naquele momento (ele com 19 anos, eu com 21), como a grande parte dos jovens poetas, nossa admiração comum era, principalmente, por João Cabral de Melo Neto e Ezra Pound. No entanto, desde aquela época nossos interesses já se bifurcavam. Minha pesquisa levava-me a dividir minha atenção entre poetas, cineastas e artistas visuais. Érico Nogueira dedicava-se primordialmente à literatura e à filosofia, cada um de nós alertando o outro dos perigos do caminho escolhido. Meu caminho me levava a poetas e pensadores modernos e contemporâneos, como Gertrude Stein, Ludwig Wittgenstein ou John Cage; o seu, aos poetas e pensadores da Antigüidade, como Aristóteles e sua Poética, a Horácio, de quem li poemas pela primeira vez em tradução de Érico Nogueira, e Píndaro, que me foi mostrado também por ele. Enquanto isso, eu tentava convencê-lo da importância de perceber que a poesia não havia parado em Mallarmé ou, no mais tardar de sua perspectiva, em Rilke.
Nossa noção de sincronia deveria ser capaz de acomodar todas estas escolhas?
Tal relação com os parâmetros entendidos a partir das letras clássicas permaneceu forte entre poetas mesmo durante o Modernismo vanguardista. Basta pensar nas máscaras de Ezra Pound, na poesia tardia de H.D., Carlos Drummond de Andrade ou Salvatore Quasimodo. Penso na surpresa e entusiasmo de Sérgio Buarque de Holanda diante de um livro como Poemas, de Dante Milano, publicado em 1947. A surpresa diante da clareza estóica do que usa o mínimo da paisagem poética ao seu redor, e entrega-se a um arsenal meticuloso e preciso da tradição. Diante dos poemas que abrem aquele livro de Milano, eu penso nas escolhas atuais de Érico Nogueira, como em sua série de sonetos chamada "Estações", da qual este é o poema que a abre:
A noite, e tudo o que é escuro e cíclico e liquefaz-se ao tempo do farol, está predita em todos os testículos, nas orquídeas que chegam com a estação, embora não vejamos. Só o ouvido, que pinça o inominado, pinça, então, do rio a cuja beira estive, estou, o ar da bolha, da que morre o grito. Eu não ouvia bem naquele tempo quando meu olho, então recém-aberto, se iluminava, fixo no desenho que as folhas têm olhadas mais de perto; ...tanto pior, tanto mais fria a noite ...de quem vai nu ao mar, vai nu ao monte.
Érico Nogueira e eu mantivemos uma correspondência intensa entre 2001 e 2004, por cartas, expondo nossas desavenças e discordâncias est-É-ticas com veemência e paixão. Talvez tenha aprendido mais, discordando de Érico Nogueira, do que concordando com outros poetas. A necessidade da formulação est-É-tica dos meus pensamentos em nossa correspondência, no início com longas cartas, mais tarde com mensagens eletrônicas esporádicas, fez com que eu fosse obrigado a estruturar meus princípios poéticos e a ideologia de minha percepção de tal forma, que me preparou para os debates e trincheiras que estavam por vir. Não foi apenas um gesto de amizade que me levou a dedicar meu primeiro livro, Carta aos anfíbios (2005), a ele. É o reconhecimento da necessidade da discordância e do debate para o crescimento e amadurecimento de um posicionamento crítico e poético.
Mesmo hoje, há poucos poetas de quem discordo mais do que Érico Nogueira, e é mútuo o sentimento. Para ele, meu trabalho aproxima-se de forma perigosa de uma noção poética que leva ao culto da personalidade e ao vanguardismo vicioso. Para mim, seu trabalho aproxima-se de uma noção a-histórica da poesia, que leva poetas a tomarem a tradição como caixa de ferramentas acumulativas, com usos independentes do contexto histórico.
A poesia e a presença de Érico Nogueira, porém, servem-me de lição e prova da possibilidade de debate enriquecedor entre poetas com est-É-ticas distintas. Já chegamos a comentar um com o outro que, se não fosse nossa amizade, que nos leva à segunda, terceira, quarta leitura do trabalho do outro, para buscarmos ao menos entender seus propósitos, já teríamos dispensado o trabalho do outro com um dar-de-ombros, dizendo: "Inteligente, mas muito equivocado." É esta generosidade, que leva um poeta a primeiro entender o que o outro está tentando fazer e quais as implicações deste ato para depois discordar, que eu espero poder seguir na leitura de poetas que jamais encontrei. É a única crítica verdadeira e generosa, no melhor sentido da palavra. A crítica que o próprio Ezra Pound, nossa admiração em comum, praticou.
O que mais aprecio e respeito, além do apuro técnico de Érico Nogueira, é a maneira como ele consegue assumir suas máscaras de forma honesta, tentando reconhecer ao máximo o seu momento histórico e a possibilidade real de portar tal forma em seus poemas. Penso em um poema como "Bucólica", em que ele sabe estar impedido, histórica, cultural e geograficamente, de assumir a máscara pastoril de um poeta árcade, ainda que ele consiga ressuscitar certos tons de um Gonzaga:
Bucólica
Embaixo da faia, eu via sombras caírem da montanha; o ar escuro, a coruja, outro vale.
Intocável hoje sob um sol estático, sem que recorram as estações, recolho formas plenamente iluminadas, que se entregam fáceis, e se calam.
§§§
Não há faias na América do Sul.
As que eu quero, nem no Mediterrâneo mais.
Estão abstratas no poema de Virgílio, são refúgio da sombra, ...........desafio, ..............abismo.
Olho a montanha: minha, alheia. Pasta aí um gado insípido, a vaca indiferente que temos de cobrir.
Seu primeiro livro, terminado à mesma época que meu Carta aos anfíbios, só agora encontrou editor, após ganhar o prêmio da Secretaria de Cultura de Minas Gerais, como melhor original de poesia. O livro, que por muito tempo chamou-se Poemas, como o primeiro de Dante Milano, passou a chamar-se O Livro de Scardanelli, devido a uma série que encerra o livro, e sobre a qual Érico Nogueira escreveu:
"Os poemas de que se compõe este Livro seriam, de início, tradução de todos os vinte e três que o Hoelderlin tardio, completamente louco, assinou, com data e tudo, com o nome de Scardanelli. Não pude lograr o meu intento; ora mudava os motivos dos poemas, ora trocava o essencial pelo acidental, ora – circunstância onipresente – simplesmente não conseguia traduzir e então inventava o que me desse na telha. Ainda assim, se forem belos os dezoito em que mexi, é porque inexplicavelmente, apesar de toda a adulteração, manteve-se o sopro do seu autor; se não, isto se deve inteiramente ao tradutor – se é que se pode chamar assim a quem deliberadamente, ou quase, falsifica o que deveria conservar."
Abaixo, um dos 18 poemas da série:
À mesma
Já foi bastante – volta agora para a sombra e acha o que dizer do tempo que te alumbra: “ó tempo assim assado” – não o digas; o tempo muda, tornam as fadigas.
Então reclina o dorso e fecha o olhos; a pérola hipotética entre os teus escólios não foi achada, se é que alguma há; como trazer o sol de lá pra cá?
09/03/1940
Seu livro tem o lançamento programado para o fim deste ano, assim como outros livros que, creio, se mostrarão importantes para uma compreensão da poesia multifária desta década, ainda que tão diferentes entre si e talvez justamente por isso, como o volume Icterofagia, de Dirceu Villa; Cinco lugares da fúria, de Pádua Fernandes; o livro de estréia de Walter Gam; a reedição dos livros de Felipe Nepomuceno; entre outras possíveis surpresas.
Quando o livro de Érico Nogueira for lançado, gostaria de estar presente, para discordar com a mesma veemência do meu respeito.
INICIAÇÃO, poema de Érico Nogueira
In principio erat Verbum
João, 1, 1.
1. o espanto
como armas de novo se esbatendo
portas batiam quando tempestade
janelas vento vento quando tempestade
e alguém atrás da porta
nu
observando apenas
lendo apenas
e temendo as areias e as constelações
o hieróglifo impresso nas ruínas
a música e a mágica ao redor do fogo
2. pó
nem medo nem nada oculto na ampulheta
se a língua dos mortos não diz nada
mas se um grão de areia às vezes brilha
e uma sentença brilha e ilumina a tumba
a lupa é súbito um telescópio
o grão microscópico uma estrela
e àquele que nu observava
e lia e remexia nos papiros
súbito neste um outro mundo
ambos iguais na impossibilidade
de que o corpo sobreviva aos séculos
havendo neste novo apenas
a tela o pincel e a habilidade
de eternamente pintar um céu cinzento
3. o anátema
um quinteto de Mozart não refaz o mundo inacessível mesmo a um quadro de Velázquez
o mundo rodopia e pára ao mesmo tempo
há um quando muito aceno no tufão de pó
e quer seja centrípeta ou centrífuga
a maneira de entalhá-lo num espelho
o aceno sempre se insinua e passa
e a obra concreta e a abstrata
a que calcula o corpo e a que dá peso ao vento
o imitam bem se o mostram num lampejo
mostrando nesta perfeição o anátema
quer seja Mozart quer seja Velázquez
de dar o mundo inteiro pelo aceno
4. êxodo
nem mesmo no silêncio rarefeito
da montanha mais alta ou dos confins do inferno
há formas depuradas da sujeira do nojo e da diafonia
"há merda em tudo o que se decompõe e é vivo ou foi vivo ou será
Maysa Matarazzo (1936 - 1977) - better known in Brazil simply as Maysa - sings "Meu mundo caiu" (My world has crumbled) on the Japanese Television in 1959.
Publiquei ontem na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. um texto sobre o poeta belga/flamengo Paul de Vree, que fez parte dos poetas que retomaram as estratégias est-É-ticas das primeiras vanguardas, após as catástrofes históricas das duas guerras mundiais. Esta postagem, com poemas sonoros e visuais, une-se às outras da revista, sobre poetas como Rosmarie Waldrop, Ghérasim Luca, Henri Chopin, Bob Cobbing.
É um prazer imenso, ligado a necessidades e princípios pessoais, seguir mostrando trabalhos das vanguardas do início do século XX e dos grupos que retomaram suas estratégias a partir da década de 50, crendo que nelas residem algumas das melhores possibilidades de aprendizagem para os jovens poetas que estão a surgir no país, os interessados em uma investigação da conjunção entre estética e ética. Discordamos com veemência, justamente pelas implicações est-É-ticas do debate, de poetas que abusam de conceitos como "trans-historicidade", que nada têm a ver com sincronia histórica, para retornarem a parâmetros que levam a uma prática de elefantíase semântica, metaforização arcaica, preciosismo vocabular e exotismos típicos do decadentismo do fim do século XIX, reestabelecendo dualismos e dicotomias que os artistas mais interessantes do século XX combateram. Obviamente, esta discussão só pode ser conduzida nestes termos a partir da crença na historicidade do fazer poético. Não é apenas uma discussão formal, mas também uma discussão sobre as funções milenares da poesia. Conversar sobre as funções milenares da poesia nada tem a ver com render-se ao utilitarismo capitalista contemporâneo. Uma das belezas da poesia está justamente no fato dela ser inútil e ao mesmo tempo sempre ter tido funções muito claras e nobres nas comunidades.
Enquanto isso, em outras partes do mundo, os grupos de experimentação e vanguarda seguem e sucedem-se. Não me refiro apenas ao grupo da revista L=A=N=G=U=A=G=E (de poetas extremamente politizados como Ron Silliman, Bruce Andrews e Charles Bernstein, acompanhados de perto pela gender-guerrilha de Rosmarie Waldrop, Lyn Hejinian e Susan Howe), do fim da década de 70 e início de 80, o que já questiona o discurso de Haroldo de Campos no ensaio de que abusam tais poetas de hoje, sobre a suposta poesia pós-utópica, "ensaio" que acaba se tornando um manifesto da retaguarda.
O alívio existe no fato de que muitos poetas e grupos de poetas seguem adotando estratégias das chamadas vanguardas históricas, como os jovens poetas MULTIMEDIEVAIS europeus contemporâneos (como Anne-James Chaton, Jörg Piringer, Joachim Montessuis, Eduard Escoffet, Nathalie Quintane, Maja Ratkje, Julien Blaine, Christophe Fiat, Nora Gomringer, entre tantos outros) ou, como outro exemplo, os dois grupos de vanguarda americanos atualmente mais conhecidos: o da Conceptual Poetry e o grupo da flarf poetry, inicialmente ligado à Flarflist Collective, do qual eu destacaria o poeta Michael Magee. Num exemplo de "kindred spirits", estes poetas renovam certas estratégias de DADA, de forma parecida à de poetas que a Modo de Usar & Co. aprecia e publica, tanto vivos como já mortos, sem mencionar as googlagens de Angélica Freitas, autora que já liguei em um ensaio a poetas como Christian Morgenstern e Hans Arp.
Se este debate todo estivesse apenas ligado à decisão sobre quais poetas passarão a integrar secretarias de governos e diretorias de instituições culturais públicas, assim como o dinheiro de bancos também públicos ou privados para eventos literários, tudo não passaria de picuinha entre egos de poetas. No entanto, são as implicações est-É-ticas deste debate que guiam a veemência crítica que parece seguir sendo necessária.
Apesar de poetas essenciais para o debate terem morrido cedo demais, como Ana Cristina César (1952 - 1983), Paulo Leminski (1944 - 1989) ou Philadelpho Menezes (1960 - 2000), há ainda no Brasil, felizmente, poetas vivos que seguem dedicando sua atenção a estas questões, de formas obviamente distintas, como Augusto de Campos, Sebastião Nunes, Glauco Mattoso, Horácio Costa, Ricardo Aleixo, Arnaldo Antunes, Marcos Siscar ou Carlito Azevedo, entre outros.
Assim como, à sua própria maneira, meus queridos companheiros Angélica Freitas, Fabiano Calixto e Marília Garcia, ou outros jovens poetas como Dirceu Villa, Laura Erber, Marcelo Sahea, Diego Vinhas, Gabriel Beckman, Walter Gam, Eduardo Jorge, Izabela Leal ou Juliana Krapp, para ficar apenas entre os que estão mais próximos do meu campo de visão e audição. Vale também avisar, antes que a fobia das listas de nomes espirale alguns em histeria: trata-se de debate e não de proposta de cânone.
---
Como antídoto contra o veneno das mordidas de bestas difásicas sedentas por hegemonia, diante de uma poesia de penduricalhos semânticos, nossa defesa de uma POESIA POVERA é uma resistência possível, por suas implicações est-É-ticas. Ainda há vivos e mortos com quem aprender:
("La mémoire", poema sonoro de Gil J. Wolman /1929 - 1995/)
§§§
Eduard Escoffet, vivo-da-silva, apresentando-se em Berlim)
§§§
"Alphabet of fishes", de Bob Cobbing (1920 - 2002)
§§§
(poema de Sebastião Nunes, vivo-da-silva em Belo Horizonte)
§§§
Her wound apologizes — In public — Like a Sailor — Permeating the postwar years “Like a” throbbing — Hangover —
Excuse — to show His ass — in Public — Like a “Good Idea” — And this goes ON and ON and ON Like a courtier —
(from "My Angie Dickinson", poema de Michael Magee, membro do grupo Flarf)
§§§
During a drunken argument in Brussels, Verlaine shot at Rimbaud, hitting him once in the wrist On 10 July 1875, in a drunken quarrel in Brussels, Verlaine shot Rimbaudin the wrist, and was imprisoned for two years at Mons. Together again in Brussels in the summer of that year, Verlaine shot Rimbaud in the wrist following a drunken argument. Verlaine, drunk and desolate, shot Rimbaud in the wristwith a 7mm pistol after a quarrel. At one point, the tension between them became so great that Verlaine shot Rimbaud in the wrist. about 2 o'clock,when M. Paul Verlaine, in his mother's bedroom, fired a shot of revolver. the subject of various books, films, and curiosities, ended July 12, 1873 when a drunken Verlaine shot at Rimbaud and injured him in the wrist. Verlaine shot Rimbaud in a fit of drunken jealousy.
(Giuseppe Ungaretti lê seu poema "Inno alla morte", do livro Sentimento del tempo)
Inno alla morte
Amore, mio giovine emblema, Tornato a dorare la terra, Diffuso entro il giorno rupestre, É l'ultima volta che miro (Appiè del botro, d'irruenti Acque sontuoso, d'antri Funesto) la scia di luce Che pari alla tortora lamentosa Sull'erba svagata si turba.
Amore, salute lucente, Mi pesano gli anni venturi.
Abbandonata la mazza fedele, Scivolerò nell'acqua buia Senza rimpianto.
Morte, arido fiume...
Immemore sorella, morte, L'uguale mi farai del sogno Baciandomi.
Avrò il tuo passo, Andrò senza lasciare impronta.
Mi darai il cuore immobile D'un iddio, sarò innocente, Non avrò più pensieri nè bontà.
Colla mente murata, Cogli occhi caduti in oblio,
Farò da guida alla felicità.
(1925)
HINO À MORTE
Amor, meu emblema de jovem, Que volta a dourar a terra, Difuso no dia rupestre, É a última vez que contemplo (Ao pé deste barranco, de impetuosas águas, suntuoso, funesto De antros) o rastro de luz Que, como a lastimosa rolinha Inquieta, meandra no gramado.
Amor, salvação fulgurosa, Pesam-me os anos do porvir.
Largado o bastão fiel, Resvalarei para a água sombria Sem um queixume.
Morte, árido rio ...
Imêmore irmã, morte, Igual ao sonho me farás Beijando-me.
Terei teu mesmo passo, Irei sem deixar traço.
Tu me darás o coração indiferente De um deus, serei inocente, Sem pensamentos, nem cuidados.
Com a mente murada, Com os olhos caídos em esquecimento, Far-me-ei guia da felicidade.
Coming Tuesday, at the bookstore Rayuela, the poets Ricardo Domeneck (Brazil), Odile Kennel (Germany), Sandra Santana (Spain) and Damien Spleeters (Belgium) meet for a reading of poems and conversation, in English, German, French, Spanish and Portuguese.
La Rayuela Die spanische Buchhandlung in Berlin Elisabethkirchstraße 3 (U-Bahn Rosenthaler Platz) 10115 Berlin
T: 440 132 93 www.la-rayuela.de
About the poets:
§ - Ricardo Domeneck was born in the state of Sao Paulo, Brazil and lives in Berlin. He has published the volumes of poems "Carta aos anfíbios" (2005) and "a cadela sem Logos" (2007), and works with video and sound poetry. He is the co-editor of Hilda Magazine (Germany) and Modo de Usar & Co. (Brazil).
§ - Odile Kennel was born in the southwest of Germany as product of a German/French jumelage and lives in Berlin. She has published "Wimpernflug" in 2000, and is co-editor of the French/German magazine La mer gelée. She has translated poets from French and Portuguese, as for example Jean Portante, Adília Lopes and Arnaldo Antunes.
§ - Sandra Santana was born in Madrid, Spain. She has published "Marcha por el desierto" (2005) and "Es el verbo tan frágil" this year. She is the co-founder of the collective El Águila Ediciones which investigates alternative media por poetry. She also collaborates with Miguel Álvarez Fernández in sound poetry and installations.
§ - Damien Spleeters was born in Charleroi and lives in Brussels, Belgium. He published the novel "Transere" in 2006, the collection of poems "ouroboros" and the theater play "La Prophétie" this year, and also directed his first play "La Pièce", at Atelier de la Dolce Vita. He has performed in festivals such as Teranova (Metz et Nancy) and "Nuits Blanches" in Brussels.
In 1969, a 14-year-old Beatle fanatic named Jerry Levitan, armed with a reel-to-reel tape deck, snuck into John Lennon's hotel room in Toronto and convinced John to do an interview about peace. 38 years later, Jerry has produced a film about it. Using the original interview recording as the soundtrack, director Josh Raskin has woven a visual narrative which tenderly romances Lennon's every word in a cascading flood of multipronged animation. Raskin marries the terrifyingly genius pen work of James Braithwaite with masterful digital illustration by Alex Kurina, resulting in a spell-binding vessel for Lennon's boundless wit, and timeless message.
The first time I saw/heard Mahmoud Darwish was in Jean-Luc Godard´s film "Notre Musique", and his words on War and on Palestine and Israel stuck to my mind. The Palestinian poet died this weekend. A tiny hommage to an amazing poet I could unfortunately only read in translation.
Under Siege
Here on the slopes of hills, facing the dusk and the cannon of time Close to the gardens of broken shadows, We do what prisoners do, And what the jobless do: We cultivate hope.
*** A country preparing for dawn. We grow less intelligent For we closely watch the hour of victory: No night in our night lit up by the shelling Our enemies are watchful and light the light for us In the darkness of cellars.
*** Here there is no "I". Here Adam remembers the dust of his clay.
*** On the verge of death, he says: I have no trace left to lose: Free I am so close to my liberty. My future lies in my own hand. Soon I shall penetrate my life, I shall be born free and parentless, And as my name I shall choose azure letters...
*** You who stand in the doorway, come in, Drink Arabic coffee with us And you will sense that you are men like us You who stand in the doorways of houses Come out of our morningtimes, We shall feel reassured to be Men like you!
*** When the planes disappear, the white, white doves Fly off and wash the cheeks of heaven With unbound wings taking radiance back again, taking possession Of the ether and of play. Higher, higher still, the white, white doves Fly off. Ah, if only the sky Were real [a man passing between two bombs said to me].
*** Cypresses behind the soldiers, minarets protecting The sky from collapse. Behind the hedge of steel Soldiers piss—under the watchful eye of a tank— And the autumnal day ends its golden wandering in A street as wide as a church after Sunday mass...
*** [To a killer] If you had contemplated the victim’s face And thought it through, you would have remembered your mother in the Gas chamber, you would have been freed from the reason for the rifle And you would have changed your mind: this is not the way to find one’s identity again.
*** The siege is a waiting period Waiting on the tilted ladder in the middle of the storm.
*** Alone, we are alone as far down as the sediment Were it not for the visits of the rainbows.
*** We have brothers behind this expanse. Excellent brothers. They love us. They watch us and weep. Then, in secret, they tell each other: "Ah! if this siege had been declared..." They do not finish their sentence: "Don’t abandon us, don’t leave us."
*** Our losses: between two and eight martyrs each day. And ten wounded. And twenty homes. And fifty olive trees... Added to this the structural flaw that Will arrive at the poem, the play, and the unfinished canvas.
*** A woman told the cloud: cover my beloved For my clothing is drenched with his blood.
*** If you are not rain, my love Be tree Sated with fertility, be tree If you are not tree, my love Be stone Saturated with humidity, be stone If you are not stone, my love Be moon In the dream of the beloved woman, be moon [So spoke a woman to her son at his funeral]
*** Oh watchmen! Are you not weary Of lying in wait for the light in our salt And of the incandescence of the rose in our wound Are you not weary, oh watchmen?
***
A little of this absolute and blue infinity Would be enough To lighten the burden of these times And to cleanse the mire of this place.
*** It is up to the soul to come down from its mount And on its silken feet walk By my side, hand in hand, like two longtime Friends who share the ancient bread And the antique glass of wine May we walk this road together And then our days will take different directions: I, beyond nature, which in turn Will choose to squat on a high-up rock.
*** On my rubble the shadow grows green, And the wolf is dozing on the skin of my goat He dreams as I do, as the angel does That life is here...not over there.
*** In the state of siege, time becomes space Transfixed in its eternity In the state of siege, space becomes time That has missed its yesterday and its tomorrow.
*** The martyr encircles me every time I live a new day And questions me: Where were you? Take every word You have given me back to the dictionaries And relieve the sleepers from the echo’s buzz.
*** The martyr enlightens me: beyond the expanse I did not look For the virgins of immortality for I love life On earth, amid fig trees and pines, But I cannot reach it, and then, too, I took aim at it With my last possession: the blood in the body of azure.
*** The martyr warned me: Do not believe their ululations Believe my father when, weeping, he looks at my photograph How did we trade roles, my son, how did you precede me. I first, I the first one!
*** The martyr encircles me: my place and my crude furniture are all that I have changed. I put a gazelle on my bed, And a crescent of moon on my finger To appease my sorrow.
*** The siege will last in order to convince us we must choose an enslavement that does no harm, in fullest liberty!
*** Resisting means assuring oneself of the heart’s health, The health of the testicles and of your tenacious disease: The disease of hope.
*** And in what remains of the dawn, I walk toward my exterior And in what remains of the night, I hear the sound of footsteps inside me.
*** Greetings to the one who shares with me an attention to The drunkenness of light, the light of the butterfly, in the Blackness of this tunnel!
*** Greetings to the one who shares my glass with me In the denseness of a night outflanking the two spaces: Greetings to my apparition.
*** My friends are always preparing a farewell feast for me, A soothing grave in the shade of oak trees A marble epitaph of time And always I anticipate them at the funeral: Who then has died...who?
*** Writing is a puppy biting nothingness Writing wounds without a trace of blood.
*** Our cups of coffee. Birds green trees In the blue shade, the sun gambols from one wall To another like a gazelle The water in the clouds has the unlimited shape of what is left to us Of the sky. And other things of suspended memories Reveal that this morning is powerful and splendid, And that we are the guests of eternity.
Texto da poeta espanhola Sandra Santana (Madri, 1978), sobre o festival de poesia Yuxtaposiciones, de Madri, do qual participei este ano, tendo a honra de apresentar-me ao lado de poetas com Nora Gomringer (Alemanha), W. Mark Sutherland (Canadá), Josep Pedrals (Catalunha), Eugenio Tisseli (México), Rui Torres (Portugal) e Albert Pla (Catalunha).
Sandra Santana é autora do excelente Es El Verbo Tan Frágil, publicado há poucos meses na Espanha. A revista eletrônica espanhola POESÍA DIGITAL pode ser acessada aqui:
http://www.poesiadigital.es
Poesía con p de plural
por Sandra Santana
Desde que el poeta italiano Enzo Minareli publicase el “Manifiesto de la Polipoesía” en 1987, muchos autores se han apropiado de este término que tiene la virtud de dotar de un prefijo múltiple al género poético. Entre el 29 y el 31 de mayo de 2008 se celebró en La Casa Encendida de Madrid la cuarta edición del Microfestival de Poesía y Polipoesía Yuxtaposiciones, un momento perfecto para intentar tomarle el pulso a las prácticas más heterodoxas de la lírica actual.
¿Qué tienen en común los nombres de Rui Torres, Josep Pedrals, Mark Sutherland, Nora Gomringer o Ricardo Domeneck? Todos estos autores de diversa estirpe se reunieron durante tres días en el patio de La Casa Encendida para dar forma a un festival que nos dejó soñando con un territorio en el que cada nueva propuesta poética despierta un complejo universo alimentado por las más diversas y bien digeridas tradiciones. Cada uno de ellos abordó la poesía desde un flanco distinto para demostrar que este término se puede pronunciar en lenguajes y soportes muy diversos: desde el poema-monólogo de la joven poeta suizo-alemana Nora Gomringer –que encarnó a los distintos personajes de su autobiografía-lírica mediante una hipnótica lectura–, a los vídeos del brasileño Ricardo Domeneck, en diálogo con unos versos que conservaban el ritmo breve de la respiración de su autor; desde el producto amable y humorístico ofrecido por el barcelonés Josep Pedrals y el trabajo fonético de Mark Sutherland, hasta el espectáculo de poesía electrónica en tiempo real de Eugenio Tisseli. Todo ello pasando por la conferencia de Rui Torres acerca de Telepoesis (un ambicioso proyecto destinado a recoger, clasificar y reproducir en formato electrónico los fanzines y revistas de poetas visuales y concretos de la vanguardia portuguesa de los 60), y desembocando en un poetry slam en el que pudimos observar las distintas modulaciones que este tipo de competición lírica ha adoptado en las diversas áreas donde se practica: los franceses Abd El Haq y D´de Kabal aproximándose al ritmo de rap, los alemanes Timo Brunke y Bas Böttcher más cerca de la sobria vanguardia centroeuropea y, por último, Ajo, Gonzalo Escarpa (Pimpoets) y Julio Jara, que ofrecieron la versión española de este género tan poco frecuentado en nuestro país. En resumen, muchos motivos para regresar a casa más que satisfechos al contemplar tanta variedad y tan satisfactorias aptitudes entre las polipoéticas del festival.
El término “polipoesía” viene asociado a una tradición que utiliza como carburante creativo las voces del dadaísmo, de la poesía concreta y, sobre todo, de unas segundas vanguardias que encontraron en el trabajo con el material fonético la batalla capaz de sacar a la literatura de su marasmo y ponerla en contacto directo y vivo con el público. La fórmula que ofrece Yuxtaposiciones (antes Intervocálica) tampoco es nueva. Este festival puede considerarse como el hermano pequeño de Proposta, un encuentro anual que (heredero del Festival de Polipoesía y de Viatge a la Polinesia en los años 90) llevó hasta el Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona entre el 2000 y el 2004 a lo más selecto de la escena poética experimental internacional (Jaap Blonk, Amanda Stewart, Nobuo Kubota, Franz Mon...), prestando un especial cuidado al producto autóctono de calidad (Bartomeu Ferrando, Accidents Polipoètics, Josep Ramon Roig...). Y es que Cataluña ha sido, desde finales de los 80, el paraíso de los polipoetas en nuestro país. Esto es, de las manifestaciones performativas, sonoras, cibernéticas, audiovisuales, etc., asociadas a la poesía y que, siendo ignoradas en gran parte del territorio español, en Estados Unidos o Alemania tan plácidamente parecen convivir, sin embargo, con el resto de usos poéticos asociados al texto escrito. Por supuesto, aunque con nombre plural, la polipoesía no lo es todo, pero hoy en día el reconocimiento de esta vertiente lírica puede y debe hacernos revisar el recital poético y contemplar la escritura con ojos nuevos.
Nada podemos reprochar a quien en sus recitales reproduce un poema originalmente pensado para ser degustado en silencio por medio del papel, siempre que perciba cómo, entre sus manos, está latiendo el tiempo vivo del público que presencia su lectura.
Después de pasar por el festival y ver la buena salud de la que goza esta vertiente poética en tan variadas latitudes, agradecemos a la polipoesía que nos recuerde que el nombre por el que denominamos al arte de escribir versos debe conservarse plural, abierto al contagio con otras artes y sin miedo a la exploración, al equívoco, a tantear sendas oscuras o inexploradas en el escenario. Con una tradición fuerte y consolidada de polipoetas dentro y fuera de nuestras fronteras, nada tenemos que objetar a quien escoge el libro como el soporte para su escritura: siempre que vuelva a él con la despierta conciencia de que su elección no es obligada, sino una opción más entre muchas otras (el vídeo, el blog, la performance, la poesía en soporte electrónico, la poesía sonora, el teatrema, el poema objeto...). Después de este viaje, el regreso al soporte-libro ya no puede ser el mismo. Nada podemos reprochar a quien en sus recitales reproduce un poema originalmente pensado para ser degustado en silencio por medio del papel, siempre que perciba cómo, entre sus manos, está latiendo el tiempo vivo del público que presencia su lectura. Con la certeza de esta ineludible responsabilidad deberá ofrecer una nueva obra literaria viva y desprendida ahora de las líneas del texto escrito.
Vai ao ar, hoje à noite, minha entrevista para o programa de rádio Ondas Literárias, dirigido pela poeta paulistana Andréa Catrópa. Gravei as respostas aqui em Berlim, e o programa veicula tudo hoje às 21:30, incluindo a leitura de poemas.
O programa foi criado por Andréa Catrópa e vai ao ar toda segunda-feira, às 21:30, na Cultura FM de Amparo 102,9.
Andréa Catrópa nasceu em 1974 em São Paulo e acaba de lançar seu livro Mergulho às avessas. É uma das poetas e críticas mais independentes da cena paulistana, claramente interessada em um debate aberto e honesto. Publicamos poemas seus no número impresso de estréia da Modo de Usar & Co.
Na semana passada, o programa veiculou a entrevista com Marcos Siscar e mostrou minha colaboração textual-sonora com o duo Tetine. Já passaram pelo programa poetas como Ricardo Aleixo, Fabiano Calixto, Carlito Azevedo, Heitor Ferraz, Alice Ruiz, Marcelo Montenegro, entre outros.
Hoje: às 21:30 Ricardo Domeneck no programa Ondas Literárias Cultura FM de Amparo 102,9