"Por mais que indague de mim mesmo, não consigo saber de que modo poderia o Governo auxiliar eficazmente um escritor. Por meio de um grande prêmio? Talvez isso ajudasse a um escritor, de ano em ano, caso ajudasse... Por meio de leis sobre direitos autorais, sindicatos, etc.? Mas isso já deveria existir há muito, e se não existe ainda, que fizeram até agora os escritores, que não reclamaram coisas tão primárias para suas atividades profissionais?
No mais, em que poderia o Governo ajudar os escritores? Criando um ministério de sinecuras? Instituindo o título de "poeta do rei", como na Inglaterra, e nomeando um vate profissional, como Tennyson o foi, ou um protegido do tzar, como o foi Puchkine? Talvez fosse melhor assim – poeta oficial do Sr. Getúlio Vargas – e entre tantos, escolhesse o mais vil de todos.
Mas não, inútil zombar. Nenhum escritor que se preze viveu à sombra do Estado; muitos, ao contrário, morreram contra ele. Que significa proteger oficialmente um Dickens, um Balzac, um Proust? Trucidá-los sob que glória mesquinha e humana? Esta história de escritor sob proteção do Estado é uma reminiscência de aspecto puramente totalitário – e somente por isto é que veio encontrar eco na velha mente viciada do Sr. Getúlio Vargas."
Lúcio Cardoso, Diário Completo (Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1970)
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