quarta-feira, 25 de novembro de 2020

ESPADACHINS


ESPADACHINS

                    a William Zeytounlian

Nada se reordenou no mundo
esta manhã em que eu descubro,
nesse desembainhar palavras de coisas,
que sempre chamei de peixe-espada 
o que outros chamam de espadarte.

Eles seguem inscientes do anzol,
essa outra arma nossa,
um deles assemelhando a espada 
com o corpo todo, o outro 
com o que lembra uma espada sobre a boca.

Contra dicionários e nossa indústria bélica
seguem por água doce e água salgada
o peixe-espada e o espadarte,
indiferentes ao que não seja tesão ou fome.

E na minha tesão e minha fome
vou também sendo catalogado no mundo,
em verossimilhanças e incongruências,
com a língua que também se usa
como anzol e como espada.

E se repito agora seus nomes
como quem decora as partes do corpo, 
é só para ordenar um pouco meu caos,
sem espada na boca além da língua,
como se assim os protegesse,
qual pudesse doar-lhes uma bainha:

este é o peixe-espada,
aquele é o espadarte,
e aqui está minha língua.
Nossa bainha é o mundo. 

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