terça-feira, 23 de novembro de 2021

André Capilé - excerto de "madrugada pombagira do absoluto", do livro inédito SERENO

André Capilé, tata kanzumbi no terreiro
Omariô de Jurema (Barra Mansa RJ)
fotografado por Clara Nascimento

MADRUGADA POMBAGIRA DO ABSOLUTO

vocabulário do ódio é o que resta na boca / violenta, a malta só ruge -- estila sua baba louca / já não me sobra mais nada na presa lisa da víbora / se a vida te levar a pulso, o soldo da sorte é a mirra


ei, Mumm-Ra 
chega e vê 
a ira do mar que vem
sinistra
procela 
a surra do céu também 
se cair
lá não vai
sobrar ninguém pra contar
que a paz
quem tomou
foi quem bebeu da guerra


a pira da bilha do porco, na boca larga da fome, / a fera fixa o hálito, o espanto lá no horizonte, / espana o espantalho as gralhas, / o cheiro do mijo, paura, / em sua entranha o expurgo do monstro que sonha alturas

vinha lá de cima a mais braba, mas coisas que a vida macumba / girava na barra da saia, na ponta da faca ela estuda / a rua medida a seus pés, em cada canino era fúria / linhas de soco no peito, seu nome era a dura recusa


temporal
chega e vê
a ira do céu que vem
sinistra
de ventar
nuvens de peso explodem
se cair
lá não vai
sobrar ninguém pra contar
que a paz
quem tomou
foi quem bebeu da guerra

se eu vir chegar a manhã 
há chance até de viver

tambores avisam que o conta-giros
não vai ceder, não vai ceder

– André Capilé

.
.
.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog