Tática excelente para ficar em casa, quando a parte sensata de seu ser avisa que ir a tal festa não seria a melhor decisão de sua noite de sexta-feira: tirar um cochilo antes de sair. Obviamente, você acorda de madrugada, e somente um desejo hercúleo de dissipar-se em um conglomerado de seres humanos, comandados por hormônios desenfreados, convence-o a erguer o corpete do estrado e colchão. Virei de lado e dormi mais 8 horas, acordando tão refrescado quanto Tutancâmon devia sentir-se em vida.
Aproveitei esta tarde a última oportunidade para ver a exposição no Instituto para a Arte Contemporânea, conhecido como KW - Kunst-Werke. A exposição que se encerra amanhã chama-se Vorspannkino, reunindo, nos quatro andares do Instituto, telas em que são projetados os trabalhos de arte visual criados para os créditos iniciais de filmes como: Psycho, de Alfred Hitchcock; Vivre sa vie, de Jean-Luc Godard; Raging Bull, de Martin Scorsese; Uccellaci e uccellini, de Pier Paolo Pasolini; vários episódios de James Bond; mas também filmes mais recentes, como Seven, de David Fincher, ou Pi, de Darren Aronofsky. A idéia é interessante, uma curadoria que ao menos surpreende um pouco, mas várias características da exposição demonstram certos problemas de perspectiva. Cito um dos que mais chamaram minha atenção: se uma das idéias é a de fazer o expectador concentrar-se em um tipo de arte que passa despercebido, ocorrendo enquanto o expectador espera pela "arte de verdade", o filme, por que separar os trabalhos, entre os quatro andares, em gêneros que pareciam demarcar uma hierarquia? Pois, no primeiro andar estavam os "artistas", com aberturas para filmes de Hitchcock, Godard, Brakhage, Cocteau, Jeunet e Welles. No segundo andar, filmes de ação, com as aberturas para a série "James Bond" e filmes de Scorsese; no terceiro andar, ficção científica, comédia e cinema trash, com aberturas para filmes como Barbarella, de Roger Vadim, mas também Attack of the Killer Tomatoes, de John De Bello; terminando no quarto andar com os "filmes de terror", como Psycho, de Hitchcock, ou Dawn of the dead, de Zack Snyder. Conheço quem se irritaria com a própria idéia, crendo que chegamos a um ponto em que, sem arte para mostrarmos, passamos a procurar arte em todo e qualquer trabalho que pareça minimamente "criativo". Não tenho este problema, mas a exposição parecia agrupar os trabalhos de forma questionável.
Mais tarde, fui ao excelente cinema Arsenal, que estava mostrando, hoje à noite, The Birds, de Hitchcock. Excelente oportunidade para ver na telona este filme ótimo do mestre.
Agora?
Talvez ceda ao desejo de dissipação química. Tão hercúlea não chega a ser minha sensatez.
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