Acabou hoje o Festival de Poesia Latino-Americana de Berlim, conhecido como Latinale. A última leitura foi esta noite, no Instituto Cervantes. Sem apoio financeiro este ano, o festival concentrou-se em poetas latino-americanos vivendo na Europa, o que limitou a seleção. Mesmo assim, Timo Berger e Rike Bolte conseguiram organizar um festival com um belo número de poetas realmente muito bons. Alguns são, em verdade, excelentes poetas. Com uma ou outra escolha "institucional", o festival conseguiu trazer poesia latino-americana de qualidade à capital alemã.
Foi um prazer conhecer os mexicanos Luis Felipe Fabre e Minerva Reynosa, poetas muito bons, inteligentes, com quem foi um prazer conversar. De Luis Felipe Fabre posso agora ler, graças à sua generosidade, o livro Cabaret Provenza, com belos poemas, e o livro de ensaios Leyendo agujeros. Ensayos sobre (des)escritura, antiescritura y no escritura. Gostei de conhecer pessoalmente a argentina Carolina Jobággy, uma poeta elegante, em todos os aspectos. Mesmo que não me interesse por 100% de sua pesquisa poética, seu trabalho chama a atenção. Em outro espectro, ainda que a alguns tenha parecido uma espécie de diva ensandecida, a espanhola Montserrat Álvarez me agradou muito com seu trabalho e sua presença. A uma diva com o seu talento, perdoa-se tudo. Também me alegrou a leitura do peruano Domingo de Ramos, com um trabalho que poderia apenas descrever, agora, como legítimo, um poeta que inspira respeito. Conversei com outro poeta a respeito de sua geração, que este chamou de "geração de poetas-performers dos anos 80 na América Espanhola", sobre a qual conhecemos muitíssimo pouco no Brasil, praticamente nada, já que nos chega em geral apenas o trabalho dos soldados da máfia da elefantíase semântica (a Modo de Usar & Co. é uma das várias revistas tentando pluralizar/complicar a fotografia).
O grande prazer deste festival foi, no entanto, rever o chileno Yanko González, um poeta excelente, uma pessoa que respeito muito. Conheci-o em Buenos Aires, em 2006, durante o Festival de Poesia Latino-Americana de Buenos Aires, conhecido como Salida al mar. Estávamos os três (Yanko González, Angélica Freitas e eu) hospedados na casa do poeta argentino Cristian De Nápoli, e tivemos tardes e noites de ótimas conversas e debates. Seu livro Metales Pesados (1998) pareceu-me um dos melhores trabalhos da última poesia latino-americana que havia lido. Sua leitura no festival em Buenos Aires foi impressionante, um poeta que escreve muitíssimo bem, sabendo, porém, que estes TEXTOS serão um dia oralizados. Escrevo esta postagem com seu mais recente livro ao meu lado, chamado Alto Volta (2007), excelente livro. Sua leitura foi, esta noite, um dos pontos altos do festival. As conversas que tivemos, regadas a vinho, foram outros pontos altos do meu semestre.
§§§
POEMAS DE YANKO GONZÁLEZ
gremio
Fui donde Morgan y le dije:
dame este retrato mío que tienes en la cabeza.
No te enojes -me dijo-
ya te lo doy.
Se abrió la testa y me lo dio.
Después fui donde Taylor :
Edward ese retrato mío que tienes en la cabeza
dámelo
Estás enfermo –dijo-
Me impacienté le di un palo
le abrí el cráneo y saqué mi retrato.
Boas escuchó el grito y vino corriendo:
pero hijo mío ¿qué has hecho?
Cayó otra víctima
Se lo abrí y saqué mi retrato.
Me visitó la Mead:
Maggie dame ese retrato mío que tienes en la cabeza.
Se abrió el cráneo y me lo dio.
Busqué a Ruth y mudo
le partí el cráneo con un fierro
le saqué mi fotografía blasfemando
Con el cráneo abierto
Como abierta le dejé la puerta de su casa.
(Se me cruzó Evans
Con su mismo rifle le destapé los sesos usurpándole mi imagen)
Volví y estaban todos almorzando
Claude L. S. y el Polaco
Se levantaron y sin siquiera saludarme
se abrieron sendos cráneos y me dieron el retrato
haciéndome una venia.
Partí a donde todos mis “amigos”.
Se había corrido la voz y no tuve ningún inconveniente
Me saludaban amablemente
Mientras con la otra mano me daban mi retrato
Yo les decía al mismo tiempo "gracias"
Y les cerraba su cráneo con deferencia.
Al séptimo día me fui a Ninguna Parte
Con mi bolso de cuero y lana repleto de fotografías
Me empiné como pude
Y las puse sobre una nube que pasaba y les prendí fuego.
Volví de una carrera
Los busqué uno por uno
Pero allí estaban todos
Con ese otro retrato mío en la cabeza.
§§§
ejemplo
Quieren que me vaya como si yo no quisiera irme
Entonces les digo me voy
Pero al primer
o quinto paso
Corren a buscarme
para que les planche el aire
Les abra una zanja
donde han de cruzar sus trajes.
Ayer fue lo mismo
Entendí claramente
quieren que me vaya
Eso es lo que se decían mientras cuidaba de sus niños
Yo jugaba a lo que en Alto Volta se jugaba
Ejemplo
La silla se llama lavabo la puerta sardina
La mesa vajilla y los zapatos cadira
Entonces los niños gritaban
Amarillo
Ábrenos la sardina.
Era un juego y dijeron que me fuera
Que tenía que enseñarles las palabras
Como se debían
Ejemplo
abrir la boca
se dice
reír.
§§§
que no quiere
“Que
no
quiere
morir
como
un
perro
nadie
quiere
morir
como
un
perro
todo
ser
humano
merece
no
morir
como
un
perro
ha
vivido
como
cerdo
y
no
quiere
morir
como
un
perro”
§§§
Pasavante
No,
si puedes quedarte
pero sucede
es decir la casa está
digamos que no hay
mucho por donde una
o dos puedan veamos
es que estoy con un ritmo
digo al mismo tiempo
con esto para allá
con lo otro preferiría
No,
si puedes quedarte
pero sucede
es decir la casa está
digamos que no hay
mucho por donde una
o dos puedan veamos
es que estoy con un ritmo
digo al mismo tiempo
con esto para allá
con lo otro preferiría
No,
si puedes quedarte
pero sucede
§§§
(Yanko González, lendo no festival chileno Poquita Fe, 2008)
sábado, 22 de novembro de 2008
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