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Em seguida, leu o poeta português Gastão Cruz (Faro, Portugal - 1945), "membro" do grupo conhecido pelo nome da revista que editou, Poesia 1961, que incluía ainda Luiza Neto Jorge, Fiama Hasse Pais Brandão, Casimiro de Brito e Maria Tereza Horta. Um poeta muito delicado e inteligente, tivemos uma longa e divertida conversa depois da leitura, sobre poetas brasileiros (João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos) e portugueses, como Herberto Helder, Ruy Belo, Alberto Pimenta e Adília Lopes, assim como sobre o poeta Luis Miguel Nava (assassinado aos 37 anos, em 1995), e também sobre a revista que co-edita, a Relâmpagos. Foi um prazer conhecê-lo.
ESPECTROS, poema de Gastão Cruz
Restas Dentro da
luz nascido
erraste nas areias que
foram para ti o universo Estás
em tempos diversos onde a ave
que sobrevoa agosto até ao
extremo já não te vê e tu
não podes ver
as asas que te queimam
Mas a vida descobre-te sozinho
tropeçando na carne dos
espectros E tu
restas
Essa luz é
o nada A praia já entrou
no verão
infinito A aurora eterna
expulsa-te Mas
restas A memória
interpreta-te és a
vítima do dia que te recusa
e exibe Nessa
luz da origem
sobrevives
interrogando o corpo incorruptível
§
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Fui o penúltimo a ler. Iniciei minha leitura com meu texto-para-performance en inglês "This is the voice", lendo em seguida os poemas "Linear", "Mula", "Sempre o exílio" e "falar hoje exige", precedidos por suas traduções para o alemão, lidas pelo poeta Alexander Gumz (que leu as traduções para o alemão de todos os poetas da noite). Terminei a leitura com o poema em inglês "Poem (for Jonas Lieder)".
Encerrou a noite o poeta dinamarquês Morten Søndergaard, com um trabalho bastante interessante.
Hoje ocorre a segunda noite do festival, com o meu querido colega Tomaž Šalamun (que nasceu em Zabreb, na Croácia, em 1941, mas cresceu e vive em Liubliana, na Eslovênia), um dos mais conhecidos poetas europeus contemporâneos. É a segunda vez que lemos juntos em um festival este ano. Um cavalheiro delicadíssimo.
Lê ainda a minha queridíssima Nora Gomringer, com quem divido o microfone pela terceira vez (lemos/performamos no mesmo festival em Barcelona em 2007 e mais tarde em Madri, em maio deste ano). Nora Gomringer é filha do poeta Eugen Gomringer, sim, aquele da fundação internacional da Poesia Concreta, e sua filha é uma das mais importantes poetas-performers da Alemanha. Delícia de criatura.
(Nora Gomringer em Barcelona, "Du baust einen Tisch", com tradução para o catalão, acompanhada pela banda Bradien)
Um comentário:
ric, quantas coisas boas. é o que merece alguém que baixa a cabecinha e trabalha, como você.
te mando um beijo desde uma zuid-holland com névoa.
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