segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tradução para Jerome Rothenberg

A Noiva Mecânica

já não é mais mecânica, hoje
não nem amanhã
alicerçam-na sob o túnel
que leva seu nome
triste noiva
teus rebordos minúsculos incham & caem
o homem que compra teu conversível
guincha-te até o baile
mecânica e brilhosa
como um cérebro maquinal
o papa do DADA galga-te
chupa teus tubos
mais tarde há-de bombear seus arrebites nas
tuas almofadas de látex

(tradução de Ricardo Domeneck)

§

The Mechanical Bride

no longer is mechanical, today
not nor tomorrow
they prop her under the tunnel
that bears her name
sad bride
thy tiny flanges swell & fall
the man who buys thy roadster
hauls thee to the dance
mechanical & beaming
like a brain machine
the pope of DADA mounts thee
sucks thy pipes
later will pop his rivets on
thy rubber cushions


Jerome Rotherberg nasceu na cidade de Nova Iorque, em 1931. Ainda que seja contemporâneo dos poetas do grupo que ficou conhecido como Escola de Nova Iorque (Frank O´Hara, John Ashbery, James Schuyler, Barbara Guest e Kenneth Koch, entre outros da primeira geração), Rothenberg manteve-se independente mesmo das poéticas mais conhecidas do pós-guerra, entre os chamados "New Americans", devido à antologia organizada por Donald Allen em 1960, intitulada New American Poetry. O poeta estréia neste mesmo ano de 1960, com a coletânea White Sun Black Sun. No fim da década de 60, Jerome Rothenberg torna-se um dos principais teóricos e criadores do que ele viria a chamar de "ethnopoetics", centrada neste momento na antologia Technicians of the Sacred (1968). Unido ao poeta-performer David Antin, passa a editar também a revista some/thing, publicando vários poetas norte-americanos que retomam as estratégias da primeiras vanguardas, contextualizando-as ao novo momento político.

Uma das características interessantes da antologia Technicians of the Sacred foi a tentativa de Rothenberg de borrar, na verdade, as fronteiras que separavam as poéticas ocidentais modernas das poéticas mundiais "arcaicas" (uso a expressão nos termos de Mircea Eliade, e não com os preconceitos euro-etnocêntricos), ligando em arco poetas de culturas não-ocidentais a certas vanguardas européias, vendo, por exemplo, em DADA mais que niilismo destrutivo e anti-tradição, mas (como tenho defendido) o retorno a características dormentes do trabalho poético, que se torna muito mais que mera franquia da literatura.

London Onion - Jerome Rothenberg
(Jerome Rothenberg, "London Onion", 1985)

DADA se tornaria uma espécie de "musa" para Rothenberg, nas palavras da poeta Diane Wakoski, poeta ligada também ao grupo da "Deep Image", com Rothenberg, Robert Kelly e Clayton Eshleman.

Este retorno às estratégias do grupo do Cabaret Voltaire liga poetas como Jerome Rothenberg, David Antin e Clayton Eshleman aos poetas do Grupo de Viena, como H.C. Artmann e Gerhard Rühm, ou a poetas franceses como Henri Chopin e Bernard Heidsieck.

Em 1981, Rothenberg publica a coletânea That DADA Strain, em que sua musa dadaísta ganha voz e signo. No prefácio ao volume, ele escreve: "Ninguém, é claro, realmente é DADA hoje, mas a resistência (enquanto esta continua) pode tomar o suficiente de um olhar para o passado e considerar os que nos precederam. Vista desta forma, sua liderança seria através da linguagem - seu colapso e reconstrução - que os levou a inventar novas linguagens..."

Abaixo, uma das "Horse Songs" em performance de Rothenberg.

Horse Songs I - Jerome Rothenberg
(Jerome Rothenberg, "Horse Songs 1")

Nenhum comentário:

Arquivo do blog