Até meados do ano passado, estava entregue a uma pesquisa obsessiva e apaixonada nos arquivos de algumas das vanguardas históricas do início do XX, em especial os poetas do Cabaret Voltaire e da revista DADA. Viver na Alemanha facilitava o processo, já que muitos deles escreveram em alemão, como o deslumbrante Hans Arp, além dos trabalhos interessantíssimos de Kurt Schwitters, Raoul Hausmann e da artista visual Hannah Höch.
Em francês, minha pesquisa me levou a realmente LER o senhor Tristan Tzara, já que os manuais de história da literatura contentam-se apenas em reproduzir o texto "Como fazer um poema dadaísta", aquela witty anedota (com a qual, no entanto, há implicações inteligentes a aprender), sem se preocupar em buscar os poemas do romeno, que são excelentes. Há quem prefira, obviamente, ler André Breton. Oh well. Breton era francês, etc, sabe como é. Entendia de marketing, etc. Paciência, etc. Parece-me incrível que Breton seja muito mais famoso que um francês genial como Pierre Albert-Birot. Mas... paciência. Como dizia Gertrude Stein sobre Breton: "You and I know he won´t be read for long."
A mesma pesquisa, em busca de parâmetros para o meu próprio trabalho, me levou aos poetas-performers do pós-guerra, Henri Chopin e Bernard Heidsieck, por exemplo, ou aos poetas do Grupo de Viena, do qual H.C. Artmann viria a se tornar uma referência muito importante para mim.
Há cerca de um ano, no entanto, minha pesquisa expandiu-se, abriu o foco. Comecei a perceber que a narrativa histórica distorcia não apenas as vanguardas, geralmente colocadas todas no mesmo balaio, sendo tão distintas entre si. Senti a necessidade de retornar a certos poetas do passado, provar neles, e contra eles, os parâmetros que vinha estabelecendo a partir de certos poetas dos séculos XIX e XX. Foi assim que passei a ler, obsessivamente, entre 2008 e este ano de Nosso Senhor, poetas (e seus críticos) como Safo de Lesbos, Caio Valério Catulo, François Villon e trovadores como Arnaut Daniel, Bertran de Born, Raimbaut d`Aurenga, Beatriz de Diá, Guilherme IX da Aquitânia.
Um dos que mais me fascinam é Catulo, em quem sinto encontrar um nó, ligando em corrente e teia várias das minhas preocupações est-É-ticas. Iniciei há poucos meses um ciclo crítico sobre o jovem poeta romano na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co. Já escreveram sobre Catulo os poetas Érico Nogueira, Dirceu Villa e Ismar Tirelli Neto.
Publiquei hoje a quarta postagem do ciclo crítico, com um artigo do poeta Danilo Bueno .
Catulo, forever young, dá até vontade de cantar.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
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3 comentários:
me lembro da surpresa que foi ler catulo pela primeira vez, em 2006. ganhei do editor chileno kurt foch uma antologia traduzida pelo ernesto cardenal. naquela época, já tinha ouvido falar de catulo, claro, mas não achei que fosse gostar tanto. forever young. acendo meu isqueirinho pra ele.
Dos clássicos latinos, é o que mais me interessa. O rapaz, de quem hoje nem pó deve haver, parece-me mais atual do que muito senhor barbado respirando por aí. Ao mesmo tempo, ler o moço quase nos transporta à Roma do último século antes de Cristo. Gosto demais de poeta urbano.
os poemas dele estão vivos. foi essa a impressão que tive. é incrível.
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