segunda-feira, 27 de julho de 2009

Berlinenses e suas obsessões est-É-ticas

Um dos espaços de artes visuais de que mais gosto, aqui no Berlimbo, é a Berlinische Galerie, museu de arte moderna, fotografia e arquitetura que se dedica, primordialmente, a recuperar e divulgar o trabalho de artistas visuais que nasceram ou produziram em Berlim.

No caso de exposições coletivas de grande porte, este enfoque acaba tendo um efeito bastante negativo, gerando abordagens provincianas. No entanto, já tive a oportunidade de ver, ali, retrospectivas de artistas excelentes, como foi o caso da exposição que resgatou o trabalho fotográfico do alemão Herbert Tobias (1924 - 1982), que fotografou a vida subterrânea da Berlim do pós-guerra, onde pôde criar imagens de rapazotes e moçoilas que, uma década mais tarde, tornar-se-iam importantes na História da Alemanha, jovens (até então desconhecidos) como o ator Klaus Kinski, a cantora-ícone Nico e aquele que viria a se tornar um dos líderes da Facção do Exército Vermelho: Andreas Baader.


(Herbert Tobias, "Andreas Baader em Berlim", 1961)

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(Herbert Tobias, "Klaus Kinski e Thomas Harlan", 1952)

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(Herbert Tobias, "The Berlin-Party is over!", 1961)


Dedicando-se à arte produzida em Berlim, há naturalmente um foco no grupo berlinense de DADA. Foi ali que, no ano passado, foi possível ver a impressionante retrospectiva de Hannah Höch (1889 - 1978).


(colagem de Hannah Höch, 1919)



(Hannah Höch, "A menina linda", 1919)

Berlim produz, eu creio, uma característica bastante marcante na personalidade de seus artistas. Aqui, sempre houve uma obsessão pela investigação da historicidade do fazer artístico. Foi a cidade que gerou críticos como Walter Benjamin e dramaturgos como Bertolt Brecht e Heiner Müller. O grande romance modernista berlinense é a obra Berlin Alexanderplatz, de Alfred Döblin, publicada em 1929, que destrinça a Alemanha da República de Weimar. Em Berlim, a revolta ética e estética dadaísta assumiu seus contornos mais combativos e politizados, nas obras de Raoul Hausmann, Hannah Höch e John Heartfield; da mesma maneira, o expressionismo de Otto Dix e George Grosz. Isso pode ser sentido com força na arte alemã em geral, em artistas do pós-guerra como Joseph Beuys, Gerhard Richter e Sigmar Polke, ou no cinema de Alexander Kluge e Rainer Werner Fassbinder, que morreu na cama, com um cigarro na boca e o roteiro de seu próximo filme nas mãos, que se chamaria "Rosa Luxemburg".


(John Heartfield, "Auto-retrato", 1920)

Este mês, a Berlinische Galerie está mostrando os trabalhos de dois artistas ligados à cidade. Um deles é o dadaísta John Heartfield (1891 - 1968), pouco mencionado na historiografia das artes visuais, sempre mais preocupada com movimentos gerais, do que com os artistas que os formaram. Heartfield foi um dos artistas gráficos mais importantes dentre os dadaístas. Foi também um combatente incansável e dissidente contra a propaganda nazista, criando sua contra-propaganda.



Fotomontagens de John Heartfield


(John Heartfield, "Carvalhos alemães", 1933)

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(John Heartfield, "Acabou a manteiga, comamos aço", 1933)

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(John Heartfield, "Göring, o carrasco do Terceiro Reich")

São pessoas que não buscam tanto o papel do artista obcecado com sua tekhne e seu daimon, mas que decidem se tornar interventores (gosto do neologismo "intervencionista"), fascinados pela conjunção entre ética e estética, história e arte. Precisamos dos dois grupos, tanto dos artistas, como destes interventores.

O outro berlinense, este de adoção, recebendo uma retrospectiva no espaço é o continuador, de certa forma, do trabalho de dadaístas como John Heartfield: o artista gráfico Klaus Staeck.


(Klaus Staeck, "Vaterland")

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Um comentário:

Maira Thorley disse...

adorei! quer ser meu orientador na minha dissertação??? :-)
tava com saudade de ler seu blog.

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