sexta-feira, 17 de julho de 2009

"O anjo da reprise"

O anjo da reprise

Fé cega no informe
dos olhos os dedos
de Tomé
pela ferida do prego
distância bússola
e intransigência
do horizonte
pela cabeça
da mulher
de Ló talvez
apenas a certeza
de não
ser capaz do olvido:
o único inominável
é o long forgotten
ou cego de ciúmes
o medo de ter à cama
um monstro
define o que se troca
entre os olhares
de uma Psiquê
erotizada e um Eros
psicótico
no instante à vela
e agora
vejo-te em parte
e aguardo
sentado pelo relatório
de Medéia sobre a lição
de quem arrisca urrar
"meu reino
por um amante
"
já que nessa
novela não
veremos o rosto
de Jasão sem filhos
jazer em divórcio
sobre as folhas
enrodilhado
ou de joelhos
a barba de três dias
e o sol queimando
as unhas o quotidiano
longe dos olhos
ou o anjo
que volta o rosto
sempre à espera
das facas às costas

§

Ricardo Domeneck, Sons: Arranjo: Garganta, no prelo. Poema publicado pela primeira vez na edição de julho da revista Sala Grumo.

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