segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tetine com Mula em anexo

Publiquei hoje, na franquia eletrônica da Modo de Usar & Co., um artigo sobre o duo paulistano/londrino Tetine, formado por Eliete Mejorado e Bruno Verner, com a postagem de alguns de seus trabalhos em música-vídeo e performance oral. Você pode visitá-la AAQQUUII.

Descobri o trabalho do Tetine quando eles lançaram o álbum/espetáculo "Música de amor", em 1999. Lembro-me de ouvir este álbum repetidas vezes nos dois anos seguintes. Lembro-me também de usar sempre uma citação da faixa-título do álbum "Alexander´s Grave" (1996), o primeiro do Tetine, em que Eliete Mejorado diz "Do you think I have no pride just because I have no shame?"... ainda é uma das minhas frases favoritas, assim como às vezes, out of the blue, sinto vontade de dizer: "According to the latest theories, Time is simply a useful tool and dimensional construct for organizing realities / So in 1987 I got a job as a tourist guide", no poema sonoro "Russian Roulette". Eu amo a non sequitur que gera o poético nestas linhas.

Trombava com eles no subterrâneo de São Paulo, em festas e performances, mas fui conhecê-los pessoalmente apenas em 2006, quando eles já viviam em Londres e eu em Berlim. Sabendo que eles estariam aqui no Berlimbo para uma performance no teatro Hebbel am Ufer, escrevi-lhes perguntando se eles gostariam de ficar alguns dias mais na cidade, para fazerem uma outra performance no nosso evento-intervenção semanal Berlin Hilton, our own private Cabaret Voltaire. Nosso relacionamento artístico e de amizade data deste momento. Desde então, já nos apresentamos juntos em Londres, criei com amigos o selo Kute Bash Records apenas para relançar em vinil seu "L.I.C.K. My Favela" e colaboramos no poema "Mula", texto meu que eles oralizaram e musicaram em 2007. Segue abaixo o poema, em vocalização do Tetine e vídeo de Eugen Braeunig:


(Tetine & Ricardo Domeneck, com vídeo de Eugen Braeunig, 2007)

§

Mula


..............Minha
senhora: os unicórnios
que caem com a raiz
não
voltam mais; ainda
que van-goghs até
que engasgues,
.......sigo mula
a indiciar o caso
excepcional
do sem espécie,
self-archived tool, exílio
............dos catálogos
a especificar o espaço
para a porcentagem da escolha
do puro, alheia que se agita
antes de abrir, dose cavalar
de juramento e
egüidade. Poupa-me,
Popeye: longe de mim
impor-me híbrida
à tua hípica -
brutalmente homogênea,
especialista em fronteiras,
.......eject de habitat,
eis-me, excelentíssimo,
a de cascos
.......não-retornáveis,
nula nulla
tal qual high bred hybrid
relinchando o já morto:
muslos de mulícia,
esterilizável, aureolar,
............multívaga
....... ambiqüestre
....de mulas prontas,
perdoai vossa serva
preguiçodáctila aos berros
perturbando vosso áureo
piquenique do sublime,
.......illicit mule
espirrando em vosso épico.
............Não
há Blade
Runner que resista
mesmo euzim
..............fake mullah,
insciente dos teus métodos,
ó sussurrável, hoof muffler
da palha de meu estofo.
Prometo-me estóica
.........e subcutânea,
bem fazes em esporear-me
o couro catecúmeno à chuva
do teu cuspe, inestimável
senhor de eco intumescido:
.......até que a mula
.......aqui fale
como manda
o figurino,
e encontre a exit
de quem às caras
me dera lamber o mundo
com a própria língua: mulo
fundindo
.......com a função da forma
os extremos do exorcício e
a fanfarra do sem categoria.


Ricardo Domeneck
Berlim – agosto mês de desgosto, 2007

§

Conduzi esta entrevista com eles em Londres, em 2006, postada mais tarde na revista eletrônica FLASHER, que eu editava naquela época.



§

Você pode saber mais sobre o Tetine AAQQUUII.

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