segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Das heranças das decepções

Seja para sair pela porta da frente ou receber pelo correio o convite para retirar-me, carrego as próprias pernas com os dentes, cão com o rabo entre as costelas, e faço ligação a cobrar para o serviço de atendimento ao perdedor que derrota o derrocado. Minhas mandíbulas desacostumaram-se das mordidas, culpa dos meses em que ladrei apenas com legendas. Existir foi um interurbano dublado. Meu filho, cessar fogo não é anistia universal. Promessa é dúvida? Exijo metade dos pratos, metade da água e da penicilina, metade da cicatriz e do triz por que não me salvei, metade das canções expulsas da república de plantão: a primeira inundação passou e declarei estado de calamidade pública, no deserto pós-coito da segunda instituí estado de sítio, de agora em diante decreto entre os dentes: Medéia pouca é bobagem. Só quem carregou navalhas entre os dedos dos pés, para pisar leve e não despedaçar o peito de plexiglass alheio sob os cascos, sabe o que é um hipopótamo triste. Na vitrola, a morta cantarola "Meu mundo caiu" e digo com toda a honestidade da queda e do mundo: Tomara que caia, Maysa. Sempre confundi massa e peso, vocês sabiam que sou dessas colheres que só dizem sim. Rotação e translação já me cansaram como desculpas para as elipses dos outros, mas perdôo tudo se for bom o vinho tinto. Do primeiro herdei umas canções dos Cocteau Twins, do segundo nada além da escabiose da insônia e o terceiro está me devendo os olhos hipotecados da cara. Minhas exigências eram simples, bastava aceitar a osmose, as estações. Hibernarei mais uma vez até que vossos miocárdios de plástico se biodegradem e fertilizem o rádio-relógio que me despertará. Retornarei, serei uma Medéia-Maysa de marshmellow gigante, e ghostbuster nenhum há-de salvar-vos, desertores dos meus cafunés em guerrilha.

Um comentário:

Anônimo disse...

não sei quem são, mas sei que estão perdendo.

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