sexta-feira, 18 de março de 2011

Ao contemplar as franjas de Louise Brooks



Quando vejo filmes ou fotos com as estrelas do cinema na década de 20 e 30, hoje quase completamente esquecidas, tenho sempre esta sensação que talvez tenha sido melhor descrita por Gregório de Matos ao escrever:


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.



É um dos temas mais antigos no mundo, desde que poeta é poeta. É Robert Frost escrevendo o famoso:


Nature's first green is gold,
Her hardest hue to hold.
Her early leaf's a flower;
But only so an hour.
Then leaf subsides to leaf.
So Eden sank to grief,
So dawn goes down to day.
Nothing gold can stay.



Foi com isso em mente que comecei um poema com os versos: "Oblivion não / me assusta, / Claudette Colbert." Penso também no pequeno poema de Rose Ausländer, aqui em minha tradução:

Ainda estás aqui

Lança teu medo
aos ares

Em breve
acaba teu tempo
em breve
cresce o céu
sob a grama
despencam teus sonhos
nenhures

Ainda
cheira o cravo
canta o melro
ainda tens um amante
e palavras para doar
ainda estás aqui

Sê o que és
Dá o que tens



Andei com Louise Brooks na cabeça esta semana, uma mulher que, oitenta anos depois de seu sucesso em Hollywood, ainda me parece um dos seres mais modernos e fascinantes desde então. Certamente, Liza Minelli tinha Brooks em mente ao criar sua atuação para a personagem de Christopher Isherwood, Sally Bowles, no musical de Bob Fosse, Cabaret (1978).





Louise Brooks no entanto ficará na tela de nossa mente a partir dos filmes de Howard Hawks e G. W. Pabst, após ser boicotada por Hollywood. Muitos não sabem, mas a "lenda" das atrizes do cinema mudo que não tinham voz para atuar no cinema falado foi em muitos casos usada para destruir a carreira de atrizes que haviam se tornado poderosas ou influentes demais, como no caso de Louise Brooks, que se recusou a dobrar-se aos caprichos de do estúdio Paramount e tornou-se persona non grata, tendo sua carreira aos poucos destruída. E nós fomos roubados de mais trabalhos de uma das criaturas mais incríveis do século passado, que poderia ter feito tantos outros filmes mais. Mas é isso, Louise Brooks, você hoje é ícone, algumas de suas colegas tiveram fins mais tristes, como Clara Bow por exemplo.

Estou doido para encontrar o documentário Memories of Berlin: The Twilight of Weimar Culture (1976), que traz entrevistas com Louise Brooks e ainda Christopher Isherwood. Abaixo, você pode assistir na íntegra aos filmes Diary of a lost girl (1929) e Pandora´s Box (1929), ambos de G. W. Pabst, filmados em Berlim.



Primeira parte do filme Pandora´s Box (1929), de G. W. Pabst, com Louise Brooks.


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Primeira parte do filme Diary of a lost girl (1929), de G. W. Pabst, com Louise Brooks.

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