sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um poema de Faiz Ahmed Faiz e sua consciência oral exemplar

Faiz Ahmed Faiz (1911–1984) foi um poeta paquistanês de língua urdu. Eu primeiro o descobri através de um vídeo em que ele oraliza um de seus poemas na companhia de amigos, talvez admiradores. O que mais me fascinou foi sua "leitura" do texto. Era como se ele estivesse apenas conversando com aquelas pessoas. Me fez pensar também no conselho de Pound em carta a Harriet Monroe, que já mencionei aqui em artigo sobre os poemas de Hilda Machado, quando o americano diz: "nada – nada que você não possa, em alguma circunstância, sob a tensão de alguma emoção, realmente dizer."

Pessoalmente, esta proposição de Pound tem estado muito presente em minha mente, em meu próprio trabalho. Quem acompanha os poemas recentes que tenho postado aqui talvez tenha percebido algo. De qualquer forma, não acho que a proposição deva ser restritiva, duvido que Pound a quisesse assim.

No caso de Faiz Ahmed Faiz, como não falo urdu, não sei uma palavra sequer na língua, não posso julgar seu aspecto textual. As traduções para o inglês que tenho lido mostram um poeta de simplicidade e sabedoria. Ele tem se tornado um favorito. Ouça sua oralização do poema no vídeo abaixo, com tradução para o inglês. Note como praticamente não há qualquer mudança de voz entre sua introdução ao poema e o poema em si. É como uma conversa entre pessoas emocionadamente inteligentes, inteligentemente emocionadas. O vídeo então corta para imagens do país e a voz da cantora Nayyara Noor, cantando o mesmo texto. São duas possibilidades para o mesmo poema. Tenho aprendido com este vídeo, com Faiz Ahmed Faiz, aquela roda de pessoas respondendo a um texto, unidas ainda às possibilidades dadas pela voz bonita de uma cantora.






É como uma simplicidade sofisticada. Me pergunto se de alguma forma se trata da sensibilidade de poeta que já provou gosto de celas. Sinto um pouco disso ao ler também, por exemplo, o turco Nazım Hikmet (1901 – 1963), o grego Yiannis Ritsos (1909 — 1990), alguns outros. Temo que para eles nossos debates sobre função social do poeta pareceriam ladainha de literatos. Eles tiveram poemas queimados por ditadores em praça pública, e, no entanto, seus poemas jamais parecem sentir a necessidade de erguer a voz. Estou tentando aprender sobre este falar em voz baixa. Voltei a lê-los estes últimos dias, recomendo-os a vocês como quem quer compartilhar algo muito delicado, mas muito forte. Quem sabe, talvez um dia poder sentar em roda com algumas pessoas inteligentemente emocionadas, emocionadamente inteligentes, e, sem descuidar demais do textual, poder apenas dizer um texto, que só venha a ser chamado de "poema" por questões de convenção.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Me ha parecido sumamente interesante esta otra manera de "decir" poesía, o como usted dice muy acertadamente, "oralizarla". El poema se integra en la conversación, permite la interacción por la manera tan "conversacional" en la que el poeta actúa.
Dennoch, in Ihrer Analyse merke ich eine zu starke Konzentration auf der Rolle des Dichters/Sprechers... ich denke, dass hier auch sehr wichtig die Rolle des Rezipienten ist. Der Dichter kann leise sprechen, weil die anderen es auch erlauben; der Dichter kann mit den anderen interagieren, weil die anderen dazu vorbereitet sind. Ausserdem, (und das ist nur eine Vermutung, ich kenne mich nicht in der Kultur Pakistans aus) vielleicht handelt es sich um ein kulturelles Merkmal, um eine andere Tradition, Lyrik zu präsentieren und zu interpretieren, und nicht so sehr eine individuelle Strategie dieses Dichters.

Ich finde, ein jedes Gedicht beansprucht eine individuelle Strategie der "oralizaçao". Ich weiss nicht, ob diese Art und Weise, die sie in diesem Post präsentieren immer und in jederm Fall die beste wäre.
Ich habe diese Änderungen, von denen SIe sprechen, doch feststellen können. Und dennoch mag ich auch sehr, wie Sie in anderen Gelegenheiten einige ihrer Gedichte präsentiert haben...z.B. bei Lyrikline und so...


Gracias por la interesantísima entrada de hoy.

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