terça-feira, 19 de abril de 2011

Vídeos e trabalhos novos de amigos que conjugam texto e música: o duo Tetine, Florian Pühs e sua banda Herpes, e a belga-ruandesa Barbara Panther

Já escrevi várias vezes aqui sobre estes amigos, pessoas que respeito e admiro. Aqui seus mais recentes vídeos, extraídos de seus mais recentes álbuns.

§ - "Voodoo Dance", do Tetine, extraído do álbum Voodoo Dance & Other Stories (Slum Dunk Music, 2011).





Eliete Mejorado e Bruno Verner formaram o Tetine em 1995 e desde então vêm produzindo alguns dos trabalhos mais interessantes nas fronteiras entre performance, vídeo, poesia e instalação. Desde o início do século estão radicados em Londres, onde já organizaram para o importante selo Soul Jazz Records compilações de música brasileira, como a já lendária antologia The Sexual Life of the Savages: Underground Post-Punk from São Paulo (Soul Jazz Records, 2005), além de estarem entre os responsáveis pela disseminação de nomes como Tati Quebra-Barraco e Deize Tigrona entre os produtores de electro, grime e outros gêneros híbridos europeus. O duo já colaborou com Sophie Calle e Robin Rimbaud, suas performances e instalações foram vistas no Palais De Tokyo (Paris), no Museu Serralves (Porto), na Bienal de Liverpool e no teatro berlinense Hebbel Am Ufer. Na Whitechapel Art Gallery, em Londres, tiveram sua estreia europeia em 2000 com a performance sonora Tetine: The Politics Of Self Indulgence. Com dois amigos alemães, criei o selo Kute Bash Records apenas para relançar em vinil seu trabalho L.I.C.K. My Favela (Kute Bash Records, 2006), e criamos juntos a peça "Mula", uma das coisas que mais me alegraram na vida. Este é o décimo-primeiro álbum do Tetine. O vídeo para "Voodoo Dance" foi dirigido pela própria Eliete Mejorado (maravilhosa), como praticamente todos do duo. Nos últimos dois álbuns, o Tetine tem nos dado exemplos do que a música pop brasileira também pode ser.




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§ - "Das Karnickel im Hut", do Herpes, extraído do álbum Symptome und Beschwerden, com lançamento previsto para maio deste ano pelo selo Tapete Records.






Florian Pühs é o vocalista e letrista da banda de synthpunk alemã Herpes, formada em 2008. Aos 16 anos, por volta do ano 2002, Florian começou a angariar sua reputação no subterrâneo punk alemão com sua banda Surf Nazis Must Die, que desde o seu fim atingiu cult status na Europa e principalmente nos Estados Unidos. Eu o conheci em 2005 e tornamo-nos amigos, ele discoteca com frequência no meu evento semanal, mostrando seu lado de produções de techno. Symptome und Beschwerden (Tapete Records, 2011) é o segundo álbum de sua banda atual, Herpes.

No ano passado, com Das Kommt vom Küssen (Tapete Records, 2010) os textos satíricos de Florian Pühs já haviam ganhado fãs e desafetos para a banda, estes últimos entre os que não compreendem bem a ironia do letrista e poeta satírico alemão, nem sua marca pessoal de humor autodepreciativo (meu tipo favorito de humor). "Das Karnickel im Hut" é o novo single da banda, que traduz como "o coelho na cartola" e tem uns momentos legais, como no refrão:


"Und auch wenn das Kanninchen im Hut verschwindet
scheisst es dir früher oder später auf den Kopf”



"E mesmo que o coelho desapareça na cartola,
cedo ou tarde acaba por cagar-lhe na cabeça"

Ou então na parte final, exemplo típico da ironia de Florian Pühs, que acaba gerando desafetos:

Ich baue mir eine Karriereleiter
Und steige hinab in den Schützengraben
Oh Hallo lieber Opa
Du Loser hast auch keinen einzigen Krieg gewonnen
Ich bin das Lachen am Ende der Leiter



É difícil traduzir o jogo de palavras aqui. "Karrierleiter" é a noção de carreira profissional, algo como "escada carreirista", expressão para os que buscam (quem sabe mais sensatos que nós) sucesso financeiro. Pühs usa a ideia de "escada" no sentido também literal, para subir na vida e, no verso seguinte, usar a escada para "descer às trincheiras". Aí vem o sarcasmo e a ironia:

Eu construo uma "escada/carreira" profissional
E desço às trincheiras
Ô, olá, querido avô
Seu loser, não ganhou guerra alguma
Eu sou a gargalhada ao fim da "escada"


Eu curto muito. Para mim, é uma das possibilidades da poesia satírica contemporânea, aliar-se a guitarras. Obviamente, não para aqueles que acham que a poesia só pode habitar o sublime ou o órfico. Os que não leem Marcial, por exemplo.




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§ - "Moonlightpeople", de Barbara Panther, extraído do álbum Empire, com lançamento previsto para maio deste ano pelo selo City Slang.




Conheço Barbara Panther desde 2006, quando ela primeiro se mudou para Berlim, vinda da Bélgica. Ela nasceu em Ruanda, mas cresceu na Valônia. Foi em nosso evento às quartas-feiras que ela se apresentou pela primeira vez na Alemanha. Após anos à procura de uma gravadora, no ano passado ela teve a sorte de que o genial músico e artista britânico Matthew Herbert se apaixonasse por sua música, fazendo com que a belga-ruandesa encontrasse casa fonográfica no selo City Slang. Esperamos com ansiedade por esta estreia tardia de uma mulher muito talentosa. Mesmo que talvez não particularmente neste "Moonlightpeople", Barbara tem um talento lírico-textual muito forte, algumas de suas letras são muito potentes. Além desta música que simplesmente me pega pela jugular.






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