quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma façanha: "Winter´s Bone" (2010), filme de Debra Granik

Assisti há alguns dias ao filme de Debra Granik, Winter´s Bone (2010), com o formidável John Hawkes e ainda Jennifer Lawrence, uma moça muito jovem que parece ter o duende, como diria Lorca. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar: melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor atriz e melhor ator coadjuvante. Foi para casa de mãos abanando.

Não li o romance de Daniel Woodrell no qual o filme foi baseado, portanto não darei palpites sobre esta categoria. Azar grande o de Jennifer Lawrence, novata talentosíssima, de ter que competir com a atuação da já quase veterana Natalie Portman em Black Swan. E confesso que realmente não saberia dizer qual atuação é mais assustadora e magistral, se a de Christian Bale em The Fighter (que levou a estatueta fálica) ou a de John Hawkes em Winter´s Bone. Uma coisa no entanto me parece certa: só a covardia da tal de Academia em Hollywood explica que um filme excelente e tão memorável como Winter´s Bone seja preterido pelo no máximo corretinho e competente The King´s Speech. Ainda que eu tenha saído do cinema, depois de ver Black Swan, certo de que Darren Aronofsky havia criado um clássico nos moldes dos clássicos (tirando os parcos efeitos especiais, o filme poderia ser tanto de 1950 quanto de 2010), eu hoje diria que Winter´s Bone talvez seja o mais est-É-ticamente ousado dentre os filmes que concorriam.

Soube agora que no Brasil o filme receberá o título péssimo, cafona e ridículo de Inverno na Alma. Cinzas sobre a cabeça do poetastro que teve esta ideia de péssimo gosto e péssima poesia, dando a esta obra de arte os ares de uma minissérie porca qualquer da Rede Globo. As criaturas responsáveis deveriam ser banidas da convivência com os articulados e de qualquer profissão em que seu uso da língua atinja maior número de pessoas que o possibilitado pela potência e volume de suas vozes. Os portugueses deram ao filme o nome Despojos de Inverno. Melhor, certamente, que o título brasileiro. Pessoalmente, optaria pela tradução literal, Osso do Inverno, que aponta simplesmente para a cena mais assustadora do filme, e uma das mais horripilantes (e loucas em seu realismo) de que tenho memória. Não vou descrever a cena pois isso realmente estragaria a experiência de quem ainda não viu o filme.

Quando o filme começou, achei que talvez fosse ambientado nos Apalaches, especialmente pelo uso de canções do folk americano na trilha sonora, mas trata-se de uma história a se passar nos Ozarks, de que confesso jamais ter ouvido falar antes, uma cordilheira localizada nos estados de Missouri, Arkansas, Oklahoma e Kansas, entre os rios Arkansas e Missouri. O filme foi gravado todo em Missouri.

A trama é muito simples: uma menina de 17 anos (interpretada por Jennifer Lawrence) que cuida sozinha da família pois a mãe enlouquecera e o pai, que produz e vende metanfetamina, parece viver entrando e saindo da cadeia, precisa encontrá-lo para não perder sua casa, que ele dera como garantia de que compareceria ao tribunal para seu julgamento, conseguindo assim liberdade condicional. Debra Granik lança mão de uma narrativa e poética que parecem ser ao mesmo tempo neorealismo e expressionismo. Não se sabe se estamos assistindo a um filme de terror, um thriller policial, cinema social ou algum gênero que toma elementos da tragédia grega ou do teatro isabelino. Além disso, a fotografia dá-nos a impressão de estarmos diante de um novo gênero: o country noir. Saí do cinema boquiaberto. O filme me parece verdadeiramente uma façanha e recomendo muito a experiência est-É-tica que ele proporciona.







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Um comentário:

reuben disse...

Quando o assisti, havia meses que não saída tão alquebrado de uma sala de cinema. Imediatamente quis roubar o título, Osso do Inverno, mas acabei apenas guardando-o no coração.

Meu caro, muito em breve lhe envio notícias. Estou terminando de revisar o primeiro dos ensaios.

Forte abraço

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