sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Duas leituras impressionantes: Olson e Ungaretti

Oralizar textos poéticos, destinados originalmente à página, é uma arte difícil. No Brasil, os anos de hegemonia visual e a quase inexistência de uma tradição de leituras e poesia sonora, apesar de toda a nossa tradição lírica/musical, fizeram com que os poetas brasileiros se tornassem leitores extremamente tímidos de seus próprios textos. Talvez pelo medo do "discursivo", do "verborrágico", que por anos pairou sobre a poesia brasileira como uma das piores invectivas que se poderia receber? Talvez, talvez. Minhas primeiras leituras públicas, em São Paulo e Buenos Aires, em 2006, foram um choque pessoal e parte do início de minha pesquisa da fronteira entre a escrita e a oralidade, que eu já iniciara (em escrita) no livro a cadela sem Logos, publicado em 2007 mas escrito entre 2004 e 2006; e que me levaria aos poetas sonoros ligados à revista DADA, ao Grupo de Viena, a poetas como Bernard Heidsieck e Henri Chopin, e a meus contemporâneos, como Eduard Escoffet (Catalunha), Nora Gomringer (Alemanha) ou Marcelo Sahea (Brasil), entre vários outros.

Abaixo, duas leituras que me parecem impressionantes. Primeiro, a de Charles Olson para seu poema "Maximus to Gloucester, Letter 27 [withheld]", gravada em março de 1966. Depois, a de Giuseppe Ungaretti para seu "Inno alla morte". Teatrais? Discursivas? Histriônicas? Alguns brasileiros diriam que sim. Eu as considero impressionantes, vivas, leituras que entendem o que a voz pode fazer com um texto literário.

Charles Olson - "Maximus to Gloucester, Letter 27 [withheld]"



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Giuseppe Ungaretti - "Inno alla morte"

2 comentários:

Angélica Freitas disse...

muito bom.
e ah, notava-se que o olson tava louco por um cigarrinho... :-)

Ricardo Domeneck disse...

Sim, o cigarrinho é o toque final. Bela performance, fiquei muito impressionado quando a achei no YouTube.

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