
a garota de belfast ordena
a teus pés alfabeticamente
por Marília Garcia
98 voltas pelo parque antes de cair em
círculos, parecia a garota de belfast com
sua memória dobrada como um pára-quedas
dentro do tecido eletrizado e que dizia pode ou não pensar
em algo definitivo. enquanto falava descia a
escada lateral recortando os ruídos
da orquestra. a roda da bicicleta
girando em loop esfarelando os
reflexos no ar e seis horas parada diante
do ralo, pode ou não pensar, sentada na beira do
quarto. olha de longe quando o carro
passa, descer à noite pelos trilhos
quando tudo é uma vingança, levanta
para ouvir direito e não tem mais o eco
(passagem é a ligação externa
entre os dois prédios).
fala de pontes atravessando os túneis
da cidade e ordena a teus pés
alfabeticamente
A anoitecer sobre a cidade
A câmera em rasante
A correspondência
A curriola consolava
A dor
A espera
A intimidade era teatro
e depois de algumas linhas
A tomar chá, quase na borda
A voz em off nas montanhas
pode ou não pensar que era sua voz em mountain hill
a uma velocidade de 1 km/h ou mil. antes
de voltar para a irlanda começou a perda já. entende
que só depois de o blindex esfarinhado contra a
cabeça, só em poucos segundos até que a cabeça
contra o blindex, pode ou não, mas era apenas parte
do trajeto, não podia calcular as noites ou linhas
em que passaria.
........................como extrair o áudio de uma imagem
congelada era a etiqueta que colava nas paredes
para tentar descobrir como chegar com precisão
e ao fundo a voz pela fresta
a ordenar este livro:
Agora chega
Agora é a sua vez
Agora estamos em movimento
Agora pouco sentimental
Água
Água na boca
Agulhadas
ou vertigem das alturas. você pode acordar trinta anos
depois com a imagem ainda mais viva
quando o quarto está às cegas
As cartas
As cartas, quando chegavam
As lupas desistem
As mulheres e as crianças são as primeiras
Asas batendo
Atravessa a ponte
Atravessando a grande ponte
Atravessa vários túneis da cidade
Autobiografia. Não, biografia
Aviso que vou virando um avião
Azul deixo as chaves do 1114 soltas no balcão
Azul que não me espanta
§§§
Sampler
por Ricardo Aleixo
Da próxima vez
não tem dúvida:
mesmo que a deusa
não suba
à superfície,
sampleio
seus uivos
e torno
a querer tanto
os seios da sereia.
§§§
movido contraditoriamente por x e y
por Laura Erber
cogumelinhos podres
pot-pourri de sais aromáticos do Mar Morto
sedução do não
teoria de mascar
y outros tesouros confiscados
no rabo da baleia disfarçada de Jonas
(não tem Judas nessa história sem beijo) – desvelos
de fariseu em fuga – reciclar o velho cachimbo 18 x 10
disjuntivo and move on just play it again and
– fácil de limpar cabeça desmontável –
all those pictures na berlinda
saltos de poquita fé
teorias do talvez
e dale mais tradução
promessa de promessas removidas
desgraça contágio capitania
deserdada maltraçadas tordesilhas
cigana maltrapilha de véu
em véu ai que enjôo – risque a palavra
desejo – desatraca um dia – sorriso inteiro –
repare: hoje é fácil dar de ombros dizer
o vulnerável comungar profanações vazar
o bebê ops com a água – ou confissão
das confissões nesta pista de
luz Farnsworth quem poderia
recusar o brilho da moréia
shampoo de queratina
para fios em queda pontas duplas
pistas de pouso incerto
tratamento sedoso
aplicação intensiva – curioso,
ela já não combina com o blues
da década passada: colombina cansada
lânguido ardor depois de tudo te livrando (me pergunto
ainda
sem resposta) me virando oh dia oh
céus oh azar mas quem disse que
o meu embaraço não te ? – é por dentro,
é no cativeiro que te leio