Eduard Escoffet nasceu em Barcelona, em 1979. É um dos mais ativos poetas da capital catalã, figura central da jovem poesia experimental espanhola. Desde o fim da década de 90, ainda muito jovem, Escoffet vem organizando festivais e encontros de poesia experimental em Barcelona. Entre 2000 e 2004, foi responsável pelo Festival Proposta de Polipoesia, trazendo à Catalunha poetas sonoros e performers como Américo Rodrigues (Portugal), Nobuo Kubota (Canadá), Nathalie Quintane, Anne-James Chaton e Christophe Fiat (França), Jörg Piringer e Christian Ide Hintze (Áustria), Michael Lentz (Alemanha), Sten Hanson (Suécia), além de catalães como Dolors Miquel, Josep Ramon Roig e o mestre Bartomeu Ferrando. A primeira edição do festival teria contado com a presença do brasileiro Philadelpho Menezes (1960 - 2000), se a morte não o tivesse colhido naquela estrada entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Mesmo após o fim do festival Proposta, Eduard Escoffet segue organizando leituras e performances em Barcelona, sendo também um dos nomes espanhóis mais constantes em festivais de poesia experimental europeus.
Por muito tempo, seu trabalho esteve primordialmente ligado, segundo ele, a uma vindicação da oralidade, recusando-se à publicação. No entanto, Eduard Escoffet é um belíssimo exemplo daquele poeta verbivocovisual / multimedieval que acredito estar nascendo com força nestes últimos anos. Pois, em Escoffet, assim como em outros poetas atuais, o verbivocovisual assume um equilíbrio criativo em cada uma de suas raízes, num trabalho verbal de escrita, vocal em oralidade e visual, tanto em seu trabalho gráfico como em seu aspecto corporal, performático.
Ligado tanto à tradição da poesia moderna catalã de mestres como J.V. Foix (1893-1987) como ao trabalho do grupo barcelonês da retomada das estratégias das vanguardas no pós-guerra, o Dau-al-Set (tendo Joan Brossa como mestre maior, e ainda Antoni Tàpies, Joan Ponç e Arnau Puig), o trabalho poético de Eduard Escoffet manifesta-se como poesia sonora (ligada ao textualismo de Bernard Heidsieck e Michael Lentz), como poesia literária (fortemente marcada por uma intertextualidade rica em referências à tradição da poesia catalã medieval) e como performance, em que podemos sentir influências diversas como DADA, Fluxus, poetas como John Giorno e o grupo dos Ugly Americans (Lydia Lunch, Thurston Moore, Bibbe Hanson, etc).
Ainda que Escoffet tenha prazer em ironizar o papel de literatos na produção poética contemporânea (sabendo-se herdeiro de uma tradição poética da voz, que remonta ao século XI), o poeta catalão segue produzindo belíssimos poemas escritos, compilados em seu livro gaire, que deverá ser lançado em 2009. Além destes textos escritos, produz textos para vídeos e peças sonoras, colaborando com artistas de diversas partes da Europa.
Atacando uma noção literarizante do século XVIII / XIX (que ridiculamente se crê antiquíssima), Eduard Escoffet alinha-se aos poetas trovadores occitanos (tanto provençais, com trabalhos da simplicidade minimalista de Guilherme da Aquitânia ou a exuberância formal de Arnaut Daniel, quanto catalães como Hug de Mataplana e Guillem de Cervera), mas também às vanguardas do início do século XX, em especial DADA (que é ruptura apenas se justaposta à noção poética literarizante do século XIX, sendo DADA muito mais uma religação à tradição poética medieval) e ainda aos grupos de retomada das vanguardas do pós-guerra, como os Lettristes parisienses, o Dau-al-Set barcelonês, o Noigandres paulistano, o British Poetry Revival londrino, etc.
Apresentamos aqui alguns exemplos do trabalho poético de Eduard Escoffet, como o poema sonoro "nadala tsingtao", o texto "mtp 1" e um vídeo de sua leitura no Festival de Poesia de Berlim de 2007, quando o conheci.
POEMAS DE EDUARD ESCOFFET:
mtp 1
a)
"um escritor é aquele que impõe silêncio à palavra" – Maurice Blanchot
b)
quase às vezes / quase quase sempre
quase às vezes / quase quase sempre
o texto que digitas:
cada letra escrita tem o traço
de um corpo: os cabelos e a pele vão tomando forma:
a letra. e um nome que é desintegrado.
quase às vezes / quase quase sempre.
c)
nada há a dizer e contudo necessitamos escrever.
as palavras sulcam a necessidade e contudo as reiventamos como calafetadores:
a madeira, a madeira que já não é madeira:
madeira no crânio, madeira no tórax, madeira nas entranhas.
hoje qualquer corpo / ele é a madeira
(a de um outro escrito)
d) agora agito as mãos e se move um pouco o ar.
(tradução inédita de Ricardo Domeneck)
mtp1
a)
"un escriptor és aquell que imposa silenci a la paraula" maurice blanchot
b)
quasi de vegades / quasi quasi sempre
quasi de vegades / quasi quasi sempre
el text que estàs picant:
cada lletra escrita té la traca
d´un cos: els cabells i la pell van prenent forma:
la lletra. i un nom que es desdibuixa.
quasi de vegades / quasi quasi sempre
c)
no hi ha res a dir, i tanmateix necessitem escriure.
les paraules solquen la necessitat, i tanmateix les reinventem talment calafatadors:
la fusta, la fusta que ja no és fusta:
fusta al cervell, fusta al cor, fusta a les entranyes.
avui qualsevol cos / ell és la fusta
(la d´un altre escrit)
d)
ara bellugo les mans e es mou un poc l´aire.
mtp, 1-viii-02
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(Eduard Escoffet no Poesiefestival Berlin 2007)
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Recomendo a visita à página de Eduard Escoffet no portal Myspace, onde se pode ouvir outros poemas sonoros, ver vídeos e poemas visuais.
Basta clicar AAQQUUII: POEMAS DE EDUARD ESCOFFET
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(La Cooperative Montpellier: Eduard Escoffet, Jean-François Blanquet, Lucille Calmel e Mathias Beyler / video : Jean-François Blanquet, 2002)
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