A primeira vez que ouvi a expressão alemã "Liebeskummer", algo como "dor de amor" (a riminha vagabunda é apropriada) para o deserto que se atravessa entre um não e outro, entendi "Liebeskoma", algo como "estado de coma amoroso". Ainda considero minha versão muito mais precisa.
Queridinho, você quer se apaixonar "e" ser feliz? Quer sopinha na boca também?
Eu acredito que Fassbinder estava ligeiramente amargo quando escreveu esta peça. E creio que Ozon andava meio cínico ao filmá-la. Bem, já dizia aquela canção gravada por PJ Harvey: "Is that all there is to love? If that´s all there is,then let´s keep dancing."
("Gouttes d'eau sur pierres brûlantes", François Ozon, 2000, France)
§
Love (according to Robert Creeley)
The thing comes
of itself
............(Look up
......to see
............the cat & the squirrel,
......the one
torn, a red thing,
............& the other
somehow immaculate
§
(PJ Harvey & John Parish - "Is that all there is?)
§
A PAIXONITE SEGUNDO R.D.
Refrigerador
o que recende e
ascende deste lençol
encharcado no suor
de um único
dono não mais
condensa-se ou
mistura-se
à extensão de
outro corpo
e deixa-me a tarefa
de carregar e conter
meus órgãos internos
com minha própria
pele tão-somente
passeio no parque caminho
pelo parque convencendo-me
de estar engajado apenas
em uma atividade bonitinha
seja
outono ou inverno visto
a expressão “tenho
um amante mas
ele está longe” e todos
percebem o
perigo dá-se
vejo um casal
e logo “two lovers
entwined pass
me by & heaven
knows I´m
miserable now” surgem
dominam-me eu os afasto
olhando o chão
sou uma folha amarela o
contato com o chão
me basta sou uma folha
amarela o contato com
o chão me basta
fico na chuva quero
induzir-me à febre à gripe
à cama necessária
imitá-lo mesmo na doença
lembrar-me dele espirrando o
corpo todo que se
ama tanto tremendo
tremendo
não colaboro com
a insônia alheia faço
sexo com outro e
outro e o corpo estende
faixas obrigado
obrigado
pela graça
alcançada
a cama enfim ocupada
viro-me finjo que
durmo lembrando-me
que é apenas uma
hipótese que o sol
amanhã levante-se
o toldo estenda-se
que o balão suba
meu focinho colado
ao chão, cão à caça;
e a insaciabilidade
Ricardo Domeneck - Carta aos anfibios (Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2005)
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5 comentários:
todo mundo tem direito de amar e ser feliz E INCLUSIVE de ter sopinha na boca.
eu só entendo esse seu amargor no post porque por aí é inverno, caso contrário ia até aí te obrigar a amar e ser feliz.
aqui faz sol, estou de ressaca, chorei de bêbado pela primeira vez na vida ontem & percebi há um mês que EU não vivo para o amor, AMÉM, mas tem quem viva.
fazer o quê, né? me resta respeitar. HAHAHAHA
me lembro de ti na sala da lucía, a gente ouvindo isso. te lembra?
Angie,
agora eu lembro! Lembro de ouvirmos aquelas leturas também, do Ashbery, do Ginsberg, do Dylan Thomas, da Plath. Ah, Bahía Blanca! Saudades da Lucía.
Djoh,
baby, se você diz que percebeu não viver para o amor, não vale me obrigar a fazer a Poliana. Bom, de qualquer forma, você me conhece bem e sabe que estou exagerando. A barriga não está cheia, mas estou longe da subnutricão.
Querido Domeneck:
Tem em algum lugar do mundo alguém que ensine não se apegar e amar ao mesmo tempo , e uma vez assim, talvez não lembrar gestos,cheiros, daqueles que só quem ama sabe ver no outro?
Aqui está sol, eu vivo, bastante bem , convivendo o quanto consigo com "não tenho interesse na sua amizade"
Algum poema, que me traga alívio. Poemas não são para isso, mas podem ser. Não vejo por qual fresta ou se dissolva (ELA) em imagens ou se renove sem transfusão.
Se o outro é ego, e isto não basta para eu esquecer, poema, poema, poema.
o acúmulo de importância
é escolha da memória
............
preciso encontrar outra
forma do insubstituível
sim
a sobrevivência exige
incoerência e cicatrizes
Ricardo Domeneck
Influenciada pelo a cadela sem Logos, um poema para você
contracapa
o que vai
fazer
se toda a
memória decola
o que
há de
possível
entre
realidade
e
desapontamento,
embora
Não entendi se coma amoroso se refere ao estado em que vivo, ou ao estado oposto, me parece, que você vive no momento
bjs
Nora,
muitos poemas já me trouxeram alívio para o "cavalo solto sobre a cama / a pisotear o peito de quem ama", como escreveu Drummond. Este poema mesmo já me trouxe alívio. Ou "A holotúria", da Wislawa Szymborska, que foi um verdadeiro kit-sobrevivência em 2001. Eu costumava oralizar para mim mesmo, sozinho, aquele do Robert Creeley, que diz "let light / as air / be relief"... obrigado por seu poema, querida.
Beijos.
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