Em novembro de 2007, ocorreu na Universidade Federal Fluminense, com organização de Celia Pedrosa, o Seminário Internacional de Poesia contemporânea: identidades e subjetividades em devir. Com pesquisadores e poetas-críticos do Brasil, Portugal e América Espanhola, foram apresentados textos e ensaios sobre diversos poetas do pós-guerra.
A editora 7 Letras lançou há pouco tempo o volume Subjetividades em devir, com organização de Celia Pedrosa e Ida Alves, reunindo os 30 ensaios apresentados durante o seminário. Trata-se de um volume crítico muito interessante, com alguns textos excelentes.
Alguns jovens poetas participam do volume, como Marília Garcia (com um belo ensaio sobre Emmanuel Hocquard e seu livro Un test de solitude, que a poeta carioca traduziu); Franklin Alves Dassie (discutindo a experiência lírica e o estado de doença); ou Izabela Leal, com um ensaio que passa por Iberê Camargo, ao discutir poemas do livro Photomaton & Vox, de Herberto Helder.
Há ainda o belo ensaio de Flora Süssekind sobre a poesia recente de Carlito Azevedo, discutindo longamente o poema "Margens", assim como um ensaio de Florencia Garramuño.
Eu gostaria de chamar a atenção, no entanto, para o ensaio de Marcos Siscar e o de Raul Antelo.
O texto de Marcos Siscar chama-se "Poetas à beira de uma crise de versos", e é um dos trabalhos críticos mais interessantes e inteligentes que li nos últimos tempos, um exemplo de simplicidade engenhosa, crítica atenta às implicações poderosas de "detalhes" tantas vezes overseen e que, no entanto, levam à falácia teleológica na "armadilha da coerência". Partindo da tradução do título do ensaio de Stéphane Mallarmé, o famoso "Crise de vers", Siscar aponta para certas leituras questionáveis deste texto fundador/findador, expostas na tradução errônea de seu título, geralmente vertida para o português como "Crise do verso", perdendo, como aponta Siscar, o jogo de linguagem de Mallarmé com a expressão "crise de nerfs", algo como "ataque de nervos", e propondo "crise de versos" como melhor tradução para o título do ensaio. Pode parecer algo mínimo, uma minúcia, mas Marcos Siscar parte disto para um diagnóstico inteligentíssimo sobre a debatida "crise do verso" contemporânea, passando pela proposta do grupo Noigandres, na década de 50, do "fim do ciclo histórico do verso", além de certos cantos-de-sereia-da-catástrofe de críticos contemporâneos. É uma intervenção crítica das mais inteligentes que presenciei nos últimos X anos (como diria Pound, em nome da paz das consciências, deixemos o número para a escolha do leitor.)
O texto de Raul Antelo discute as Galáxias de Haroldo de Campos, a partir do trabalho do poeta norte-americano (bastante esquecido) Eugene Jolas (1894 - 1952), um precursor do plurilinguismo praticado por Campos em seu poema mais importante. O ensaio chama-se "Babel e a harmonia grotesca", e Raul Antelo convoca para a sua discussão, poetas e críticos como Kurt Schwitters, Giorgio Agamben, Oliverio Girondo, Friedrich Hölderlin e Leónidas Lamborghini, em um debate extremamente iluminador e cheio de implicações est-É-ticas para os poetas contemporâneos.
O volume é realmente interessante, contendo os ensaios inteligentes de Siscar, Antelo, Süssekind, Garcia e Garramuño, além de vários outros, discutindo poetas que amo, como Orides Fontela, Torquato Neto e Fernando Assis Pacheco.
Espero que a biblioteca mais próxima de sua casa já tenha comprado o livro.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
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2 comentários:
Não conhecia esse volume, mas já vou buscá-lo. 300 páginas de debate sobre poesia contemporânea surpreendem e agradam, sem dúvida.
300 páginas, das quais (pelo menos) 100 sao inteligentíssimas, entre outros ensaios muito interessantes. É um volume muito legal.
Abraços,
Domeneck
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