sábado, 14 de março de 2009

Bendita sois vós entre as

Em Dubai, conversando com a poeta suíça Ilma Rakusa, ela me pergunta se eu tinha alguma notícia mais detalhada sobre o estupro da menina brasileira de 9 anos por seu padastro, sua gravidez de gêmeos, o aborto, a excomunhão do médico e da mãe da menina, a revolta contra a igreja católica. Era a primeira vez que ouvia a história, enredado como estava nas duas últimas semanas em viagens.

De volta ao Berlimbo, leio, entre outras coisas, as postagens recentes da poeta Angélica Freitas em seu blog, penso em como nos iludimos quando pensamos que o horror muda com o tempo, que a ignorância de instituições se ilumina com a experiência.

Leio e releio, também de Angélica Freitas, o poema "um útero é do tamanho de um punho", penso na revolta possível, até quando, e como?

Macho-alfa, você se esquece que "Women and elephants never forget", como escreveu Dorothy Parker em seu poema "Ballade of unfortunate mammals", mulheres entregues ao labor de bojo, vasilhame, cuia?

Vi este mês dois filmes que mostram como segue morrendo pelo útero a mulher.

O primeiro chama-se Izgnanie (The Banishment), baseado em um texto de William Saroyan, do jovem cineasta russo Andrei Zvyagintsev, nascido em 1964, um dos melhores filmes que vi nos últimos anos:



O segundo é o filme Kadosh (1999), de Amos Gitai, mostrando o destino das mulheres em comunidades judaicas ortodoxas:



§

É claro que em Who´s
Afraid of Virginia Woolf?
Richard Burton, não,
George, recorre ao
útero vazio
de Elizabeth Taylor,
não,
Martha, para a
ofensa última.


§

2 comentários:

gilson figueiredo disse...

nesse caso, caro D. trata-se de uma posição estÉtica, como gostas de dizer, ou, tão só, uma inquisição à história presente, que, gosta de criticar, sem ir, até - infeslismente - ao hálito da fonte?

Ricardo Domeneck disse...

Trata-se, Gilson, da minha preferência por artistas que tomam uma posição est-É-tica. De qualquer forma, sempre defendi uma poética de implicações, e nao uma poesia de palanque.

Respeito os poetas e outros artistas que se mantêm conscientes das implicações est-É-ticas de seus trabalhos. Um filme como "The Banishment", por exemplo, de que mostrei aqui o trailer, é um filme poderosíssimo em questões metafísicas, mas também cheio de implicações políticas. É a arte que me interessa. Anfíbia. É o que busquei em um livro como "a cadela sem Logos", ainda que tenha talvez falhado miseravelmente.

Só as implicações chegam ao hálito da fonte, em um trabalho conjunto entre autor e leitor. Se o leitor esperar explicações de um autor, é melhor que ele vá ler discursos políticos, nao poemas. Poemas carregam implicações e, assim, exigem que o leitor trabalhe.

É como vejo a coisa.

Abraço,

Domeneck

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