Sempre detestei números. Aos oito anos, recusei-me por semanas a repetir a tabuada todos os dias. Já sabia que dois e dois são quatro. Ditadura das certezas. Minha estratégia: fazer tarefa extra de português, como escrever TODOS OS DIAS a lista de substantivos coletivos. Mecânica por mecânica, tenho outras prioridades. Dei-me mal. Recado da professora para Dona Cida minha mãe (em tinta vermelha!). Humilhação doméstica e escolar. Ora, Dona Giselda da segunda série, eu já decorei seus 2x2=4! Meu coração já está repleto destas adições, subtrações, multiplicações e divisões. Mas veja a beleza das colmeias e das matilhas! Das chusmas e das legiões, essas multiplicações fluidas! Levaria anos para descobrir Cummings e seu 'São 5'. Resultado: meu ódio a convicções pétreas, minha lealdade aos coletivos.
assembleia (pessoas)
alcateia (lobos)
acervo (livros)
antologia (textos)
arquipélago (ilhas)
banda (músicos)
bando (malfeitores)
banca (examinadores)
batalhão (soldados)
cardume (peixes)
caravana (peregrinos)
cacho (frutas)
cáfila (camelos)
cancioneiro (canções)
colmeia (abelhas)
chusma (pessoas)
concílio (bispos)
congresso (parlamentares, cientistas)
elenco (atores)
esquadra (navios)
enxoval (roupas)
falange (anjos)
fauna (animais de uma região)
feixe (lenha, capim)
flora (vegetais de uma região)
frota (navios mercantes, ônibus)
girândola (fogos de artifício)
horda (invasores)
junta (médicos, bois, credores)
júri (jurados)
legião (soldados, anjos, demônios)
leva (presos, recrutas)
malta (desordeiros)
manada (búfalos, bois, elefantes)
matilha (cães)
molho (chaves, verduras)
ninhada (pintos)
nuvem (gafanhotos, mosquitos, etc.)
panapanã (borboletas)
penca (bananas, chaves)
pinacoteca (pinturas)
quadrilha (ladrões)
ramalhete (flores)
rebanho (ovelhas)
récua (bestas de carga)
repertório (peças teatrais, obras musicais)
réstia (alhos ou cebolas)
romanceiro (poemas narrativos)
revoada (pássaros)
sínodo (párocos)
talha (lenha)
tropa (muares, soldados)
turma (estudantes)
vara (porcos)
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