Dentro da iconografia cristã, a imagem de São Sebastião é uma das que mais me interessam. Há uma tradição forte em torno dela na arte em geral, e também na arte homoerótica. Reúno nesta postagem três poemas brasileiros sobre o santo. Um é já bastante conhecido, de Orides Fontela (1940-1998). Os outros dois, mais recentes, vêm dos colegas, colaboradores e amigos Frederico Nercessian e Luis Gustavo Cardoso.
SÃO SEBASTIÃO
As setas
- cruas - no corpo
as setas
no fresco sangue
as setas
na nudez jovem
as setas
- firmes - confirmando
a carne.
[Orides Fontela]
*
TIÃO
seu corpo
flecha
uma a uma
flecha
no peito no dorso nas costas da mão
pedaço da batata
arranha
flecha
arde a pontaria
dedilhos impulso
a corda
flecha
solavanco enfermo
rubro é a cor da manta antes
branca
flecha
afoga a mandíbula
prego
chinelo de dedo
arrasta a haste
disparo
flechas.
agora,
a casca da ferida.
[Frederico Nercessian]
*
NOME DO SANTO
São Sebastião nome do santo
teve coragem maior que eu, a
flecha pegou, o pau comeu, e
teve coragem maior que eu, a
flecha pegou, o pau comeu, e
no entanto ele subiu as escadas
do castelo e repetiu ao chefe:
- Batei em mim, poupai os meus.
Subiu aos céus, às mãos de Deus,
seu chefe-mor: - Fora do corpus,
sem testamento, que o livro é meu!
Deram-lhe ao menos vida de rio
em que navego meu sangue ateu:
São Sebastião, poupai os meus.
[Luis Gustavo Cardoso]
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Imagem: Pietro Perugino, São Sebastião, 1495
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