domingo, 25 de fevereiro de 2018

CONVERSA SOBRE ENSAÍSMO (parte 1)


Uma pergunta aos colegas brasileiros. Eu estaria certo em afirmar que o gênero “ensaio” é praticado de forma bastante específica entre nós? De uma forma que talvez se atenha demais ao gênero acadêmico-expositivo? Ou a maneira bastante livre com que os estadunidenses, por exemplo, praticam o “ensaio” esteja mais próxima do que nós chamamos de “artigos” e “memórias”?

Quais são os seus livros de ensaios preferidos no Brasil, que não sejam ensaios sobre escritores no seu caráter mais acadêmico? (Não uso “acadêmico” de forma pejorativa). Ensaio em seu caráter mais... digamos... ora, montaigneano.

Penso aqui naquela prática bastante livre e fluida de autores tão diversos quanto Walter Benjamin (‘Infância berlinense por volta de 1900’), Roman Jakobson (‘A geração que desperdiçou seus poetas’) e Joseph Brodsky (‘On Grief and Reason’), e entre os estadunidenses: James Baldwin (‘The Devil Finds Work’), Susan Sontag (‘Illness as Metaphor’), Joan Didion (‘Slouching Towards Bethlehem’), William H. Gass (‘On Being Blue’). Recentemente: Mary Ruefle (‘Madness, Rack and Honey), Ta-Nehisi Coates (‘Between the World and Me’), Rebecca Solnit (‘A Field Guide to Getting Lost’), David Foster Wallace (‘A Supposedly Fun Thing I’ll Never Do Again’). Etc.

Em língua inglesa, o gênero teve uma explosão criativa no pós-guerra. É uma das coisas que mais amo em literatura. O prazer de observar um escritor ou escritora em liberdade, simplesmente pensando e discorrendo sobre coisas que muitas vezes nada têm a ver com literatura. É impressão minha, ou praticamos menos ou de outra maneira a liberdade do ensaio? Refiro-me ao ensaio como literatura em si e não como artigo, por mais brilhante que seja, sobre literatura. Temos grandes jornalistas, memorialistas, críticos literários. É apenas uma questão de idiossincrasias de catalogação?

Há livros que se tornaram clássicos, como ‘Itinerário de Pasárgada’, de Manuel Bandeira, ou ‘Idade do Serrote’, de Murilo Mendes, e que poderiam ser talvez enquadrados aqui nesta conversa. Mas tenho a impressão de que há uma especificidade (que considero negativa) no caso brasileiro.

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