O poema abaixo está no livro de estreia de Pedro Lucas Bezerra (Natal, 1993), intitulado Trem fantasma (2021), e publicado pela Quelônio.
No limiar
toda cabeça que se pede é a dele
de iocanaan
se no silêncio
uma voz vem a ti e fala “salva-me”
essa voz é a da cabeça de iocanaan
se num sonho rubro
tu vês a pálida cabeça
iluminada com lanternas
é essa a de iocanaan
se iocanaan disser que sua cabeça é de outro
que não tem nome
cabeça ori
cabeça que surge em combate
não acredite em iocanaan
porque ele não tem mais cabeça
se você está ouvindo uma música
e nela alguém assobia fora do tempo
é ela lá
a cabeça de iocanaan
se uma cabeça sem lábios
atravessa a noite e invade a festa
é essa ela
a cabeça de iocanaan
- Pedro Lucas Bezerra, in Trem fantasma (2021).
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Nota: Iocanaan é a versão em aramaico do nome de João Batista. Oscar Wilde (1854-1900) usa esta versão do nome em sua peça teatral Salomé (1891).
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