O poema abaixo encerra meu primeiro livro, Carta aos anfíbios (2005) - que pode, aliás, ser baixado gratuitamente aqui. Creio já ter falado dele e o transcrito nesse espaço. Perdoem-me se me repito. Mas estou com ele na cabeça, hoje. Por algum tempo pensei em repeti-lo como poema de encerramento em todos os meus livros. Talvez devesse tê-lo feito. Segue de novo, com algumas inclusões. Pensei nisso ao rever hoje a entrevista de Clarice Lispector para Junio Lerner em 1977, pouco antes de morrer. Em itálico, as inclusões.
Lembrete
Cruz e Sousa
em vagões de
transporte
de gado.
Pedro Nava
numa calçada
na Glória.
Paul Celan
nas águas
do Sena.
Miklós Radnóti
com os micróbios
e os últimos poemas
exumáveis no paletó.
Frank O’Hara
estirado n’areia.
Christine Lavant
crivada de camas
e escamas.
Virginia Woolf
com pedras
no bolso.
Alejandra Pizarnik,
intolerância
a secobarbital.
Clarice Lispector
carregando um câncer
no ovário, inoperável.
Carlos Drummond de Andrade
doze dias após a filha.
Pier Paolo
a pau e pedra.
João Cabral de Melo Neto
cego.
Orides Fontela
à beira da indigência.
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.
2 comentários:
Coincidentemente, li esse poema ONTEM pela primeira vez e, hoje, procurando outra coisa, deparo-me com ele - DE NOVO - e com a inclusao de Clarice. É um poema em movimento que só tende a crescer. Mesmo porque, querendo, faltam muitos. Muito bom, vou atrás do seu livro.
Caro,
você pode baixar o livro aqui:
http://www.mediafire.com/view/?4pube5b3vtkar2w
abraço
RD
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