sábado, 20 de abril de 2013

"Lembrete" (para mim mesmo, com novas inclusões)


O poema abaixo encerra meu primeiro livro, Carta aos anfíbios (2005) - que pode, aliás, ser baixado gratuitamente aqui. Creio já ter falado dele e o transcrito nesse espaço. Perdoem-me se me repito. Mas estou com ele na cabeça, hoje. Por algum tempo pensei em repeti-lo como poema de encerramento em todos os meus livros. Talvez devesse tê-lo feito. Segue de novo, com algumas inclusões. Pensei nisso ao rever hoje a entrevista de Clarice Lispector para Junio Lerner em 1977, pouco antes de morrer. Em itálico, as inclusões.

Lembrete 

Cruz e Sousa
em vagões de
transporte
de gado.

Pedro Nava
numa calçada
na Glória.

Paul Celan
nas águas
do Sena.

Miklós Radnóti
com os micróbios 
e os últimos poemas 
exumáveis no paletó.


Frank O’Hara
estirado n’areia.

Christine Lavant
crivada de camas
e escamas.

Virginia Woolf
com pedras
no bolso.

Alejandra Pizarnik,
intolerância
a secobarbital.

Clarice Lispector
carregando um câncer
no ovário, inoperável.

Carlos Drummond de Andrade
doze dias após a filha.

Pier Paolo
a pau e pedra.

João Cabral de Melo Neto
                              cego.

Orides Fontela
à beira da indigência.

.
.
.

2 comentários:

Anônimo disse...

Coincidentemente, li esse poema ONTEM pela primeira vez e, hoje, procurando outra coisa, deparo-me com ele - DE NOVO - e com a inclusao de Clarice. É um poema em movimento que só tende a crescer. Mesmo porque, querendo, faltam muitos. Muito bom, vou atrás do seu livro.

Ricardo Domeneck disse...

Caro,

você pode baixar o livro aqui:

http://www.mediafire.com/view/?4pube5b3vtkar2w

abraço

RD

Arquivo do blog