sexta-feira, 28 de março de 2014

Ouro de tolo


Açoitem-me com azeitonas, moços,
nesse antipasto de porcos e potros.
Pastoreio à espera que se percam
e me apontem a saída do rebanho.
Aceitem-me tal como, à acetona,
o esmalte que a mim não me cabe
para lacrar essas unhas, que antes
possuíam a sua pele como glace.
Azeitem-me com açoites do couro
que cobre em vocês todo o corpo,
não só o chicote nas suas calças,
que me espora, galo e gafanhoto.
Acoitem-me como a anêmona
ao peixe, o que acolhe no anzol
o seu último bodo, então ascende
a um mundo que é tão abscôndito
a ele quanto a nós este céu outro.
Só não se acoitadem, só, de mim,
pois foi só que a cada conheci
e então me iludi que seria o tal,
seu Tao, não joio prévio à foice.
Descorçoado, quero ainda o coice
de seus pés, que no mínimo coçam
este meu fogo, que menos aquece
do que chamusca o que é tenro
sob este terno que me esconde.
No garimpo, sou o que se peneira,
mas volto às águas sujas do arroio
e busco, feito bússola, colar-me
com mais força à próxima pepita,
para talvez no futuro ter a sorte:
passar despercebido pelo censor
e ser contrabandeado como ouro.


Berlim, 19 - 24 de março de 2014

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Um comentário:

John disse...

Bom dia Ricardo, me chamo John e to passando para te falar que acompanho teu blog desde muito tempo, logo após ver o documentário "Gray Garden" e me ver completamente tomado por "Little Edie", sai lendo todas as paginas sobre o assunto (O assunto solidão é o meu preferido), acabei chegando no teu blog e mais que encontrar " An old mother and her middle-aged daughter... me deparo com um sem numero de textos ricos.. acabei me tornado um frequentador assíduo.. é isso.. brigaduu.. Forte abraço desde Bahia-Maranhão(rs)!

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