segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Um aperto de mão e um poema de Mohan Rana"


(com Mohan Rana na Eslovênia)


Um aperto de mão e um poema de Mohan Rana

Ao despedir-se de mim em Liubliana,
Mohan Rana
toma minha mão, diz: 'tudo se abranda'.

Nesse instante,
tudo que a língua híndi carrega em si,
Kabir, Valmiki,

Rahim e Vrind, cabem aqui em nossas
palmas unidas,
molusco protegido entre duas conchas.

Mais tarde, no aeroporto de Frankfurt
abro o seu livro
e Mohan canta só uma camisa usada,

"esta vida, possível!". Fecho os olhos
como o Gaṅgā
não se fecha, mareiam neles as dívidas,

somem brigas, e num aeroporto, lugar
tão-só trânsito,
uno palmas a poema e tudo se abranda.

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Abaixo, posto imagens do poema de Mohan Rana a que me refiro, em tradução de Bernard O'Donoghue e Lucy Rosenstein, e no original híndi.




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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

VOCÊ, INCAUTO


Você, incauto,
não viu raiar o dia
aninhado em colchas,
embalado ao colo
gentil de Gaia,
que gira devagarzinho
para que você
não caia.

Você, incauto,
não despertou
com o barulho do moer
dos grãos
nem com o cheiro
do café
detidos pela porta
da cozinha
que fechei cuidadoso
para que você
permanecesse incauto.

Enquanto isso, os pombos
da Praça Matriz
já coloriam experimentais
a bandeira tediosa
com nossas cores
mais contumazes,
mais representativas:
o marrom da lama,
o cinza da fumaça.

Mas alguns minutos
incautos mais eu queria
dar a você
como um primeiro
presente do dia.
Poupar seu sono
das manchetes,
das polêmicas,
das piadas prontas
que nos fazem rir
nervosos e melancólicos.

E quando ambos
sentamo-nos à mesa
e bebericamos o café,
incautos éramos
sobre quais mãos
esfomeadas colheram
os grãos e de qual povo
indígena foi roubada
a terra em que brotou
o cafezal.

Incautos seguimos
que do outro lado
de nosso planeta,
no ar
extinguia-se uma espécie
de pássaro,
no mar
extinguia-se uma espécie
de cetáceo,
e na terra do cafezal
extinguia-se
uma das línguas
da terra.

Então, incautos
você e eu,
deixamos a casa
e fomos brincar
de República.


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17 de novembro de 2016, para manter puras as palavras da tribo.

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Uma resenha, duas entrevistas e um conto



Caros, nestas duas últimas semanas, saíram no Suplemento Pernambuco uma resenha de Igor Gomes da reedição do meu livro Cigarros na cama, trazendo inéditos e já disponível pela Luna Parque Edições, e uma entrevista conduzida por ele comigo.

link:

E fico muito feliz que a página da Livaria Boto Cor-de-Rosa em Salvador tenha publicado um conto inédito meu, chamado "Sem vagas", que fará parte do meu livro de contos a sair no ano que vem.

link:

Aliás, minha gratidão ao povo do Recife e de Salvador, onde tenho interlocutores tão generosos.

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Por fim, encerro com uma entrevista em vídeo conduzida em Bruxelas durante minha residência no intituto Passa Porta - Casa Internacional de Literatura, onde passei dois meses trabalhando em meu livro de contos.



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sábado, 5 de novembro de 2016

Dois remixes para a faixa "Little Mess" de Crooked Waves



"Little Mess" é a faixa de abertura do EP Floating, de Crooked Waves com vocais de RIN, lançado pela plataforma que dirijo em Berlim com Ellison Glenn a.k.a. Black Cracker, a Gully Havoc. Lançamos já dois remixes, um de Apogamy e outro de Oliver Si. Ouça-os abaixo. Crooked Waves é o produtor alemão Nelson Bell, com quem também colaboro no duo Bell Dome.



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