Houve
Joaquim Pedro de Andrade?
Houve.
Houve
Alfredo da Rocha Vianna?
Houve.
Houve
Antônio Carlos Jobim?
Houve.
Houve
Angenor de Oliveira?
Houve.
Houve
Vinicius de Moraes?
Houve.
Houve
Machado de Assis?
Houve.
Houve
Heitor Villa-Lobos?
Houve.
Houve
Antônio Candeia?
Houve.
Houve
Cecília Meireles?
Houve.
Houve
Dolores Duran?
Houve.
Houve
Zózimo Bulbul?
Houve.
Houve
Lima Barreto?
Houve.
Houve
Clara Nunes?
Houve.
Houve
Lygia Pape?
Houve.
Houve
Márcia X?
Houve.
Etcétera.
Contudo,
há esse,
o esse
Witzel,
o ovo
choco
do frio
da Candelária,
do calor
do ônibus 174.
Desse pasmo
falso,
desse fracasso,
nasça algo.
*
A república refém, num ônibus sobre ponte de concreto, sob ameaça de ser carbonizada. Do norte, chove cinza. A república - também - executada ao vivo. A república - a mesma - que aperta o gatilho. Uma tragédia só. Não há vitória. Há uma derrota mitigada. Nós somos um fracasso com atenuantes.
Matamos. Morremos. Nos salvamos. A legítima defesa. O alívio e o velório. O bom horror. Não, “enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos”, como escreveu Clarice Lispector sobre Mineirinho.
A gasolina real. A arma de brinquedo. O governador descendo de helicóptero como num pangaré do apocalipse. Fomos salvos. Fomos mortos.
“Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça.” (CL)
*
Senhora entre os reféns:
___ “Precisamos acolher a mãe desse menino.”
acerca de Willian Augusto da Silva, que sequestrou o ônibus, e foi morto.
Parente do rapaz:
___ “Ainda bem que só a nossa família está chorando hoje.”
Como no poema de Borges: essas duas pessoas, sem saber, estão salvando a República. Estão salvando o mundo.
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