O SOL NÃO ILUMINA MAIS O OLHO BEGE DE GISELE
Allan Jonnes
O sol não ilumina mais o olho bege de Gisele
nem se pode saber qual dermatite
escama entre os dedos e as covas
das unhas doentinhas
quando Gisele lava os operados
não há sol no mundo que ilumine o caramelo triste
do olho de Gisele
e ela louva coberta de glaucoma
até as putas mais indiferentes destas ruas
curvam suas orelhas à porta da igreja Batista Betel
quando Gisele canta para os Lázaros às segundas
e rasga uma canção tão triste quanto uma criança
débil mental babando a cabeça descosturada de seu elefante
de pelúcia numa cadeira de rodas na rodoviária do Recife
quarta-feira de cinzas
outro dia sob a marquise de um café em Minas Gerais
bêbado de conhaque e manuseando imaginário
a caixa de controle do seu ex-trator
o viciado aponta na camisa a inscrição
a cabeça de Mao é o nosso sol vermelho
Gisele não sabe das revoluções camponesas
de nenhum lugar do mundo
mas vende calculadoras nos ônibus de linha
ao preço de dois reais
para a manutenção dos ídolos que reúne
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Allan Jonnes é um poeta e performer brasileiro, nascido em Lagarto, Sergipe, em 1990. Acaba de publicar o livro Areia para engrenagens.
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