André Capilé, tata kanzumbi no terreiro
Omariô de Jurema (Barra Mansa RJ)
fotografado por Clara Nascimento
vocabulário do ódio é o que resta na boca / violenta, a malta só ruge -- estila sua baba louca / já não me sobra mais nada na presa lisa da víbora / se a vida te levar a pulso, o soldo da sorte é a mirra
ei, Mumm-Ra
chega e vê
a ira do mar que vem
sinistra
procela
a surra do céu também
se cair
lá não vai
sobrar ninguém pra contar
que a paz
quem tomou
foi quem bebeu da guerra
a pira da bilha do porco, na boca larga da fome, / a fera fixa o hálito, o espanto lá no horizonte, / espana o espantalho as gralhas, / o cheiro do mijo, paura, / em sua entranha o expurgo do monstro que sonha alturas
vinha lá de cima a mais braba, mas coisas que a vida macumba / girava na barra da saia, na ponta da faca ela estuda / a rua medida a seus pés, em cada canino era fúria / linhas de soco no peito, seu nome era a dura recusa
temporal
chega e vê
a ira do céu que vem
sinistra
de ventar
nuvens de peso explodem
se cair
lá não vai
sobrar ninguém pra contar
que a paz
quem tomou
foi quem bebeu da guerra
se eu vir chegar a manhã
há chance até de viver
tambores avisam que o conta-giros
não vai ceder, não vai ceder
– André Capilé
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