País solitário,
de um só
habitante
só,
fronteiriço
aos fundos
dos poços
de todos
os outros.
2-
Feito o último exemplar
de uma espécie:
um rinoceronte
velho e reumático,
um dodô dodói,
um neandertal
com dor de dente.
3-
Até planetas acabam presos
num travamento gravitacional,
a rotação capturada,
um mesmo e único hemisfério
encarando sua estrela,
e o outro, numa noite eterna.
4-
Todas as marés
aqui
são baixas.
5-
Conheço palmo a palmo
este chão
de arranha-céus do avesso,
seco — onde os olhos
labutam, incessantes,
para doar-lhe um mar.
6-
Os mais antigos, escolados
nos despenhadeiros,
haviam alertado para a necessidade
do equipamento de montanhismo.
Arqueólogo dos próprios barrancos,
eu trouxe ao fundo do poço
apenas o equipamento de escavações.
Das pás fazer asas.
Das tripas, cipó e escada.
7-
Recomendam todos
que eu vá ao encontro
daqueles cavaleiros,
não da Távola Redonda
mas da Tabula Rasa.
Gosto dessa companhia,
a dos que nada mais têm
a perder.
8-
É costume erguer-se,
dizer o próprio nome,
e confessar
limpezas e sujidades.
Levanto a carcaça
desse trono da nulidade,
e digo:
“Este sou eu,
Sísifo-Dido,
o limpo-sujo,
o sujo-limpo.”
9-
Esta é a minha tribo,
estes felizes
que se desiludiram
mesmo de si.
10-
Este não é seu país de origem.
Este não é seu país de destino.
Também aqui aplica-se
a lei da usucapião?
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário