segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

DEVOÇÃO - um poema inédito de Ismar Tirelli Neto

 

Ismar Tirelli Neto (Rio de Janeiro, 1985)

DEVOÇÃO

 

Estou doce doce de condicionais

Todos os dias capacito-me de um crânio

A cultura coloca-me certo número de buracos onde meter minha devoção

Estou doce doce de diretivas

De meio a formidáveis reescrituras tenho caminhado

Caminhado com emparedamento cada vez maior

Encarregue de certo ritmo na roseira

Arrasto pelo mundo aparição e desaparição

Arrasto o triz até o tram

Quando subo

O mesmo vazio de consecução

Olhos choram contracorrentes 

Onde um assento vazio?

Na minha frase 

Onde um assento vazio?

Estou doce doce de hibridação

Para sentar às centelhas sobre o veículo já não se tem idade

Para sentar às estrelas

Para tomar café-da-manhã com as estrelas

Já não se tem idade

Não lhes parece o caso? 

Sou eu quem deve preponderar na minha frase

Não lhes parece o caso? 

Quem deve preponderar na minha frase sou 

Eu fora 

Fora todos os ouvidos

Preciso de um vagão vazio para dizer o ouvido

Um ouvido inteiro

A cultura corta um buraco redondo entre os reservados do banheiro 

Volvam volvam as vontades quebradas

Estou virado como século

Vemos um filme extremado

Tenho pelo menos a virtude de realmente existir

Trabalho por adesivos de coração

Jogo ao cisco

Ganho em urbanidade

Muro-me de Introduções Guias Manuais 

Tacanhado em cômodo com todos os quadrantes da Terra

Concateno frêmito no escroto à chegada do significado

A cultura coloca-me certo número de histórias de conversão a memorizar

Estou por assim dizer


– Ismar Tirelli Neto


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