Mostrando postagens com marcador hans magnus enzensberger. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador hans magnus enzensberger. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 1 de maio de 2012

Traduzindo Hans Magnus Enzensberger (I): "A merda"

A merda

Sempre ouço falar dela
como se de tudo tivesse culpa.
Vejam, que macia e modesta
ela se posiciona sob nós!
Por que então maculamos
seu bom nome
e o emprestamos
ao Presidente dos EUA,
aos policiais, à guerra,
e ao capitalismo?

Como é transitória
e quão duradouro
aquilo a que doamos seu nome!
Ela, a transigente,
deixa-se levar na ponta da língua
quando falamos do explorador!
Ela, que nós esprememos,
tem agora ainda que exprimir
nossa ira?

Ela não nos aliviou?
De constituição macia
e inerentemente dócil,
de todas as obras dos homens
é provável que seja a mais pacífica.
O que ela fez contra nós?

(tradução de Ricardo Domeneck)

:


Die Scheisse
Hans Magnus Enzensberger

Immerzu höre ich von ihr reden
als wäre sie an allem schuld.
Seht nur, wie sanft und bescheiden
sie unter uns Platz nimmt!
Warum besudeln wir denn
ihren guten Namen
und leihen ihn
dem Präsidenten der USA,
den Bullen, dem Krieg
und dem Kapitalismus? 

Wie vergänglich sie ist,
und das was wir nach ihr nennen
wie dauerhaft!
Sie, die Nachgiebige,
führen wir auf der Zunge
und meinen die Ausbeuter.
Sie, die wir ausgedrückt haben,
soll nun auch noch ausdrücken
unsere Wut? 

Hat sie uns nicht erleichtert?
Von weicher Beschaffenheit
und eigentümlich gewaltlos
ist sie von allen Werken des Menschen
vermutlich das friedlichste.
Was hat sie uns nur getan?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Para o Livro de Literatura do Segundo Grau", de Hans Magnus Enzensberger

O poeta alemão Hans Magnus Enzensberger, nascido em 1929, em foto tirada por volta de 1957, quando publicou seu primeiro livro de poemas: Verteidigung der Wölfe (Defesa dos lobos), do qual o poema abaixo foi extraído. A tradução é de Kurt Scharf e Armindo Trevisan, duma antologia da década de 80. Foi minha leitura hoje por todo o dia.


Para o Livro de Literatura do Segundo Grau

Não leias odes, meu filho, lê os horários
(dos trens, dos ônibus, dos aviões):
são mais exatos. Abre os mapas náuticos
antes que seja tarde demais. Sê vigilante, não cantes.
Chegará o dia em que eles, de novo, pregarão listas
no portão e desenharão marcas no peito daqueles que dizem
não. Aprende a ir incógnito, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de passaporte, de rosto.
Entende da pequena traição,
da salvação suja de todos os dias. Úteis
são as encíclicas para se fazer fogo,
e os manifestos: para a manteiga e sal
dos indefesos. É preciso raiva e paciência
para se soprar nos pulmões do poder
o fino pó mortal, moído
por aqueles, que aprenderam muito,
que são exatos, por ti.

(tradução de Kurt Scharf e Armind Trevisan, in Enzensberger, Hans Magnus. Eu falo dos que não falam: antologia (São Paulo: Editora Brasiliense, 1985).


:


Ins Lesebuch für die Oberstufe
Hans Magnus Enzensberger

lies keine oden, mein sohn, lies die fahrpläne:
sie sind genauer, roll die Seekarten auf,
eh es zu spät ist. sei wachsam, sing nicht.
der tag kommt, wo sie wieder listen ans tor
schlagen und malen den neinsagern auf die brust
zinken, lern unerkannt gehn, lern mehr als ich:
das viertel vechseln, den paß, das gesicht.
versteh dich auf den kleinen verrat,
die tägliche schmutzige rettung. nützlich
sind die enzykliken zum feueranzünden,
die manifeste: butter einzuwickeln und salz
für die wehrlosen, wut und geduld sind nötig,
in die lungen der macht zu blasen
den feinen tödlichen staub, gemahlen
von denen, die viel gelernt haben,
die genau sind, von dir.


.
.
.

Arquivo do blog