quarta-feira, 1 de julho de 2009

De heróis e aniversários



Comemoro este fim-de-semana, no dia 4 de julho, meus 32 invernos (mais um ou outro que acumulei ao perambular entre os hemisférios). Usei a ocasião este ano para convidar um de meus heróis alemães para uma performance e intervenção na Berlin Hilton, o evento que co-organizo às quartas-feiras aqui no Berlimbo, our own private Cabaret Voltaire. Em anos anteriores, convidei, por exemplo, a maravilhosa Janine Rostron, conhecida como Planningtorock, assim como Kevin Blechdom.

Hoje à noite, apresenta-se Wolfgang Müller, um dos membros fundadores do coletivo berlinense Die Tödliche Doris (algo como A Doris Letal), que esteve em atividade entre 1980 - 1987. Alguns talvez conheçam uma ou outra canção da Tödliche Doris, por covers, como a famosa "Tanz im Quadrat", gravada pelo Stereo Total.


(Die Tödliche Doris, "Tanz im Quadrat")

Die Tödliche Doris foi uma das mais conhecidas e revolucionárias bandas, ao lado do Einsturzende Neubauten e do grupo Malaria!, daquilo que ficou conhecido por muitos nomes: Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã, a versão germânica do New Wave), post-punk, industrial ou, como eles preferiam chamar-se, os Geniale Dilletanten, título de um livro de Wolfgang Müller.


(Die Tödliche Doris, "Küchenmusik & Schuldstruktur")

No entanto, o grupo foi aquele que mais claramente buscou borrar as fronteiras entre gêneros em sua prática artística: Die Tödliche Doris fez música, vídeos e filmes em Super-8, instalaçoes, happenings. Sua influência foi marcante, ainda que subterrânea. Em 1983, o grupo participa da Bienal de Paris. Ali, Die Tödliche Doris apresenta seu trabalho visual "Die Photomatonreparateur" (O reparador de cabines fotográficas), em que colecionam fotos de estranhos feitas em cabines fotográficas, muito conhecidas em Berlim, mas apenas aquelas fotos que as pessoas jogavam fora, encontrando entre elas, com frequência, a de um mesmo homem, que eles viriam mais tarde a descobrir que era do reparador das cabines. Sim, você adivinhou: Jean-Pierre Jeunet "roubaria" esta idéia mais tarde para a personagem de Matthieu Kassovitz em Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (2001).

Performances incluem o Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, e o Musée d'Art Moderne, em Paris. Em 1987, Die Tödliche Doris participa da documenta 8, em Kassel, antes de dissolver a banda em... vinho. Aqui, a banda joga com o conceito de "auflösen", dissolver-se, expressão usada tanto para o momento em que as uvas tornam-se vinho, como quando os membros de uma banda decidem não mais trabalhar juntos, e literalmente cria seu último trabalho: o vinho Die Tödliche Doris, no qual a banda dissolve-se.

É uma honra ter Wolfgang Müller na Berlin Hilton hoje à noite. Mais sobre Die Tödliche Doris: AAQQUUII e AAQQUUII.

Um comentário:

Dimitri BR disse...

halo r. domeneck

não sei se sou um geniale dilletanten, mas certamente sou post-punk

e tenho no momento mais algo em comum com teu convidado de honra:

também eu lhe forneço, com gosto, uma homenagem video-musical pelo famigerado quatrodejulho!

já viu?
http://diahum.blogspot.com

lembro sempre de você ao tocar essa canção, e muito me alegra publicá-la em momento propício para dedicá-la a você (dedicatória esta que já estava planejada de há muito).

isso porque, além de tua reiteradamente manifesta predileção por esta canção, tuas impressões sobre ela, quando mostrei-a recém composta a você, tiveram para mim - assim como no caso de 'quando cai a noite' - um efeito iluminador, descortinando para mim minha própria criação, ao lançar sobre ela um olhar que eu então, estando ainda muito próximo de sua gênese, não conseguia ter.

portanto, é com alegria que ora ta dedico, com votos de feliz aniversário aos quais ajunto meus agradecimentos pelo olhar crítico de há tantos anos.

beijo!

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