Odes
a Maximin
a
M.
Ora
cansei-me
d´O Moço,
há
o tempo de bajular
e
o tempo de escorraçar
os
fantasmas
dos
natais passados
para
permitir-me
deixar-me
encurralar
por
outros
e
dessarte inicio
esta
celebração
do
bendito
menino
filantropo
que
passo a chamar
de
Maximin.
1.
Texto
para o menino que por vezes me visita, quando se cansa de meninas, e
que doravante chamarei de Maximin, como se este fosse o último
bilhete de Heliogábalo a Hierócles
Como o sol que incha e cresce,
Maximin, são teus
a pujança, o tônus e a tesura.
a pujança, o tônus e a tesura.
Quem-me-dera
pudesse dar-te
todos
os dias
o
que é digno de tua condição
cesariana,
ou fosse eu a carruagem
conduzida
por tua potência
equina,
oxalá
eu
o cavalo que montas
com
maestria, charioteer,
eu,
tua cheerleader,
que vivo
da
caridade do teu epidídimo,
ora
deixa-me
descansar
o pescoço
extenuado
sobre teu corpo
esponjoso,
meu cabelo
confundindo-se
com teus parcos
pelos
púbicos, já quase públicos,
Maximin,
tanta é a segurança
com
que te exibes no mercado
e
na ágora, maximiza-me
em
tua perene intermitência,
diariza
tuas doações
tão
fluidas sobre meu rosto,
je
vien, tu viens,
então
vem e quebra
com
teus sucos
meu
jejum, Maximin,
minimiza
minha idade,
mexe-me
contigo em mim,
tantas
são, miríade,
as
posições possíveis
entre
cavalgadura
e
montaria, Maximin,
machuca-me
à
prostrada, naquele pontículo
entre
delícia e cicatriz,
pois
os cães pretorianos
já
se aproximam
para
arrastar-me aos gritos
desse
trono que usurpo
quando
te cansas do vúlveo
e
escalamos a torre de marfim,
mas
ainda assim trono
onde
se crê que alguma menina
melhor
sentaria,
Maximin,
e já sabemos
qual
será nosso fim.
2.
Texto
em que o poeta quer deitar Maximin num diwan e cantá-lo feito um
místico árabe, quando então se lembra da ascendência do divino
rapaz
Filho
de berberes e alemães
graças
à fuzarca abençoada
de
corpos após a Queda
do
Muro, me disseste
que
foste o mais perfeito
bebê
da maternidade
de
tua mãe, a generosa.
Eu
creio e sou devoto.
Não
sei se necessário
um
começo perfeito
para
teu óbvio sucesso,
agora,
no pleito.
Seria
prudente comparar-te,
seguindo
a antiga arte
dos
meus colegas árabes,
tal
Muhammad
al-Nawaji
ou
meu caro Abunuwasi,
e
afirmar de gazela
as
tuas pernas
tão
firmes, estáveis?
Seria
cometer uma gafe
etnográfica,
se entoasse
em
cantares dos cantares,
tal
um árabe, a tua púbere
belezura
berbere?
Tudo
o que sei
é
que, se não vens,
sou
um mero magrelo
a
atravessar feito camelo
o
Magrebe.
Maximin,
ademais,
nos
ademanes
da
minha nomenclatura
mais
que científica
dos
corpos do teu gênero,
dividindo
rapazes
entre
touros, leões e cavalos,
sempre
te considero espécime
ideal
das pujanças taurinas,
teu
torso e teus ombros
que
seriam edredão fácil
de
tão largo
ainda
que não mui macio,
sobre
todo o meu corpo
raquítico
e geriátrico,
como
esses teus membros
de
tronco de carvalho
que
frequente
me
deixam em estado
de
Salix
babylonica.
Tua
inteligência de cão
de
rua, a forma das mãos
com
que nos manipulas
fácil
pela lente do desejo
que
distorce tudo, fazem-te
mais
perigoso que o coice
de
cavalo, a garra do leão
e
todos os chifres de touro,
como
este que carregas
nas
tuas calças
largas
de skatista.
És
um tanto sádico.
Maximin,
queria beber
apenas
uma vez mais
teu
suor e saliva e sêmen
de
berbere
escorrendo
de tua pele
de
bebê.
Quando?
Onde?
Ainda
não te cansaste
daquela
caverna escura?
Escalemos
o pico nevado.
Vamos
comer sushi
diante
de um Fuji
falsificado
de Hokusai
nos
restaurantes
dos
imigrantes
dessa
tua cidade.
Sou
meteco,
não
grego,
são
esparsos
os
meus privilégios
e
minhas bulbouretrais
já
se cansam do estado,
como
em Kanagawa,
das
grandes ondas.
Devo
gritar dos telhados
in
a barbaric yawp
teu
verdadeiro nome?
Confesso
que ainda
não
ouso a entrega
ao
mundo de tua alcunha
oficial
de batismo,
apenas
este, Maximin,
pois
temo tua concubina,
essa
ninfeta com sangue
de
valquíria, os genes
de
nibelungos, o gênio
de
Wagner.
3.
Texto
em que o poeta celebra a língua e a sintaxe de Maximin
Não
me importaria se tão-só
de
plosivas vivesse o homem,
Maximin,
desde que se oponham
apenas
temporários
os
obstáculos
de
tua língua, corpo e lábios,
aproximantes
para sempre
até
mesmo as vogais,
quiçá
gerando nova família,
a
das penetrantes,
que
consistiria em is e Os
para
todos os vocábulos
a
cossoar de nós,
pois
eu temo
que
antes cedo
do
que tarde
todos
os teus textos
serão
para me caçoar,
quisera
antes nunca
do
que agora,
já
que velo por teu palato,
Maximin,
todos os teus
dons
bilabiais,
dá-me
hoje pois as fricativas
que
me cabem
pelo
canal estreito
de
nossos articuladores,
eu
aspiro estridente
como
uma jiboia
de
repente sibilante,
vem
e faz de minha úvula,
se
não possuo o anagrama,
a
tua única
superfície
de shadowboxer,
quero
ser o véu que cobre
os
teus alvéolos, pulmônico
após
brincar de balanço
em
tuas cordas vocais,
ameaço
quedar-me implosiva
nesta
subnutrição minha
de
cada dia
se
não ejaculas meu desjejum,
é
preciso que entendas
causas
e consequências,
ainda
que o registro
da
História insista
em
coordenadas assindéticas,
vamos
doar ao mundo
muitas
copulativas,
larga
mão, Maximin, de ser
tão
adversativo,
aproxima-te
e explica
antes
de concluir
que
minha carcaça
é
um destroço disjuntivo,
olha
como exiges,
todo
imperativo,
ou
ou, ora ora,
quer
quer, já já,
seja
seja, nem nem,
ai
ai, nesta gaiola, meu habitat,
que
me resta
senão
ler Cage
e
celebrar feito música
os
teus sons e teus ruídos?
Eu
sou nesta nossa concha
como
uma ostra nanica,
por
isso quiçá tudo que dizes
é-me
razão de ostranenie
e
dessarte divinizo-te,
pelos
séculos dos segundos,
para
ser possuído por deuses,
tornando
entusiasmante
esse
meu coitado cotidiano.
§
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.
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