DESTA VEZ, AQUI, AGORA: VOZES DA POESIA CONTEMPORÂNEA.
Terceira edição. Organização de Sergio Maciel, Guilherme Delgado, Renata Mocelin e Luciane Alves. Universidade Federal do Paraná. DIA 1 (14/09)
Wellington de Mello
Henrique Provinzano Amaral
Anelise Freitas
DIA 2 (21/09)
Paulo Henriques Britto
Diego Alves Amancio
Margarida Vale de Gato
DIA 3 (28/9)
Edimilson de Almeida Pereira
Ronald Augusto
Márcia Brito
POETA HOMENAGEADA: Tereza Tenório (Recife, 1949–2020).
*
POEMAS DE TEREZA TENÓRIO
CORPO DA TERRA
Pela janela o verde
nos revela
o coração da mata acesa
o úmido
veio das aromáticas
resinas
dentre nossas raízes
enlaçadas
a destilar a essência
do teu hálito
em mim
corpo da terra
desvelado
*
A FACA SOBRE A ÁGUA
Existe o duplo silêncio: o da flauta
e do tempo (que há mundos paralelos).
Há o movimento rítmico: o do pêndulo
no silêncio partido do hemisfério.
E foi teu último engano: a ferida
rubra e sangrenta. A branca madrugada
transformou-te de louca suicida em
clara manhã de pássaros e fadas.
Houve também a faca sobre a água
com o brilho mortal das escamas rápidas
e houve o encontro da terra com os astros
na rota dourada do fim de tarde.
*
A CASA NA COLINA
Quem sempre quis uma casa na colina
pra que pudesse namorar as árvores
Tanto sonhou o rosto de uma menina
sua cabeleira a refletir as vagas
Eu que amarguei a solidão da sina
de uma infância sofrida além da margem
de tanto amar o amor como a saudade
transformei-me ao sol dessa menina
Tendo na boca o gosto da menina
do crescer na paisagem do silêncio
degustando a palavra enquanto sina
transformando o silêncio enquanto tempo
em meio ao sonho que a estrela move
em meio à sina que se mofe ao vento
*
CASO
O meu primeiro amor morreu de fome
O meu segundo amor não teve jeito
O meu terceiro amor se fez amante
recebendo-me à tarde radiante
Até hoje vivemos do seu jeito
como meu último amor
fatal
perfeito
*
VIRTUAL
No epicentro das ondas invisíveis
edifiquei mandalas para os celtas
habitantes dos últimos milênios
guelras de peixes e barbatanas retas
Onde o mar arrastara nossas redes
para morder-nos tênues fios de espera
o fluir das espumas retalhou
os tecidos da carne contra as pedras
nos módulos lunares dissolvi
toda a sombra da superfície líquida
seus cardumes de tubarões-martelo
entre indormidos teoremas míticos
arremessei ao lume destes versos
nossa imagem virtual de estranhos ritos
*
TRÍPODES
Queimados os corações
no sacrifício dos remos
sobre a pedra dos oráculos
reedificamos o templo
Marujos noutro avatar
fomos mortos ao relento
entre carvalhos e trípodes
no temor ao deus sangrento
No corolário da lenda
filha dos quatro elementos
fertilizamos a terra
na fenda ao sul do oriente
ao fim do embate mortal
a seiva do sol no zênite
..
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