quinta-feira, 3 de abril de 2014

"Confissão (1964 - 1985)", poema de William Zeytounlian


CONFISSÃO (1964–1985)
    William Zeytounlian

“– come si chiama la tua ragazza?
Margherita”.
P. P. Pasolini


toda
a conta
feita:

ato final,
evidência
contrafeita.

eu sou
o cálice
sacrificial.

eu sou
o cálice
sacrificial
no altar.

eu sou
o cálice
sacrificial
no altar
e seu
próprio
conteúdo.

eu sou
o bode
à borda
da faca,

eu sou
o homem
desnudo.


eu sou
o grito

eu sou
o grito
inquieto

eu sou
o grito
inquieto
que busca
o ouvido.

eu sou
o grito
inquieto
que busca
o ouvido
que busca
o gozo.

eu sou
o gozo.

eu sou
o gozo
atroz.

eu sou
o gozo
atroz e
inquieto.

eu sou
o gozo
atroz e
inquieto
do algoz;

do algoz
inquieto.

eu sou
o esquecido

eu sou
a areia
que me
enterra.

eu sou
a cova
que se
encerra.


eu sou
este objeto
decorativo

este
abjeto
esquecido
pendendo.

eu sou
esta gota
que me
escorre

eu sou
esta gota
que me
escorre
agora.

eu sou
o sonho
que se
esgota

o sonho
que se
esgota
em mim.

eu sou
a encruzilhada
de acertos,

o emblema
do escrúpulo

um gesto,
um estupro,
a vida nua.

eu sou
o erro
da virtude.

eu sou
a minha
dúvida.





Um comentário:

Isabel disse...

Muito bem escrito e profundo.

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