Efrim Menuck
Efrim Menuck é um poeta-músico canadense, nascido em Montreal, a 21 de novembro de 1970. É conhecido como membro fundador dos coletivos Godspeed You! Black Emperor e Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra. O poema vocal abaixo, "The Dead Flag Blues", vem do álbum F♯ A♯ ∞ (1997), do Godspeed You! Black Emperor, e o texto é um monólogo que faz parte do roteiro de Menuck para seu Incomplete Movie About Jail, filme no qual vem trabalhando há alguns anos. A mim me parece um dos poems vocais mais fortes da década de 90, com o qual aprendi muito. Sua visão distópica de nossa sociedade seria profética se não demonstrasse já as mazelas do momento em que surgiu. Sempre que ouço os versos iniciais, penso no poema de William Carlos Williams intitulado "To Elsie" (também conhecido como "The pure products of America"), especialmente os últimos versos:
the stifling heat of September
somehow
it seems to destroy us
It is only in isolate flecks that
something
is given off
No one
to witness
and adjust, no one to drive the car
the stifling heat of September
somehow
it seems to destroy us
It is only in isolate flecks that
something
is given off
No one
to witness
and adjust, no one to drive the car
Sim, "ninguém / que testemunhe / e ajuste, ninguém que guie o carro", como no poema de Menuck, "O carro está em chamas e não há condutor ao volante", transcrito abaixo com a tradução de William Zeytounlian para o português.
POEMA DE EFRIM MENUCK
Blues das bandeiras mortas
I.
O carro está em chamas e não há condutor ao volante
E os esgotos se enlameiam de um milhar de suicidas sós
E um vento tenebroso sopra
O governo é corrupto
E nós doidos de drogas
Com o rádio ligado e a cortina levantada
Somos compelidos ao ventre dessa maquina atroz
e a máquina sangra fatalmente
o sol se pôs
os outdoors olham de esguelha
e as bandeiras estão todas mortas no cimo de seus mastros
II.
aconteceu assim:
os prédios caíram um sobre os outros
a mães agarraram os bebês
entre os escombros
puxando-os pelo cabelo
o horizonte estava lindo em chamas
o metal retorcido se alongando ao céu
tudo aquarelado em uma fina névoa laranja
eu disse, “Me beija, você é linda –
esses são mesmo os últimos dias”
você segurou a minha mão
e embrenhamos ali
como em um devaneio
ou numa febre
III.
acordamos numa manhã
e nos sentimos afundar um pouco mais
certamente é o vale da morte
eu abro a carteira
e está cheia de sangue
(tradução de William Zeytounlian)
The Dead Flag Blues
The car is on fire, and there's no driver at the wheel
And the sewers are all muddied with a thousand lonely suicides
And a dark wind blows
The government is corrupt
And we're on so many drugs
With the radio on and the curtains drawn
We're trapped in the belly of this horrible machine
And the machine is bleeding to death
The sun has fallen down
And the billboards are all leering
And the flags are all dead at the top of their poles
It went like this:
The buildings tumbled in on themselves
Mothers clutching babies
Picked through the rubble
And pulled out their hair
The skyline was beautiful on fire
All twisted metal stretching upwards
Everything washed in a thin orange haze
I said, "Kiss me, you're beautiful -
These are truly the last days"
You grabbed my hand
And we fell into it
Like a daydream
Or a fever
We woke up one morning
And fell a little further down
For sure it is the valley of death
I open up my wallet
And it's full of blood
.
.
.
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