Nunca mais alvo
de cupidos
largada em decúbito
lateral dorsal ventral
o corpo submergido
na lama
da Samarco da Vale
do finado Rio Doce
sem vestido
de organdi azul
Tragédia Brasileira
ó pleonasmo
sem o azul
de água ou céu
sou só
outra
sem voz
anônima
negra
em lama
anônima
como outra
lama abaixo
outra anônima
do povo
Hydromedusa tectifera
na mesma lama
morta com seus ovos
morta com meus ovos
eu, fêmea anônima
do povo
Homo sapiens
ela, cágado e fêmea
sem voz
hidromedusa
que não nos
petrifica
os machos
que se dizem
nascidos do barro
mas somos nós
de Gaia adornada
em água limpa
com que doamos
o lago primordial
no qual nadam
todos
os úteros
as lagoas
com fronteiras
nos ventres
nós todas
bestas de carga
nesta República
de pó e hélices
onde água falta
mas não a lama
nossa falta que lama
caídas
nesta guerra
os humanos
contra todos
os anônimos
do povo
Homo sapiens
do povo
lambari
do povo
cágado
vem, hidromedusa!
até que todos
os povos
encontrem-se
graças
a esta guerra
de todos
contra todos
com o povo
minoico
com o povo
olmeca
com o povo
neandertal
com o povo
mamute
e outros
os outros
extintos
.
.
.
Um comentário:
Eis uma poesia contundente, pá lavra que soterra o tempo e o homem em palavras e que na ousadia de suas cobras metafóricas, milimetricamente pensadas, surpreende o humano absorto no espaço e o carcome feito vermes delatores com beleza e harmonia próprias do banquete báquico das profundezas das alma humana. Belo poema! Excelsa poesia!
Postar um comentário