Nos últimos anos, Frederico Klumb tem sido um colaborador em textos e imagens, um correspondente com quem discuto os meandros da prosa, um interlocutor, um amigo. Vocês conhecem o vídeo dele para minha colaboração com Francisco Bley?
Fico sempre feliz de poder ler em primeira mão alguns dos seus textos. Este, abaixo, li há pouco tempo, e pedi permissão a ele para publicar aqui, por ter gostado tanto dos ditos-e-feitos. Klumb terá um conto inédito no primeiro número impresso da revista Peixe-boi. Por ora, deixo vocês com este "Mapa". Num poema inédito que se quer um retrato de Klumb, falo sobre seu "coração de cantor de feira". Está aí, creio, também nesse poema. O poeta e prosador nasceu no Rio de Janeiro em 1990.
Mapa
Frederico Klumb
(p/ M.)
No meu país há essas costas
pedregosas banhadas pela luz
da lua de vitiligo no seu rosto.
No meu país cabelos crescem
livres de coroas (não de espinhos),
e as estrelas são letras
do segredo que chamamos Noite.
No meu país há animais e mentiras
sublimes, o que os gregos
queriam dizer com Destino:
o choro, o cloro, o sal, os temperos,
os gatos e uma amendoeira ordinária
e torta. E há os xaxins, capins, cajás,
caquis, muxoxos e ai meu Deus
dos nossos amigos. Lá, onde o vento
é o terceiro animal invisível, porque
antes veio a luz, e primeiro foi o Verbo.
País doce e terrível, onde a antiga
estrela do Norte é um hipopótamo
e um dragão – dois ilustres cidadãos
da República das Manchas De Pele -
onde se mistura Pelé com
Kamikaze sem medo do desastre.
Onde há brumas, brujas, livros
velhos, senhoras argentinas
bebendo cerveja de canudinho,
canários engaiolados, canalhas
arrependidos e pássaros anônimos
em todas as matas. Um país que canta
cujo Deus maior é o Movimento. Um país
de manhã, pronto a se perder de vista.
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