quinta-feira, 22 de julho de 2021

INDÚSTRIA CULTURAL

 As distrações 
para as famílias do interior
exigem recursos humanos
próprios.

Aqui 
não vêm atuar
os grandes atores,
aqui 
não vêm ler
os grandes poetas,
aqui 
não vêm cantar 
os grandes cantores,
aqui 
não se digna
a interpretações 
a intelligentsia.

Aqui, 
às igrejas evangélicas 
e às academias de ginástica 
pertence a implementação 
do Mens sana in corpore sano.

As visitas à sorveteria
que antes fora uma pizzaria
e antes, uma lanchonete, 
apenas mudam as paredes,
que não trazem 
nem fotografia nem pintura
de tradições centenárias.

O espaço público 
— nem Ágora nem Eclésia —
incita variações 
— agora aos sussurros —
dos ressentimentos velhos,
das irritações pequenas
que se acumulam
e latejam como pústulas.

As frustrações do pai,
as frustrações da mãe,
e assim, em escadinha,
as frustrações nascentes 
da prole toda, em perdas
crescentes.

À mesa 
reina nossa mesma 
falta de assunto da janta
ou o assunto repetido 
à exaustão. As dívidas 
com Deus e com César.

E sim, o silêncio 
sobre os únicos assuntos
que quiçá nos salvassem.
Quem-nos-dera, num instante 
de lucidez repentina,
aguássemos agora
os sorvetes, as pizzas, os lanches 
com lágrimas, esgoelando juntos
na sarjeta. Mas o que diriam
os vizinhos?

Nas capitais
lacrimeja a intelligentsia 
— o povo! o povo! — 
enquanto o mofo e o musgo
cobrem aos poucos 
a nossa não-boca, a nossa não-alma.

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