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domingo, 24 de abril de 2011

A nova canção e vídeo de John Maus, acompanhados de declarações pouco pudicas sobre sua música, voz e o corpo que embrulha sua garganta

John Maus



John Maus é para mim hoje uma das criaturas mais estranhas e atraentes e fascinantes em atividade no negócio de unir palavras e notas musicais. A avalanche de superlativos já deixa claro que sua música (e o corpo de onde ela sai) entusiasma neurônios e músculos e tendões e nervos e mucosas e cavidades esponjosas espalhados (não de forma proporcional) por todo o meu corpo.

Vamos lá, "me diga, com frio na barriga", quantas vezes você ouviu, em sua vida, alguém ter sua ocupação descrita como "compositor e professor de filosofia política na Universidade do Havaí"?! Alguém referir-se musicalmente a filmes-catástrofe de Cronenberg e passagens de textos de Jacques Rancière em arpeggios que parecem subir róseos? Pelas maquiagens de Quentin Crisp, eu confesso que estes sons realmente me pegam e me jogam na parede. Uia que voz gargantosa. E que pescoço a embrulha!

As canções são estranhas e irônicas, como em "Maniac" e "Rights for gays", e, se PJ Harvey é a senhora da tristeza raivosa, é como se John Maus cantasse uma tristeza que ri de si mesma. Esta é uma leitura pessoal.

O compositor por algum tempo esteve associado a outra criatura algo genial e esquisitíssima, o compositor Ariel Pink. A paixão dos dois pelo lo-fi é já quase marca registrada. Os dois colaboraram nos álbuns Underground (Vinyl International, 1999) e Loverboy (Ballbearings Pinatas, 2002).

O primeiro álbum solo de John Maus chama-se, em perfeito estilo lo-fi simples, Songs (Upset the Rhythm, 2006). A ele seguiu-se Love is Real (Upset the Rhythm, 2007). O rapaz é por vezes deliciosamente melodramático e camp, como seu colega Ariel Pink. Isso irrita alguns, mas aqui entre meus amigos pelo menos John Maus já adquiriu status heróico. Eu ia dizer cult, mas a verdade é que seu status é de herói. Cult é para os que chegam ligeiramente tarde, a quem as coisas que amam jamais parecem realmente pertencer. Quem ama como se objeto e sujeito se misturassem, pertencendo-se mutuamente, não cultua: heroiciza. Não posso dizer esta palavra, herói, sem pensar em um dos meus poemas favoritos de todos os tempos e línguas e geografias, "The hero", da Marianne Moore.


............"Where there is personal liking we go.
............Where the ground is sour; where there are
............weeds of beanstalk height, snakes' hypodermic teeth, or
............the wind brings the 'scarebabe voice'
............from the neglected yew set with
............the semi-precious cat's eyes of the owl --
............awake, asleep, 'raised ears extended to fine points', and so
............on -- love won't grow.

............We do not like some things, and the hero
............doesn't; deviating head-stones
............and uncertainty; going where one does not wish
............to go; suffering and not
............saying so; standing and listening where something
............is hiding. (...)
"

.........................excerto de "The hero", de Marianne Moore.


Sim, "where there is personal liking we go", e nós não gostamos de certas coisas, nem gosta delas o herói, especialmente de sofrer e calar-se, não o dizer. John Maus o diz e o diz e o diz.

O selo Upset the Rhythm acaba de anunciar para junho o lançamento de seu terceiro álbum, maravilhosamente intitulado We Must Become The Pitiless Censors Of Ourselves. A canção com vídeo "Believer" é a primeira a ser lançada aos leões e ovelhas.



"Believer", de John Maus, do álbum We Must Become The Pitiless Censors Of Ourselves
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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Antologias, excertos e outros pedaços

Quando editada de forma inteligente, uma antologia pode ser um ato crítico dos mais estimulantes. Em geral, minha atitude, quando se trata da antologia de um único poeta, é a mesma que tenho com um Best Of de certas bandas: funciona se estivermos interessados em poemas específicos, assim como para nos familiarizarmos com o trabalho de um poeta, coletivo, banda ou grupo. Mas nada supera o prazer de ler livros individuais dos poetas que amamos ou escutar os álbuns específicos dos coletivos e bandas favoritas.

Certos poemas e canções funcionam e fisgam em praticamente qualquer contexto. Tenho uma relação específica com vários, mesmo quando primeiro descobertos soltos em seleções, como "Janela do caos", de Murilo Mendes, ou uma canção como "Happiness is a warm gun", dos Beatles. Mas é outro prazer chegar a "Janela do Caos" ao fim de Poesia Liberdade (1947), assim como o Álbum Branco (1968) é uma experiência única. Mesmo os livros que parecem apenas a reunião de poemas esparsos têm um apelo de conjunto, como Mundo Enigma (1942), um livro pouco citado quando se fala de Murilo Mendes, mas que é dos meus favoritos. Jack Spicer chamava poemas individuais de "one night stands", passando a escrever sempre em série.

Quando se trata de um poeta nacional, é remediável. Encontra-se com facilidade o livro em que há um poema descoberto em antologia. Mas, no caso de poetas estrangeiros, a situação é mais difícil. Raramente se traduz e publica um livro específico e individual de um poeta estrangeiro no Brasil. É mais "comercializável" apresentar uma seleção, um "apanhado geral" que nos apresenta ao poeta. É uma pena que raramente passe disso. Acho que perdemos muito.

Houve livros de poetas estrangeiros que tiveram sobre mim um grande impacto. Um exemplo que me vem à mente foi a leitura que fiz, aos 20 anos, do idolatrado salva salve L´allegria, de Giuseppe Ungaretti. Se houvesse lido apenas alguns daqueles poemas em meio a outros poemas esparsos do italiano, creio que o impacto teria sido bem menor. Para ficar entre italianos, foi muito bom descobrir os poemas de Eugenio Montale na antologia que Geraldo Holanda Cavalcanti preparou e traduziu, mas poucas vezes aprendi tanto sobre poesia em um único livro como aprendi lendo Ossi di seppia, o livro todo de estréia de Montale.

Tenho lido esta semana, em tradução para o alemão, dois livros independentes de poetas que, creio, são inéditos no Brasil: o estupendo Herr Cogito (Senhor Cogito), de Zbigniew Herbert (Polônia, 1924 - 1998), e o lindo lindo Monovassiá, de Yannis Ritsos (Grécia, 1909 - 1990). Não sei de traduções de Ritsos no Brasil. Herbert foi traduzido por Aleksandar Jovanovic. Há um poema maravilhoso de Herbert, por exemplo, em Céu Vazio: 63 poetas eslavos (São Paulo: Hucitec, 1996), intitulado "Relato de uma cidade sitiada". É impossível ler aquele poema e não querer ler tudo o que Zbigniew Herbert escreveu.


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Parto amanhã de manhã para Heidelberg, onde participo de um festival. Apresento-me como DJ na sexta à noite, e faço uma de minhas leituras/performances vídeo-textuais no sábado. Na mesma noite, lê o jovem poeta e romancista americano Travis Jeppesen e eu mostro, a pedido do curador, uma seleção de vídeos de outros jovens artistas visuais, como Niklas Goldbach e Nils Linscheidt, assim como dos veteranos Bruce LaBruce e do coletivo Die Tödliche Doris.


(Die Tödliche Doris, "Chöre & Soli")

A noite é encerrada com uma performance de Ariel Pink. Estou entusiasmado para conhecê-lo pessoalmente, gosto muito do trabalho do rapaz.


(Ariel Pink, "Are you going to look after my boys?")

§

É sempre ótimo abrir a caixa do correio e encontrar poemas. Recebi hoje poemas-cartoons recentes de Zuca Sardan e o novo livro de Carlos Augusto Lima, o bonito e esperto Manual de acrobacias n. 1 (Florianópolis: Editora da Casa, 2009).

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