domingo, 11 de outubro de 2009

Vídeo; excerto de performance; "Six songs of causality";


(Ricardo Domeneck, "Six songs of causality", textos permutativos em performance, Espai d´Art Contemporani de Castelló, Espanha, 31 de julho de 2009.)


Compus os textos permutativos "Six songs of causality" em 2006. Por esta época, estava em pleno processo de colaboração com o jovem artista visual alemão Phillip Zach, quando passei a escrever meus primeiros textos em inglês. A decisão era simplesmente prática: para poder colaborar com artistas ou poetas europeus, onde vivia, em muitos casos era impossível usar o português, a não ser que decidisse traduzir os textos mais tarde. Tomei a decisão de que seria mais interessante experimentar a composição dos textos diretamente em inglês. A colaboração com Zach geraria a primeira série, intitulada "How to breathe within photographs", com 11 textos meus e 11 fotografias do alemão.

As "Six songs of causality" nasceram do desejo de experimentar com a permutação de sentido dentro de um mesmo texto, algo que a língua inglesa torna especialmente frutífero, passando pela proposição de Wittgenstein de que "o significado de uma palavra é seu uso na língua", com um conceito que eu chamaria de "significado flutuante", a partir da relação contextual entre significantes.

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O Romantismo, com suas obsessões nacionalistas (não apenas no Brasil), gerou nosso conceito de "literatura nacional", baseada, em muitos casos, em uma estreita noção de pureza de uma língua oficial. No Brasil, isso se torna ainda mais complicado pela influência massiva e unívoca da crítica de Antonio Candido e seu nacionalismo por sistematização de uma identidade.

Entre os medievais, era bastante comum que poetas compusessem em várias línguas, incluindo o famoso descort (leia AAQQUUII) de Raimbaut de Vaqueiras, em que o trovador usa cinco línguas (provençal, italiano, francês, gascão e galego), ou, mais próximos de nossa "tradição" (aquela que admite uma única língua), os textos de Gil Vicente em castelhano.

No século XX, começa a transformar-se a atitude crítica sobre poetas e escritores exilados que mudaram de língua. No Brasil, há o caso especial de Murilo Mendes, que viveu duas décadas na Itália e escreveu um livro em francês e um belo livro em italiano. Manuel Bandeira tem alguns poucos poemas em francês, assim como T.S. Eliot. Ezra Pound escreveu dois dos "cantares" em italiano.

Alguns poetas, no entanto, fizeram disso sua pesquisa primordial. Um caso bastante especial é o do romeno Ghérasim Luca (entre tantos romenos que escreveram em francês, como Emil Cioran e Mircea Eliade), que tematizaria o desterro e faria dele sua "língua". Entre os vivos, poderíamos citar a "alemã" Rosmarie Waldrop, que emigrou para os Estados Unidos e passou a escrever em inglês. Em uma entrevista, Waldrop declarou sentir-se deslocada tanto na Alemanha como nos Estados Unidos, dizendo que seus fonemas embaralharam-se ao cruzar o Atlântico e que ela falava os dois idiomas com um sotaque. Segundo ela, isto a salvava da ilusão de crer-se dominando qualquer língua, de ser "a master of language". Como "estrangeira", impedida de considerar meramente óbvia e natural a linguagem ao seu redor, com a qual os "outros" se comunicavam, incluindo seu marido, o poeta Keith Waldrop, a escritora e poeta Rosmarie Waldrop adota a língua do seu novo país e passa também a fazer do princípio wittgensteiniano do "significado da palavra como o uso que se faz dela na língua" seu princípio poético formal mais determinante.

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Os textos independentes das "Six songs of causality" foram publicados pela primeira vez no número 09 da revista eletrônica (AAQQUUII) Green Integer Review, em outubro de 2007, editada por Douglas Messerli.

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