sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Das canções favoritas: "Smells like happiness", de Joel Gibb, líder da banda canadense The Hidden Cameras

Joel Gibb é basicamente o único membro permanente da banda canadense The Hidden Cameras, para a qual a cada álbum um grande número de amigos músicos é convidado a participar. Joel vive há alguns anos em Berlim, circulamos pelos mesmos becos, tenho o prazer de contá-lo entre os amigos. Ele sempre me deixa contente quando chega para mim enquanto discoteco, seja na minha festa à quartas-feiras ou outro clube berlinense qualquer, e pede: "Just play Kate Bush, darling."

Foto minha com Joel numa quarta-feira qualquer de 2009, no meu evento semanal.


Em uma entrevista, quando lhe pediram que descrevessem sua música, Joel respondeu: "gay church folk music".

"Smells like happiness" é a minha canção favorita dentre as suas, e uma das minhas all-time-favorites. Lembro-me que o próprio título, de cara, já havia me chamado a atenção quando comprei o álbum Smell Of Our Own (2003), e pulei direto para a faixa 5 para escutá-la. Conheço poucas canções que descrevam tão bem a vida subterrânea de homossexuais em grandes cidades nas últimas décadas.



"Smells like happiness", versão oficial no álbum The Smell of Our Own (2003), da banda The Hidden Cameras.

O texto, em uma espécie de prosa ou longo verso whitmaniano, descreve cenas de inferninho viado, com as drogas e as práticas de fetiche sexual. Para mim, o longo verso "I feed my own face when I soon crave a taste of the neck of a boy who wears eau
de toilette and shaves every day and behaves well in department stores" é uma das coisas mais familiares e bonitas que já ouvi da boca de um homem.


Smells like happiness
Joel Gibb (The Hidden Cameras)

Happy we are when we choose to wear the blindfold
And mark our own day with a parade and a song

In our minds our fathers have died and we realize that cities have clubs and we like
to get drunk and high from the smells we inhale from dirty wells and the mouth of a
boy who smokes cigarettes

Happiness has a smell I inhale like a drug done in a darkened hall or a bathroom
stall with a friend or a man with a hard-on
I feed my own face when I soon crave a taste of the neck of a boy who wears eau
de toilette and shaves every day and behaves well in department stores

As well, it is the smell of old cum on the rug men walk their dirty feet on and the
sweat from the chest of a man in a leather uniform
Happy are we when we choose to wear the blindfold and mark our own place with
the smell of our own



§

Abaixo, vocês podem ver uma performance ao ar livre da canção, com Joel Gibb à frente, e logo em seguida minha tradução para o texto do poema lírico.

Joel Gibb e The Hidden cameras cantando "Smell like hapinness" ao ar livre.


Cheira a felicidade
tradução de Ricardo Domeneck


Felizes somos nós quando escolhemos vendar os olhos
E marcamos nosso dia com um desfile e uma canção

Em nossas mentes nossos patriarcas estão mortos e nós percebemos que as cidades têm clubes e nós gostamos de ficar bêbados e altos com os cheiros que inalamos em poços imundos e da boca de um menino que fuma cigarros

A felicidade tem um cheiro que inalo como uma droga produzida num salão escurecido ou numa cabine de banheiro com um amigo ou um homem com uma ereção
Eu alimento minha própria cara quando tiro um gosto do pescoço de um garoto que usa eau de toilette e se barbeia todo dia e se comporta bem em lojas de departamentos

Também é o cheiro de esperma velho no tapete sobre o qual homens caminham com pés sujos e o suor no tórax de um homem com uniforme de couro
Felizes somos nós quando escolhemos vendar nossos olhos e demarcar nosso próprio território com cheiros dos nossos


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Um comentário:

Sebastião Ribeiro disse...

Bom conhecer uma canção assim aqui, valeu Ricardo por compartilhá-la conosco. Abraços.

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