terça-feira, 8 de novembro de 2011

Minha primeira jornada no Europália

La poésie brésilienne aujourd´hui (Liège: le Cormier, 2011)


Pretendia escrever sobre cada uma das noites em que estive e me apresentei aqui na Bélgica, mas foi tudo um verdadeiro turbilhão. Tampouco poderei agora escrever largamente sobre esta minha primeira passagem pelo Europália, em que fiz três apresentações: duas de minhas performances vídeo-textuais em Antuérpia, e uma leitura dos meus poemas em Bruxelas (onde estou neste momento), ao lado de Paula Glenadel e do tradutor para o francês, Patrick Quillier, como lançamento da antologia La poésie brésilienne aujourd´dui (Liège: Le Cormier, 2011). Os tradutores para o holandês, Bart Vonck e Harrie Lemmens, estavam também presentes, mas infelizmente a antologia em holandês, a mais longa, trazendo 25 poetas brasileiros, ficará pronta apenas em uma semana. A antologia francófona traz 15 poetas, todos traduzidos por Patrick Quillier, que é nada mais nada menos que o tradutor francês de Fernando Pessoa e Herberto Helder, entre outros portugueses. Os poetas incluídos são, em ordem alfabética:


Ricardo Aleixo
Francisco Alvim
Arnaldo Antunes
Carlito Azevedo
Paulo Henriques Britto
Augusto de Campos
Ricardo Domeneck
Marília Garcia
Paula Glenadel
Júlio Castañon Guimarães
Lu Menezes
Nuno Ramos
Cláudia Roquette-Pinto
Alice Ruiz
Zuca Sardan
Marcos Siscar


A edição é muito elegante, à moda antiga, páginas unidas à espera de uma faca.

Em Antuérpia, cheguei na quinta-feira, junto com Lourenço Mutarelli vindo de São Paulo, e foi um prazer enorme conhecê-lo. Outros encontros especiais ocorreram ali: pude conhecer meu grande herói Tom Zé, que se apresentou na noite de sexta-feira; conheci o maravilhoso cavalheiro que é Zuca Sardan, com quem me correspondia há muito tempo mas, apesar de morarmos ambos na Alemanha, ainda não havíamos tido a chance de nos conhecer pessoalmente; tive conversas ótimas com Paula Glenadel; tive ainda o prazer de conhecer o antropólogo, cientista político e escritor Luiz Eduardo Soares, autor de Elite da Tropa (2006), que daria origem ao filme – com o qual confesso ter muitos problemas –, mas sua intervenção no debate durante o Europalia me pareceu uma das falas mais lúcidas que ouvi da boca de um brasileiro há muito, muito tempo.

Na sexta-feira, apesar de uns probleminhas técnicos, fiz uma apresentação para uma sala cheia de gente jovem e receptiva, mostrando as peças "This is the voice/Esta é a voz", "Mula", "Eustachian Tube in Staccato" e terminando com "Six songs of causality". No sábado, com os problemas técnicos resolvidos, fiz minha segunda apresentação para uma sala lotada, desta vez trocando a peça "This is the voice" por minha colagem-apropriação de Góngora, as "Entrañas de las Soledades".

Uma vez em Bruxelas, pude rever minha eterna crush e queda abismática, Jey (que menciono no meu poema "O acordeonista da Catedral de Bruxelas", que aliás está se provando meu hit nesta viagem e na antologia), com quem passei horas lindas e que revigoraram minha alma em frangalhos.

Ontem aconteceu a leitura na livraria Passa Porta, com uma moderadora boa e uma conversa ótima com os tradutores. Depois, ocorreu a homenagem a Augusto de Campos em uma das lindas salas do Hôtel de Ville de Bruxelas, em que Augusto e seu filho Cid Campos apresentaram o concerto "Poesia É Risco", com participações especiais de Antonio Cicero, Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhotto. Fiquei particularmente emocionado com a performance de Augusto e Adriana da canção "Canso do'ill mot son plan e prim", em provençal e português, com a melodia original do próprio Arnaut Daniel. Vocês sabem como me sinto em relação à poesia medieval.

Conheci ainda pela primeira vez a crítica e curadora da parte literária do Europália, Flora Süssekind. Somente seu trabalho de recuperação do grande poeta que foi Sapateiro Silva já bastaria para colocá-la entre os críticos que têm o meu respeito hoje no Brasil, mas ela é ainda uma das poucas a articular com inteligência a crítica formal a uma meditação sobre a historicidade do fazer poético, seja ele o dos poetas mortos ou o dos vivos.

Volto hoje a Berlim. Retorno à Bélgica no final do mês, para minha segunda jornada no Europália.

O turbilhão segue.

A propósito: estarei no Brasil entre o fim de dezembro e o fim de janeiro. Quero rever a família, os amigos e espero poder fazer muitas leituras e performances.

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